terça-feira, novembro 30, 2004

Uma nova Estátua em Felgueiras

De acordo com o "Semanário de Felgueiras" de 26-11-04, "O industrial do calçado vai ser homenageado pela Câmara Municipal de Felgueiras, estando para o efeito a ser estudada a colocação de uma estátua na rotunda das campas, na EN 101-3".
Para o efeito vai ser aberto um concurso público para a adjudicação da obra, constando do caderno de encargos da obra a obrigação da estátua do "industrial do calçado" estar lateralmente acompanhada por duas outras estátuas menores: uma que reproduza fielmente um Ferrari F50 e outra que simbolize a principal força de trabalho da indústria de calçado local, uma pequena criança.

segunda-feira, novembro 29, 2004

A prática logo o dirá.

"Ninguém me tira da cabeça que 90 por cento, ou mais, dos comentários negativos que por aí circulam sobre o novo secretário-geral do PCP provêm de quem, consciente ou inconscientemente, não se consegue libertar do paradigma do canudo. Não é doutor nem engenheiro, logo não está à altura. A prática, esse único critério da verdade, como dizia Lenine, logo o dirá." ANTÓNIO VILARIGUES em PÚBLICO 29/11/2004

Como disseram Lenine e Vilarigues, a prática logo o dirá.

sexta-feira, novembro 26, 2004

Muito interessante

A antropologia é uma disciplina muito interessante, especialmente porque proporciona observatórios de estudo interessantes. Na busca do outro, tarefa cuja competência parece ser especialidade de pessoas formadas em universidades ocidentais, podem conceber-se inúmeros objectos de estudos realmente interessantes.
Professor: Então e você, qual é o seu tema?
Aluno A: Eu quero estudar futebol em Moçambique
Professor: Isso é extremamente interessante.
Aluno A: Pois
Professor: O que é a turma acha deste tema tão interessante escolhido pelo colega?
Turma: É muito interessante
Aluno B: É do caraças de interessante
Aluno C: Que inveja, eu que vou estudar a cultura da beterraba entre pescadoras lésbicas de uma ilha do pacífico nunca teria pensado num tema tão interessante como o futebol em Moçambique
Aluno D: Tu vais estudar a cultura da beterraba entre pescadoras lésbicas de uma ilha do pacífico? Isso é brutalmente interessante. Se quiseres dou-te o e-mail de um amigo meu que fez um mestrado sobre a cultura da couve roxa entre pescadores bissexuais que viviam de cócoras dentro de um vulcão de uma ilha do pacífico.
Aluno E: Quem é que se lembraria de uma coisa dessas? Estou-me a sentir algo parvo, porque o meu tema é apenas a intertextualidade, dança contemporânea e Lacan: valores pós-materiais na China Imperial vistos através do olhar crítico de quatro gerações de mulheres gordas no Irão, nos três dias seguintes à queda do Xá.
Professor: ...nos três dias seguintes à queda do Xá. Isso é ... foda-se, cum caralho, isso é mesmo interessante, é que não que não é só interessante é, no mínimo, muito interessante, talvez algures entre o interessante e o muito interessante mas eu diria que mais próximo do muito interessante, está ali quase, o muito interessante está à vista.

Interessante

A academia tem formas várias de interpretar o politicamente correcto que se vai impondo por todo o lado. Uma das expressões fundamentais nesta forma académica de ser politicamente correcto é a palavra interessante. Tudo é interessante: especialmente se o aluno pagar as propinas a tempo e horas. O “interessante” é uma muleta interaccional poderosa, que contribui para que as pessoas gostem, aparentemente, umas das outras. Elias chamar-lhe-ia mais um passo do processo civilizacional. Evitar o confronto. Claro que depois há rituais específicos para proporcionar o conflito. Nesse espaço ritual é possível, aliás é a regra, ser-se crítico e violento (por vezes até de forma artificial). Os ventos pós-modernos libertaram os critérios de avaliação e tudo pode ser, ao mesmo, interessante e odiável, depende, obviamente da corrente teórica ou estética em que navegamos.

