É comum no períodos das campanhas eleitorais levantarem-se as vozes de discordância com os gastos propagandísticos que os partidos políticos esbanjam para a eleição dos seus candidatos. Sendo aparentemente legítima esta inferência, também é verdade que, por vezes, sob o fundo mais visível de gastos aparentemente supérfluos, uma campanha eleitoral pode constituir-se como uma decisiva alavanca de crescimento económico.
A quem tal asserção lhe parece despropositada e mesmo ridícula, aconselha-se uma visita por estes dias à capital da Beira Alta, Viseu.
Na senda de acompanhar o forte ritmo de jogo imprimido pelo candidato socialista à câmara local, em termos propagandísticos, o actual presidente da edilidade, Fernando Ruas, e candidato a mais um mandato, decidiu responder ao pontapé de saída socialista e avançou com a colocação de cartazes em todo o concelho, sob o slogan “Respondo pelo que Faço!”.
Naturalmente, o dever da disseminação deste slogan por uma miríade de rotundas construídas ao longo dos mandatos pelo candidato fez subir imediatamente as resmas de papel produzido pela Portucel, e os consequentes lucros desta empresa, traduzíveis no aumento imediato da sua cotação em Bolsa.
Deu ainda um impulso fundamental à industria metalomecânica local para o fabrico de barras metálicas de suporte aos mesmos cartazes e conseguiu, simultaneamente, reduzir os números do desemprego, ao presidir à contratação de 12 trabalhadores locais, os quais divididos por dois turnos de 8h tentam assegurar com a maior brevidade possível a cobertura de todas as rotundas com pelo menos um cartaz afixado em redor. Prevê-se que até final do mês de Agosto os seus esforços sejam coroados de êxito.
quarta-feira, agosto 17, 2005
segunda-feira, agosto 15, 2005
Escoteiros
Está tudo doido. Uma greve de uma empresa de refeições no aeroporto de Heathrow. Alguns voos foram atrasados. Uma comitiva de escoteiros portugueses. Devido à situação, os escoteiros tiveram que dormir no aeroporto e regressar no outro dia de camioneta. A RTP fez várias reportagens sobre o sucedido e foi ainda esperar a camioneta à fronteira. Lá estava também a mãe de um escoteiro. A jornalista perguntou-lhe pelas horas de angústia e sofrimento e a senhora com um ar pesaroso confirmou. O chefe dos escoteiros também disse que havia uma pessoa que precisou de ser medicada. Lá se viu o plano de um mocetão com um ar saudável a tomar comprimidos. Há pachorra para isto? Sofrimento é dormir na rua e levar com um tijolo na cabeça. Angústia é continuar à espera do ponta-de-lança. Os escoteiros deviam estar mas é a fazer sandes de queijo para as pessoas no aeroporto; aposto que nas imediações estavam várias velhas a querer passar uma estrada provavelmente perigosa. Os escoteiros são um pouco como as tunas, não se percebem para que é que servem.
segunda-feira, agosto 08, 2005
Marco e os outros
É verdade que Marco Chagas é um excelente comentador. A apreciação às suas qualidades é mais do que justa. Há uma volta à França com Marco Chagas e outra volta à França sem o Marco Chagas. Refira-se ainda que a RTP sempre teve um excelente naipe de comentadores desportivos, com a óbvia excepção do futebol. No vólei o Fiúza Fraga, no basket o João Coutinho, o da selecção da Jugosnávia, e o mais discutível Carlos Barroca, com o seu estilo NBA, no andebol o João Barata e outro indivíduo de que não me lembro o nome, no rugby o incomparável Cordeiro do Vale sempre em directo de Murrayfield ou de Twickenham, no atletismo o Jorge Lopes e o excelente Luís Lopes (podemos ouvi-los na RTP e Eurosport, respectivamente, na cobertura dos mundiais de atletismo que se realizam em Helsínquia) no hipismo o coronel Jorge Mathias e, apesar de não me lembrar outra vez dos nomes, recordo-me dos bons comentários do ténis (Moura Diniz, será?) e da ginástica desportiva. Estes comentadores têm quase todos uma característica: sabem do que estão a falar. Porventura uns serão mais especializados do que os outros, mas todos conseguem estabelecer a preciosa ligação entre um conhecimento especializado e o espectador leigo. Curiosa e tristemente nunca tal coisa sucedeu com o futebol. O desporto-rei continua entregue a curiosos, jornalistas pouco competentes para a função, personalidades mediáticas e outros membros de uma fauna que raramente conseguem ligar duas frases seguidas. Alguns executam o trabalho positivamente, mas sempre sem o brilho dos comentadores das modalidades que a RTP nos habituou a ouvir.
quarta-feira, agosto 03, 2005
A página arrancada do antigamente
Continua no jornal Público a novela relativamente ridícula das páginas arrancadas e dos livros queimados. Qualquer dia, seguindo este politicamente correcto cozinhado numa calma dos trinta anos depois, ainda alguém sugere excitado que se deveria ter preservado, para pesquisa histórica, o próprio regime.
A espera
E o ponta-de-lança senhores, o ponta-de-lança? Quantas manhãs mais os seis milhões vão ter que acordar numa expectativa eternamente defraudada?
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