sexta-feira, setembro 24, 2004

A Antiguidade dos Administradores da Galp

A informação esta noite veiculada num canal televisivo de que dois administradores da Galp Energia, nomeados para os respectivos postos há 2 anos, possuem contratos de trabalho onde consta a informação de que têm um vínculo contratual com a citada empresa há 15 anos (!!!), isto é, ainda a Galp Energia não existia e estes dois excelsos administradores já deixavam sangue, suor e lágrimas em prol da mesma, configura, para ser comedido, uma autêntica canalhice, própria de indivíduos sem quaisquer escrúpulos e vergonha.
Ainda segundo a notícia, a administração da empresa admitiu a veracidade da informação, mas escusou-se a comentá-la, uma vez que, na sua opinião, não tinha a obrigação de o fazer.
Dito isto, realmente parece que o descaramento não tem limites para a administração da Galp Energia. Não lhe bastou ter sido recentemente adjectivada de pouco zelosa e desleixada no estabelecimento de directrizes atinentes ao cumprimento da normas de segurança no seu exercício de actividade, na sequência do gravoso acidente da refinaria de Leça. Pois bem, agora arroga-se no direito de não justificar o favorecimento ilícito e infame destes seus dois administradores, tendo em vista precavê-los aquando das suas saídas com faustosas indemnizações por tempo de serviço e no encurtamento do seu tempo de descontos para efeitos de reforma.
Vai por caminhos muito lúgubres e pantanosos a ética de quem está à frente desta empresa maioritariamente financiada pelo erário público. É mais uma entidade onde a desfaçatez e a impunidade correm, pelos vistos, lado a lado com a incompetência e a incúria. Até quando, gostava eu de saber...



quarta-feira, setembro 22, 2004

O maravilhoso mundo do golfe

Realizou-se neste último fim-de-semana uma competição de golfe chamada Ryder Cup. Para quem não saiba bem que desporto é este avanço com duas ilustrações. O golfe é aquela modalidade que está a transformar a nossa paisagem rural num conjunto de terrenos arrelvados com 18 buracos assinalados por um bandeira, povoados por uma catrefada de ingleses e alemães gordos, de meias brancas e uns tacos na mão. O golfe também é, ao mesmo tempo, o desporto das novas elites endinheiradas portuguesas, especialmente daqueles novos ricos que resolvem começar a praticar a coisa aos sessenta anos, com os sapatinhos do golfe, os bonezinhos como aparecem nas revistas, as camisolinhas da Lacoste, e uma falta de jeito olímpica, habituados que estão à sueca e ao bilhar às três tabelas. Mas adiante.
A Ryder Cup realiza-se de dois em dois anos e opõe uma equipa de golfistas norte-americanos a uma equipa de golfistas europeus. Este ano os europeus, entre os quais se encontravam uns quantos britânicos, deram uma cabazada aos americanos. Em face disto, a BBC resolveu questionar os seus espectadores com a seguinte pergunta: depois da vitória europeia na Ryder Cup ficou com orgulho em ser europeu? A pergunta, relativamente pateta, dá azo a inúmeras leituras extra-desportivas. 39% daqueles que responderam afirmaram que sim, que sentem orgulho em ser europeus, mas 61% afirmou que não. As análises adiantam que, de um ponto de vista progressista, os números nem são maus. O nacionalismo em Inglaterra tem-se tornado uma realidade mais visível desde que o momento em que a União Europeia começou a ganhar uma forma definitiva. A libra, a rainha, as recordações do império, etc., são símbolos da singularidade britânica que influenciam as atitudes dos ingleses perante a Europa: o outro mais próximo. A Europa só parece atraente no contexto político internacional, isto é, a maior parte dos ingleses revê-se mais na opinião política dos governos da «velha Europa» no que na posição de Blair. Mas a decisão sobre o futuro da Inglaterra, especialmente ao que respeita a economia e o futuro da libra, deve estar dependente de outros processos: resistirá o nacionalismo à pressão económica, resistirá a libra ao enorme mercado da zona euro? A ver.