quarta-feira, novembro 24, 2004

Love is on the air

Santana Lopes justificou a criação da central de comunicação pelo Executivo que lidera, na terça-feira à noite, no programa «Grande Entrevista» da RTP.
Disse Santana: "É tanta a sensibilidade da comunicação social com este Governo que retribuímos o amor com o amor..."
Ao que parece, desta vez, e para variar, Sampaio não quis ficar a segurar a vela entre os "pombinhos"...

terça-feira, novembro 23, 2004

Canas de Senhorim

O Movimento de Restauração do Concelho de Canas de Senhorim continua a sua saga cómica em prol da elevação daquela lauta terra à figura jurídica de Concelho.
Chefiado por um “artista” aspirante a Presidente de Câmara, de seu nome Luís Pinheiro, o Movimento cortou hoje a linha de caminho de ferro local, tendo por isso enfrentado a GNR. O saldo da refrega consistiu nalgumas baixas hospitalares por parte da população de Canas. Nada de surpreendente, portanto.
O que surpreende, isso sim, é como é que a população de Canas continua convencida da razão da sua reivindicação. Nem sequer vale a pena trazer à colação a dimensão da localidade e a sua exiguidade demográfica. Mais importante do que deixar-se enlevar pelo canto de uma sereia chamada Luís Pinheiro, seria a população de Canas reflectir sobre os factos concretos, nomeadamente aqueles que dizem respeito à circunstância fatal das freguesias que o Movimento propõe que constem do futuro concelho de Canas rejeitarem liminarmente essa pretensão, assentindo antes permanecer no concelho de Nelas, tal como actualmente acontece.
Não é à toa que as restantes localidades não pretendem unir-se ao Concelho de Canas. Culturalmente, as populações sempre se identificaram com a freguesia a que pertencem, não com os concelhos, uma criação político-administrativa muito mais recente, ao contrário das freguesias cujas delimitações espaciais datam do período romano.
Para as populações é-lhes igual ao litro que Canas queira ser Concelho ou não. O que elas pretendem é continuar a pertencer à mesma freguesia de sempre. E uma vez que têm que estar agregadas a um concelho, entre aderir aos novos-cristãos de Canas ou ficarem-se pelo conhecido, optam por Nelas.
Só em Canas de Senhorim, e um tal de Luís Pinheiro, é que não vêem isto, e lá continuam em reivindicações tontas...


Um novo conceito de talho

Tempos houve em que alguém desesperado chegou a pensar que uma boa alternativa à míngua do mercado sociológico seria abrir um talho gay. A ideia surgiu de uma apurada leitura das leis da oferta e da procura (Adam Smith q.b.), embora nunca ninguém tenha percebido aquilo que distinguiria um talho gay de um outro talho qualquer. A questão permaneceu eternamente no ar e porventura será melhor que se fique por ai.
Mas a demanda pela reinvenção do talho tradicional, seja lá isso o que for, é um processo irrevogável que atormenta as imaginações além fronteiras. Foi assim que num mercado no sul de Londres nasceu o talho disco. O local chama-se East Street Market e é dos lugares que mais alto subiu na minha escala londrina, imediatamente à frente da Tate Modern, mas ainda assim atrás do Café Estrela. Este mercado é um sítio extraordinário, frequentado maioritariamente por ingleses de origem ganesa, nigeriana, jamaicana e por emigrantes de diversas proveniências. Pois bem, no meio deste mercado há um talho dirigido por turcos. O talho é todo branco, pontuado pelo vermelho de múltiplos animais esventrados, cortados e dilacerados por três homens vestidos com batas brancas pontuadas pelo sangue de múltiplos animais esventrados, cortados e dilacerados, e que se movimentam energeticamente ao som de um poderoso sound system que debita os sons dos últimos êxitos de hip hop, rap e reagge. Os clientes reagiram positivamente aquela imagem da carnificina animal perpetrada ao som ritmado das palavras do rapper. Os amigos turcos parecem felizes. Não alvitrei se a música se altera com a hora do dia e gostava bastante de perceber se o hip hop vende melhor o porco, o peru, a vaca ou os miúdos, salvo seja.
Confesso que não sei se me sentia à vontade para comprar uns bifes do lombo ao som do Eminem. Afinal, a vaca é um animal bucólico e prazenteiro, um pouco obtuso, mas honesto, cuja quietude merece algum respeito. Talvez uma valsa, ou o hino da Eurovisão.
Um talho, com música ou sem música, é um dos lugares mais fascinantes do mundo. Aprende-se imenso.