O erro da raça

Os jornais britânicos andam muito preocupados com o facto dos estudantes ingleses de origem africana continuarem a apresentar piores resultados escolares que os alunos dos outros grupos étnicos. Incapazes de afirmar que se trata de uma qualquer tendência natural ou genética, seria politicamente incorrecto, tentam encontrar uma causa que explique o fenómeno. Com base em alguns relatórios elaborados por especialistas chegaram à conclusão que o problema são os professores brancos. O ensino é dominado por professores brancos descrentes das capacidades dos alunos de origem africana. Para estes últimos, tratados diferenciadamente, a vida torna-se um inferno. Vamos admitir que, em certa medida, a discriminação efectuada pelos professores brancos é responsável pelo insucesso dos alunos negros. Mas vamos imaginar que, por artes mágicas, eliminávamos o factor discriminatório, e que, mesmo assim, os alunos de origem africana continuavam a ser os piores. Perante tal cenário, como é que os políticos e os jornais iriam explicar o fenómeno?
A insistência de tratar as perfomances escolares com base na questão da raça é algo bastante perigoso. Bem sei que a palavra classe está fora de moda mas não vejo outra forma de lidar com o assunto. As teorias da sociologia da educação sobre a função de reprodução social inerente ao sistema educativo já há muito saíram do gueto académico. Sabemos, numa apreciação muito genérica, que a linguagem da escola favorece as classes médias. O que se passa, pelo mesmo na área de Londres, é que as classes baixas estão fortemente etnicizadas. Para os indivíduos de origem africana o handicap da origem de classe junta-se a outros problemas relacionados com a etnia, nomeadamente as línguas faladas em casa pelas famílias, quase sempre formas autóctones, jamaicanas, nigerianas, ganesas, etc, do inglês. Noutro sentido, as famílias de origem africana, e os seus filhos, rapidamente percebem que o seu futuro não vai em grande medida depender das qualificações escolares. Eles vão ocupar os lugar mais baixos da estrutura profissional e cada ano perdido na escola é menos dinheiro a entrar em casa.

A sensibilidade burguesa

Várias televisões do mundo transmitiram há poucos dias imagens dos protestos dos caçadores ingleses em frente ao Parlamento britânico. O órgão legislativo deliberou proibir a caça à raposa, tradição centenária por terras de sua majestade. Milhares de indivíduos rumaram a Londres demonstrando a sua ira em relação à decisão governamental. Alguns dos argumentos adiantados para justificar o protesto sugeriam que se tratava de mais uma luta entre o campo e a cidade. As classes médias urbanas e os seus representantes políticos não percebem os modos de vida do campo obrigando todo o país a sujeitar-se à sua sensibilidade particular. Para quem não esteja por dentro do contexto da caça em Inglaterra o argumento poderia fazer algum sentido.
A caça foi desde sempre uma forma de sobrevivência. Num contexto de necessidade, falar em direitos dos animais é absurdo. Sabemos, infelizmente, que os defensores dos direitos dos animais tendem muitas vezes a esquecer os direitos das pessoas. Uma inversão lamentável. O que se passa em Inglaterra, porém, nada tem a ver com um contexto de necessidade. A caça à raposa é um dos mais evidentes resquícios de uma mentalidade aristocrata de uma Inglaterra serôdia. O ritual que acompanha a caça à raposa é, sem dúvida, uma demonstração de posição de classe. Homens montados a rigor e dezenas de cães a bater o terreno e a perseguir implacavelmente as raposas. A figura literária do Robin dos Bosques representa, em certa medida, a luta pela democratização da caça num contexto em que os senhores feudais monopolizavam as terras. Os descendentes desses mesmos senhores pretendem, sob a capa da tradição e da cultura, preservar os seus rituais distintivos. O parlamento inglês decidiu acabar com isto.
É simplista, no entanto, afirmar que a questão da caça à raposa é um reflexo da oposição entre o campo e a cidade. Talvez seja mais adequado considerá-la como mais uma etapa da luta da burguesia contra a aristocracia. A sensibilidade das classes médias urbanas, o grande estrato de uma concepção alargada de burguesia, tende a impor a sua lei, seja em relação às tradições aristocráticas, seja em relação às tradições operárias. O processo é evidente num conjunto largo de fenómenos sociais: hábitos de alimentação, de consumo, defesa dos direitos dos animais, consciência ecológica, a importância dada à cultura, a defesa da diversidade das opções sexuais, a defesa dos direitos das crianças, etc. Esta sensibilidade burguesa é, porém, quase sempre muito estreita. É com dificuldade que a encontramos, por exemplo, na luta pelos direitos de saúde, de educação ou do trabalho. A existência de hospitais privados, escolas privadas, empregos assegurados e bem remunerados, afasta estes grupos de preocupações tão comezinhas. Sabemos bem que a maior parte dos nossos políticos representa os interesses desta sensibilidade social.