domingo, novembro 21, 2004

Sócrates

Sócrates, a lenda brasileira do futebol dos anos 80, actualmente com 50 anos, regressou neste sábado aos relvados, envergando a camisola do Garthforth, um clube inglês das divisões inferiores .
De acordo com os relatos, durante 20 minutos alardeou a sua classe de forma estridente, de tal forma que o observador da equipa técnica do Sporting aconselhou já a sua contratação na reabertura do mercado aos responsáveis da SAD verde e branca, uma vez que mantém praticamente intactas as faculdades técnicas que o consagraram e evidencia um ritmo de jogo compatível à da maioria dos jogadores do Sporting, superando inclusivé nos piques de corrida, Rui Jorge e Pedro Barbosa.

sexta-feira, novembro 19, 2004

A questão do referendo - 3 em 1

«Concorda com a Carta de Direitos Fundamentais, a regra das votações por maioria qualificada e o novo quadro institucional da UE, nos termos da Constituição para a Europa?»

Eis as opções de resposta que virão nos boletins:
Sim para todas;
Não para todas;
Sim para a primeira, Não para a segunda e Sim para a terceira;
Não para a primeira, Sim para a segunda e Não para a terceira;
Sim para a primeira, Sim para a segunda e Não para a terceira;
Não para a primeira, Não para a segunda e Sim para a terceira;

quinta-feira, novembro 18, 2004

CTT

O motivo que os CTT invocam no seu site para a disposição, on-line, de um conjunto diversificado de produtos e serviços, prende-se com a vontade de garantir comodidade e celeridade no atendimento dos seus clientes, eximindo estes da perda de tempo nos balcões dos correios. È uma vontade generosa e que vem por bem.
Pena é essa filosofia de empresa não estar implementada em muitas outras situações comezinhas, como, por exemplo, a autenticação de documentos, faculdade consignada por lei aos CTT.
Estando aos CTT atribuída a função, quando assim requisitada, de autenticar documentos, pensar-se-ia que todos os balcões da instituição o pudessem fazer naturalmente, até porque para o exercício da mesma apenas são necessários dois requisitos: a existência de um carimbo e a competência de leitura por parte do funcionário.
Acontece que, devido a directrizes recentes, nem todos os balcões dos CTT estão autorizados a cumprir a difícil tarefa de autenticar documentos, nomeadamente os balcões mais "pequeninos", segundo os CTT, os quais apesar de anteriormente deterem a mesma dimensão garantiam a autenticação na hora.
Eis como um serviço público consegue desvirtuar o princípio da garantia paritária de serviços nos seus balcões, obrigando os contribuintes a deslocarem-se quilómetros e a perderem uma farturinha de tempo para alcançarem o seu desiderato.
Entretanto, os mesmos balcões mais pequeninos que não têm autorização hierárquica para procederem à sua missão, em alternativa permitem aos clientes a compra de canecas de barro, brincos e até o carregamento de telemóveis, tudo mui nobres e indispensáveis tarefas que um serviço público deve assegurar...

Os racistas e os fascistas do politicamente correcto IV

É assim, vivemos entre os racistas básicos do antigamente e os novos fascistas do politicamente correcto que pensam que a sociedade ideal seria controlada por microfones e câmaras para apanhar o cidadão a fazer o comentário errado, para depois o castigar e humilhar publicamente, como naqueles estados americanos em que os presos têm que, através de cartazes, anunciar o seu crime à sociedade: roubei um chocolate no supermercado, disse mal do meu chefe, fiz um comentário sexista, dei um pontapé no cão. Admirável Mundo Novo.