As Grandes Barracas

Após a débacle monumental em que se transformou, este ano, o concurso de colocação dos professores, o Ministério da Educação encontrou finalmente uma solução alternativa à empresa Machete & Couto dos Santos, vulgo Compta, para a resolução do imbróglio, noutra dupla, aquela formada por Dias da Cunha & Peseiro.
Numa solução bem ponderada e reflectida, como é apanágio de Santana Lopes, o Governo chegou à conclusão de que este duo é, à partida, através do primeiro componente, garante da desculpabilização dos erros próprios que surgirem na ordenação das listas, ao invocar o sistema educativo como o responsável pela situação, e uma voz autoritária capaz de ordenar o silêncio de todos os portugueses que acometam de críticas o processo de colocação, e, através do segundo elemento, certeza absoluta de uma ordenação e colocação de professores nas mais originais posições, seja por intermédio da táctica do losango, da táctica W ou da táctica do pirilau.
Deste modo o Governo espera que, através da dupla Dias da Cunha & Peseiro, o impasse da colocação dos professores seja resolutamente ultrapassado e o ano lectivo possa começar rapidamente e em força.

quinta-feira, setembro 16, 2004

Shôrss Agentess

Dois agentes da PSP de Viseu, um deles graduado, "aconselharam", anteontem, os responsáveis por uma livraria a retirarem da montra um livro com um título eventualmente polémico: "As mulheres não gostam de foder". O ensaio sexual em banda desenhada, da autoria do espanhol Alvarez Rabo, encontrava-se exposto na montra da loja que as Edições Polvo abriram, há cerca de dois meses, no shopping Ícaro, no centro da cidade.

"Estiveram da parte de fora a ler os títulos. Depois entraram e pediram para ver o livro. Vinham fardados. No princípio, julguei que estavam aqui como clientes. Mas não. Fiquei espantado quando o graduado, em jeito de aviso, aconselhou a retirar a obra da montra", explicou ontem, Alexandre de Melo, colaborador da livraria.

Os agentes da autoridade terão justificado o aviso ao livreiro, com "várias" queixas recebidas na PSP. "Com a maior correcção, explicaram-me que Viseu é uma cidade muito especial e que aquele livro não ficava bem na montra", lembra Alexandre Melo, que afirma ter argumentado que a editora e a obra em causa "eram absolutamente legais".

Fonte: Viseu Online

terça-feira, setembro 14, 2004

Condutores de Domingo

Dadas as estatísticas cruéis da sinistralidade rodoviária, a velocidade excessiva, as transgressões grosseiras do código da estrada, o mau estado de conservação das estradas e o sono, têm estado sempre presentes nos discursos do apuramento das funestas causas do negro panorama de acidentes em Portugal, o qual não tem fim à vista.
A todos estes comprovados motivos, eu acrescentaria, por elementar justiça, um outro, que, ou muito me engano eu ou já tem provocado bastantes acidentes pelo desespero que provoca, mesmo nos condutores com um histórico de cadastro sem infracções, levando-os à prática de manobras arriscadas para se apartarem do perigo: os Condutores de Domingo.
Os Condutores de Domingo pegam na sua carripana ao domingo, geralmente bem conservada depois de uma semana de pousio na garagem, com esposa, descendentes e sogros a acompanhar, e lançam-se no alcatrão determinados a nunca exceder os 30 ou 40km/h, no máximo, e com isso conseguirem igualar a média de qualquer cicloturista.
Abnegados e inflexíveis, é vê-los agruparem-se aos magotes depois do almoço para se passearem descontraidamente, frequentemente com os braços de fora dos vidros, apontando incessantemente para todas as direcções “Olhem aquela casa salmão. Bonita, mas acho que as caves são pouco altas”; “Vejam, vejam aqui à direita, aquele relvado com macieiras de bravo de elmolfe!”.
Demitindo-se das filas de quilómetros que a sua vagarosidade assumida acarreta, começam por levar o mais cumpridor das regras de trânsito à apoquentação, depois à ânsia, a seguir à aflição e, por fim, ao desespero total (que está na origem da tentativa enfurecida de ultrapassar colericamente esta sub-espécie das nossas estradas para poder prosseguir na estrada com uma mudança superior à 2).
A solução, e depreendendo que tais condutores são encartados, alguns há 40 ou 50 anos, e por isso têm o direito de conduzir, está em construir um ou dois circuitos, não de velocidade, mas sim de vagarosidade, para poderem livremente dar azo aos seus ímpetos obstrucionistas.

segunda-feira, setembro 13, 2004

Evidentemente mediterrânico

Esplanada do café Estrela. Selecção nacional na Letónia. Sagres a quinhentos paus, bifanas e saladas de polvo. Aproxima-se um velho que me pede para se sentar à minha mesa. Sentou-se. Esperou dois minutos até encontrar o meu olhar, até ai perdido nos movimentos televisionados dos pupilos de Scolari, e pergunta-me de onde sou. Respondo e ele diz: eu também sou do mediterrâneo. Era sírio. Faz sentido.