Os racistas e os fascistas do politicamente correcto III

Parece evidente que existe um problema de racismo em Espanha. Isto é diferente, no entanto, de afirmar que todos os espanhóis são racistas. Mas o que é mais irritante nesta prosa jornalística é a pose educadora da raça escolhida. Na Inglaterra, os africanos ocupam os lugares mais baixos da hierarquia profissional. Na Inglaterra, os africanos continuam a ser discriminados nas escolas. Na Inglaterra, vários tablóides sugerem diariamente que os africanos inventaram o crime. Na Inglaterra, todos os partidos do espectro políticos falam dos emigrantes de uma forma que faz do nosso Paulo Portas um menino do coro. Na Inglaterra, os partidos da extrema-direita nacionalista e racista sobem exponencialmente a sua votação. Já agora, a Inglaterra não deve ser confundida com a multicultural e cosmopolita Londres onde, apesar do liberalismo nos costumes, os negros dos bairros periféricos do sul rumam todos os dias a norte para limpar, construir e guardar, os bairros brancos e burgueses do norte. Os jogadores negros foram enxovalhados neste país durante décadas a fio, aliás, o futebol em Inglaterra foi durante muitos anos um desporto onde os negros não entravam. E só não são enxovalhados agora, porque o jogo se tornou um espectáculo caro para a classe média politicamente correcta, aquela que em público é incapaz de ser racista mas que, se fosse possível, gostava que os seus filhos tivessem um saudável casamento branco. É esta sociedade, a mesma cujo governo, com sucesso discutível, procura com armas civilizar o Médio Oriente, que se toma pela zeladora do mundo, numa atitude paternalista insuportável. Assim de repente, chamava-lhe neo-colonialismo. O que sucedeu no Bernabéu só vai levantar tanta celeuma porque era a equipa nacional que jogava. Infelizmente, a base da questão é nacionalista.

Os racistas e os fascistas do politicamente correcto II

O forte nacionalismo inglês, a sua moralista ética protestante, o seu sentido de superioridade sobre todos os povos do mundo, que não é reconhecido pela forma estúpida e primária demonstrada por alguns adeptos espanhóis, mas por uma pose doutoral e distante que alguns súbditos de sua majestade gostam de ensaiar, seria mais suportável se os seus acólitos não cometessem o grave erro de omitir a sua própria realidade. No Guardian, jornal liberal de “esquerda”, um distinto jornalista relatou mais ou menos nestes termos a questão racial em Espanha. Primeiro, explicitou a diferença entre a forma como a Espanha (mediterrânica, atrasada, etc) trata a questão da raça, quando comparada com a Inglaterra (o espaço da civilização). Depois, usou uma retórica perigosa, que, no fundo, não é mais do que o princípio de todos os racismos. Esta retórica, que infelizmente não é a primeira vez que ouço por aqui, consiste em tomar a parte pelo todo. Neste caso preciso, esta estratégia uniu-se a uma outra não menos perigosa: o abuso da adjectivação proporcionada por determinados substantivos colectivos. Deste modo, os Espanhóis, essa raça de 40 milhões de pessoas, foram colectivamente apelidados de xenófobos, através da exposição de quatro ou cinco exemplos de racismo nos campos e nos clubes de futebol do seu pais. Para reforçar a sua ideia, o jornalista disse ainda que na sociedade espanhola os cidadãos de origem africana ocupam os lugares profissionais mais baixos e são constantemente maltratados. Ora, nada disto se passa em Inglaterra.

Os racistas e os fascistas do politicamente correcto -I

Terminou há poucas horas o triste jogo de futebol entre a Espanha e a Inglaterra. O encontro foi irremediavelmente marcado pelos cânticos racistas de parte, aparentemente significativa, dos adeptos espanhóis que se encontravam no estádio. A atitude é intolerável e mostra como às vezes basta uma pequena alteração nas circunstâncias que rodeiam um jogo para os valores da ignorância, da falta de inteligência e da cobardia virem ao de cima. É um racismo explícito, brutal, próprio de pessoas com um evidente défice mental. Não sei que parcela de adeptos se comportou assim, mas é bom lembrar que estávamos no Bernabéu, lugar do Real Madrid e dos Ultra Sur, a sua claque fascista. De lembrar ainda que o encanto futebolístico do Real não altera o facto de o clube ter estado próximo da Espanha franquista, e de os seus adeptos representarem, em termos genéricos, uma população espanhola mais conservadora e reaccionária. A “atenuante” vale de pouco e o comportamento violento demonstrado pelos jogadores ingleses desde o princípio do encontro também não desculpa nada. A questão racial que rodeou este jogo foi, no entanto, levantada anteriormente. Luís Aragonés, treinador espanhol, terá dito a um seu jogador, que alinha no Arsenal de Londres, que devia lutar para tirar o lugar a um seu companheiro de equipa, o francês Henry, apelidando este último de “shit negro”. A conversa foi captada por um microfone e, com razão, a questão racial foi levantada. Aragonés, que terá o seu défice mental, veio retratar-se publicamente, pedindo desculpa e afirmando que os media ingleses retiraram a expressão do contexto. No contexto ou fora do contexto, as palavras falam por si. Os media ingleses não ficaram convencidos e consideraram que Aragonés devia ter sido despedido. É a partir deste momento que os defensores da moral e dos bons costumes se transformam nos fascistas do politicamente correcto.

terça-feira, novembro 16, 2004

Canção Nova

Ao imaginarmos uma televisão religiosa, porventura pensamos logo em programas enfadonhos e aborrecidos até dizer basta . Padres, padrecos, bispos e cardeais a trazerem a luz ao rebanho durante homilias à meia-luz, alvitrando contra as tentações perniciosas dos tempos modernos e à quebra dos valores cristãos. Ou seja, seria algo parecido com os milhentos pasquins católicos que povoam a imprensa escrita regional, semanalmente.
Mas esta visão mais tradicional nem sempre tem uma tradução real. A prová-lo está o canal disponível por cabo, Canção Nova. Brasileiro de nascença, evangélico de baptismo, tem na alegria e na comédia a sua profissão de fé. Aliás, mal se compreende a criação de canais temáticos vocacionados para a comédia, quando a TV Cabo já oferece há muito tempo aos seus espectadores 24 horas de galhofa diária, através do Canção Nova.
No Canção Nova, também há padres, missas e rebanhos. Mas há diferenças em relação ao padrão clássico a que associamos à actividade de salvação das almas terrestres. Um desses exemplos é o programa “Atendimento Espiritual”, onde os espectadores contam todas as suas angústias interiores a um conselheiro espiritual, uma espécie de Prof. Cazombé.
No último programa, Alice, 44 anos, da Baixa da Banheira (identidade fictícia), carpia sobre o marido constantemente embriagado e violento e os filhos despeitados, na esperança de obter um remédio mágico imediato da parte do guia. E consegui-o!
Através do veredicto de que o marido e os filhos da senhora tinham, garantidamente, um coração de pedra, o guia aconselhou a Sra. Alice a aspergir a cama do marido e dos filhos com água, mas não em demasia, para assim as camas não ficarem ensopadas!
A Sra. Alice agradeceu, feliz da vida, por ter visto finalmente a luz ao fundo do túnel, prontificando-se a executar imediatamente as ordens recebidas.
O único senão de tão proveito programa prende-se com o facto de não haver um acompanhamento aos resultados dos auxílios espirituais prestados.
Sempre gostava de saber se a água aspergida nas camas dos que possuem corações duros sempre os amolece, ou se o marido, normalmente chegado a casa embriagado e furioso da vida, ao deitar-se na cama embebida em H2O se passou dos carretos por isso e arreou mais uma grande carga de porrada na desgraçada da Sra. Alice.
Pessoalmente, inclino-me para um desfecho mais em conformidade com esta última hipótese...



segunda-feira, novembro 15, 2004

Nick, o mestre

Nestes tempos em que quem paga bilhete para ver um concerto sujeita-se a um desfilar desinspirado de canções tiradas a papel químico do discos do cantor ou da banda, Nick Cave é uma benção. Nada do repertório estereotipado das estrelas do espectáculo, nada das frases formatadas, nada de poses mal ensaiadas, ou tiques de vedeta, apenas um portento de energia criativa que faz parecer qualquer banda de neo-punk como um grupo de baile para o serão familiar. Nick Cave, o extraordinário naipe de músicos que compõe os Bad Seeds, e o coro que acompanha o espectáculo, valem todo o dinheiro gasto no bilhete e ainda mais algum.