O nosso homem em Londres

Pensaram que o indivíduo se ia calar? Pensaram que ia transformar os seus modos por respeito ao país onde trabalha, que ia deixar de ser malcriado e arrogante, que ia começar a sorrir? Pensaram mal. José Mourinho continua igual, sem tirar nem pôr. Os jornais ingleses adoram-no porque ele é notícia. Divertem-se com as suas baboseiras e esperam gulosos que Mourinho se espalhe para o ridicularizar implacavelmente. Já passaram cinco semanas e continuam à espera. Têm a certeza, no entanto, que o momento virá. Mourinho diz mal dos árbitros, não é polido com os adversários, diz mal dos métodos de treino em Inglaterra e chegou a insinuar, dirigindo-se ao mundo britânico, que só recebia lições de quem ganhava mais trofeus internacionais do que ele. Há alguém por aí que tenha ganho mais do que eu? Depois de afirmar que antes dele só Deus, o treinador de Setúbal afirmou que só o todo poderoso lhe tira o sono, sugerindo que os media ingleses lhe eram perfeitamente indiferentes. O homem já comprou mil guerras, mas é extraordinário o modo como pretende ganhá-las uma a uma.
Mourinho consegue, como todos sabemos, ser bastante irritante. Mas como estas coisas têm sempre que ser avaliadas dentro do seu próprio contexto, o nosso homem em Londres têm alguma graça. Habituados à emigração portuguesa da cabeça vergada, do trabalhador pouco instruído e economicamente debilitado vemos de repente aterrar na sobranceira capital do que foi o maior império do mundo um indivíduo obviamente latino, com um ar chateado, um ordenado milionário e uma confiança do tamanho do universo que o leva, com a maior das irresponsabilidades, a disparar para todo o lado enfrentando qualquer adversário, independendemente da sua origem, história, tradição, fleuma, etc. Continuamos à espera do momento da queda de Mourinho.

quarta-feira, setembro 08, 2004

O Guerreiro

O Guerreiro é o antigo comandante do exército privado de um senhor feudal, numa Índia remota e cercada pelo deserto. Líder feroz e impiedoso ao serviço da extorsão da vida e das colheitas alimentares das aldeias sob o jugo inclemente do senhor, rebela-se, a certa altura, contra este ao abandonar o seu posto para regressar à aldeia natal. Imediatamente perseguido pelos sequazes do suserano, que se considerava afrontado na sua honra, vê o filho ser degolado às mãos dos anteriores companheiros de guerra, logo no início da sua viagem de retorno primordial.
Por entre paisagens desérticas e montanhas enregeladas, a viagem de retorno torna-se a partir desse momento um ritual da tentativa de expiação de antigos pecados, sempre presentes, seja pela activação espontânea da memória seja pelo acompanhamento inseparável de um descendente das suas inúmeras vítimas, símbolo do passado, ou pela repulsa da sábia anciã que busca as águas sagradas, no seu auxílio motor.
Amargurado pela sucessão de recordações, vagarosamente se arrasta sob tempestades de areia ou de areia, numa absoluta resignação aos desígnios providenciais, até chegar a ser encontrado pelo ambicioso antigo coadjuvante de epopeias de destruição. Abdicando da vingança imediata, coloca-se sob o alcance do punhal do sicário, até que o seu jovem companheiro de viagem, sombra do seu passado maldito, lhe salva a vida.
Notável do ponto de visto do enquadramento natural, o Guerreiro é uma metáfora singular do arrependimento e da busca de perdão.





segunda-feira, setembro 06, 2004

Queremos mesmo que Bush se vá embora?

A questão parece estranha, mas confesso que não conheço a resposta. O problema nem passa pelo argumento de que Bush e Kerry são iguais e que republicanos e democratas representam, cada qual à sua maneira, a América dos interesses. Se esta última afirmação é no geral verdadeira é justo afirmar que Bush e Kerry não são totalmente iguais. Bush é uma versão mais rude, violenta e perigosa de Reagan. Bush é a prova que a democracia pode transformar-se numa completa aberração, uma retórica dirigida a autênticos mentecaptos, um simplificação absoluta das ideias, uma prática maniqueista primária, manipulatória e, como se pode observar, criminosa e assassina. Neste sentido, Bush é pior, talvez não muito pior, mas efectivamente pior. Para o povo americano é melhor que Kerry ganhe. Com Kerry, não que dele se esperem maravilhas, os direitos sociais vão aguentar-se e a economia talvez cresça, à semelhança do que sucedeu com Clinton.