As promessas

Arjen Robben tem apenas vinte anos mas já é um dos melhores jogadores de futebol do mundo. Se puderem olhar para o rapaz a correr com a bola aproveitem que é um espectáculo. Quem sabe inspirado pelas exibições extraordinárias do seu pupilo, José Mourinho afirmou – já estava a demorar – que ia ganhar o campeonato inglês, e nem vai precisar das duas últimas jornadas. Por cá, ninguém acredita.

quinta-feira, novembro 11, 2004

O Colonialismo português para lá de Gilberto Freyre

Eu sou carvão!
E tu arrancas-me brutalmente do chão
E fazes-me tua mina
Patrão!

Eu sou carvão
E tu acendes-me, patrão
Para te servir eternamente como força motriz
mas eternamente não
Patrão!

Eu sou carvão!
E tenho que arder, sim
E queimar tudo com a força da minha combustão

Eu sou carvão!
Tenho que arder na exploração
Arder até às cinzas da maldição
Arder vivo como alcatrão, meu irmão
Até não ser mais tua mina
Patrão!

Eu sou carvão!
Tenho que arder
E queimar tudo com o fogo da minha combustão

Sim!
Eu serei o teu carvão
Patrão!

Grito Negro
José Craveirinha

segunda-feira, novembro 08, 2004

Ursula Rucker no Teatro Viriato

Recém-chegada de uma longa viagem de Moscovo onde havia tocado no dia anterior, a norte-americana Ursula Rucker, ainda assim, proporcionou ao repleto auditório do Teatro Viriato, na passada sexta-feira, um excelso concerto.
Apresentando ao público os temas da sua mais recente obra musical, o álbum “Silver or Lead”, Ursula Rucker, por entre acordes de jazz, hip-hop, soul e blues, aliados à electrónica, entoou a sua “palavra falada” ácida e sussurrante sobre a realidade urbana contemporânea, a condição feminina, a escravatura e a política, espalhando, no final, uma atmosfera de pura doçura musical em todo o espaço.
Se a própria não tivesse confessado ninguém diria que ela estava há quase 48 horas sem dormir.

quarta-feira, novembro 03, 2004

Sobre a vitória de Bush

Depois de, ao que tudo indica, Bush ter sido releito como presidente dos EUA, e das sondagens à boca das urnas indicarem que o medo de novos ataques terroristas foi decisivo na opção final de muitos eleitores, relembram-se as palavras de Benjamim Franklim:
"Aqueles que abrem mão da liberdade em troca de um pouco de segurança temporária, não merecem nem liberdade, nem segurança."

terça-feira, novembro 02, 2004

Bush & Kerry

A algumas horas do fecho das urnas os candidatos à Casa Branca, face às sondagens que anunciam um empate técnico entre ambos, colocaram as respectivas máquinas eleitorais em esforços redobrados para conseguirem a vitória.
Telefonemas para os lares dos indecisos, visitas porta a porta aos dúbios, e-mails a pedir a cruzinha no quadrado certo aos hesitantes, a tudo as campanhas democrata e republicana recorrem para os seus líderes poderem ocupar a cadeira do poder.
Com uma pequena nuance.
Enquanto os democratas estimulam o voto em Kerry, os republicanos apelam aos eleitores, não para votarem no Partido Republicano, mas sim no Partido rival, nos democratas.
Buscando ensinamentos nas eleições de há 4 anos atrás, em que Bush obteve, segundo os dados oficiais do colégio eleitoral norte-americano, exactamente menos 540.420 votos que o adversário, e mesmo assim conseguiu, graças ao original sistema eleitoral americano, ser declarado como o grande vencedor da contenda, os partidários de Bush demandam junto de meio milhão dos eleitores para optarem pelo voto em Kerry de molde a garantirem a reeleição de Bush.
Acaso o meio milhão de votos a menos desta vez não seja suficiente para certificar a vitória, os republicanos, precavidos, estimaram já que 1.000.000 de votos a menos do que o candidato democrata seja já uma margem confortável para assegurarem, indiscutivelmente, a vitória de Bush.