Mas noutro sentido, talvez seja melhor que Bush ganhe. A consciencialização política de largas camadas da população do mundo, especialmente aquelas que mais afastadas estão da vida cívica e política, deve muito ao presidente Bush. Os seus modos básicos chegam tão rapidamente aos seus apoiantes como às pessoas que acham a política algo esotérico e distante, coisa de especialistas. Quantas pessoas passaram a ter opinião política desde que Bush apareceu? Quantas pessoas se juntaram a manifestações porque o alvo era George W. Bush e a política imperialista americana. Os movimentos sociais na Europa e no Mundo ganharam muito com Bush, apesar de, por vezes, de forma errada, se confundir a política americana com o povo americano. Queremos mesmo que Bush se vá embora?

O Trabalho no mundo

1) O Guardian publicou, na sua edição do último dia dois de Setembro, os resultados de um relatório do International Labour Office sobre o universo laboral. Noventa países foram colocados numa escala segundo vários critérios: salário, representação sindical, segurança do posto de trabalho, segurança no trabalho, direitos de saúde e segurança social, entre outros. Os resultados, no geral, não são muito surpreendentes. Em primeiro lugar a Suécia, depois a Finlândia, a Noruega, a Dinamarca, a Holanda, a Bélgica, a França, o Luxemburgo, a Alemanha e o Canadá. Portugal surge no 14.º lugar, depois da Irlanda, da Áustria e da Espanha e imediatamente à frente do Reino Unido. Os Estados Unidos, o país mais rico do mundo, estão em 25.º lugar. O primeiro país asiático é o Japão, em 18.º lugar e não há quaisquer sinais de países árabes nem das novas democracias do leste da Europa entre os primeiros 20. Na cauda da tabela está, como se esperaria, um contingente de países africanos. Segundo o mesmo relatório, a progressiva privatização dos sistemas de segurança social tem levado a um efectivo empobrecimento das populações. Contra esta tendência foi apontado como factor positivo o incremento das pensões sociais no Brasil.

2) A luta contra a União Europeia é, nos nossos dias, um anacronismo. É elementar, no entanto, desejar uma outra Europa. O primeiro passo para alcançar este objectivo passa por impedir todas as forças que pretendem destruir um modelo de direitos sociais e do trabalho que, sendo já de si bastante débil e injusto, ainda faz da Europa um lugar à parte no contexto mundial. As últimas tendências não são, infelizmente, positivas.

3) O resultado alcançado por Portugal é, de certo modo, espantoso, nomeadamente porque o país chegou a 74 com uma infra-estrutura de apoio social e de direitos do trabalho muito débil, quando comparada, por exemplo, com o pujante welfare-state britânico construído depois da Segunda Guerra Mundial. É útil olhar para a história portuguesa destes últimos 30 anos e procurar os momentos e as causas que proporcionaram a inversão. Não será difícil perceber, basta olhar para as estatísticas, que o grande momento de social-democratização do país foi precisamente o período revolucionário após o 25 de Abril de 74. Tarefa realizada, refira-se, em contra-ciclo económico. Também não é difícil compreender que o maior ataque a este conjunto de direitos se realizou a partir dos anos noventa, pela mão de governos socialistas e sociais-democratas. Basta olhar, por exemplo, para a evolução da legislação dos contratos a prazo. Quanto tempo mais nos vamos aguentar no 14.º lugar?

sexta-feira, setembro 03, 2004

Seinfeld - o Regresso

Agora, que já estamos na contagem decrescente para a reexibição do Verdadeiro Artista (dia 20 de Setembro, na Sic Radical), a horas decentes para a maioria dos seres, fica aqui um pequeno aperitivo:
"Porque será tão difícil e desconfortável estar nu? É porque quando estamos vestidos, é sempre possível fazer aqueles pequenos arranjos, que as pessoas adoram fazer. Puxar, endireitar, ajustar. Achamos que estamos a ficar bem. «Ah, estou mesmo jeitoso. Sinto-me bem, muito bem». Mas quando estamos nus, não há nada a fazer. «Pronto, é isto. Não posso fazer mais nada.»
É por isso que eu gosto de pôr um cinto quando estou nu. Sinto que tenho qualquer coisa. Gostava de ter uns bolsos pendurados no cinto. Não era o máximo? Imaginem! Estar nu e, mesmo assim, conseguir pôr as mãos nos bolsos. Acho que seria uma grande ajuda."