segunda-feira, junho 28, 2004

Albergues espanhóis

Os dois maiores partidos portugueses continuam a dar a imagem real da nossa democracia. Alguém lhes reconhece alguma ideia estruturante, algum princípio fundamental a não ser o da defesa das corporações, da manipulação do aparelho de Estado, do patrocínio de carreiras individuais. No PSD-PPD, os do PSD não gostam dos do PPD (de quem o PP é uma óbvia extensão). Como é que é possível que pessoas que se odeiam que, aparentemente, têm ideias diferentes, estejam juntas no mesmo partido? Valentins e Pachecos, Rios e Meneses, Santanas e Balsemões, etc. No PS, a direcção quer eleições antecipadas, mas muitos daqueles que olham aguçadamente a carcaça de Ferro Rodrigues, pensam duas vezes: sem congresso Ferro não cai, se Ferro vai a eleições provavelmente ganha e lá se vão as carreiras dos Sócrates e dos Lamegos.

sábado, junho 26, 2004

Eleições

Confirmando-se o abandono do cargo de primeiro-ministro por parte de Durão Barroso parece-me que não resta a Jorge Sampaio outra atitude que não seja a convocação de eleições antecipadas.

Mas nem tudo é mau

É verdade. É um prazer ler as crónicas que Luís Campos, treinador de futebol do Gil Vicente, escreve no Público. Tal como foi superior o modo como José Mourinho comentou o Portugal-Espanha. Das poucos coisas que nos fazem esquecer o António Fidalgo, os jornalistas que não conseguem fazer um resumo de um jogo sem aplicar no mesmo milhares de trocadilhos idiotas, quase sempre como umas imagens de umas gajas pelo meio, e umas transmissões que nunca dão as repetições completas (Alguém que explique aos realizadores da televisão que, por exemplo, para apreciar o último golo do Rui Costa no Portugal-Inglaterra é preciso ver a jogada desde o início e não apenas o remate final).

Futebol?

Dizem os críticos que o país está futebolizado. De certo ponto de vista a afirmação é verdadeira. Arrisco afirmar, no entanto, que de futebol vejo, escuto e leio muito pouco. Façamos um exercício. Contabilizemos as horas de televisão, os minutos de rádio, as páginas de jornais e revistas dedicados ao Euro 2004. Vejamos agora quanto tempo e espaço é dedicado ao futebol, ao jogo em si. Bastante pouco. Restam as intermináveis e estereotipadas perguntas de rua - o povo é uma mais-valia televisiva bastante barata - os programas de televisão em que figuras públicas, que de futebol nada percebem, fazem comentários imbecis, opinam, dão conselhos ao treinador, o acompanhar das viagens das equipas entre treinos, as ridículas conferências de imprensa, as reportagens com todos os familiares possíveis e imaginários dos jogadores e um sem número de banalidades milhões de vezes repetido. De futebol, muito pouco.

Qual a razão?

Por que raio é que as duas primeiras pessoas a comentar para a televisão estatal a vitória da selecção nacional de futebol foram Durão Barroso e Ferro Rodrigues? Deixem o futebol em paz, deixem-nos para os seus intérpretes, jogadores, treinadores, árbitros.

quinta-feira, junho 24, 2004

Pacheco Pereira, o cinema e Cannes

Pacheco Pereira na sua incessante e risível cruzada na defesa da Guerra do Iraque, oferece-nos hoje na sua crónica do Público uma autêntica pérola de presunção sobre o cinema e o Festival de Cannes.
Diz ele que "o pensamento baixou ao nível do grande "cineasta" Michael Moore (o prémio de "cinema" que lhe foi atribuído chega para desclassificar de vez o festival e o jurí que o fez".
Sem nos elucidar se já viu o filme ou não, sem nos explicitar quem constituíu esse jurí tão desacreditado, sem nos dar a conhecer as razões que estão na base da desclassificação do Festival de Cannes, só podemos chegar à óbvia conclusão que, para Pacheco Pereira, o pensamento elevado é marca registada do próprio e dos, como ele classifica, "governos democráticos legítimos", mesmo que esses governos sejam liderados por presidentes que alcançam um milhão de votos a menos que os seus adversários da contenda eleitoral.
Todos aqueles que têm a veleidade e a desfaçatez de questionar o pensamento elevado de tais elites esclarecidas, mesmo que o façam através de mensagens veiculadas em campos artísticos e que mereçam o reconhecimento dos seus pares, são agora classificados como pertencentes a uma espécie inferior em capacidade intelectual e reflexiva, os Baixos Pensadores.

quarta-feira, junho 16, 2004

O Zé do PS

É compreensível que nas hostes socialistas se sinta alguma euforia em razão dos resultados eleitorais do passado fim de semana.
Todavia, pensava eu que esse estado de espírito de satisfação não seria motivo para algumas personagens do partido perderem a noção dos sentidos e entrarem em delírio. Mas está a acontecer!...
O vislumbre da hipótese de reconquista do poder em breve está a provocar umas certas psicoses nalgumas mentes do PS, conduzindo-as a atitudes esquizofrénicas.
O mais recente ilustre representante desta tendência para a senilidade é a do ex-representante de Portugal no Governo Provisório do Iraque, Zé Lamego.
Ora não é que Zé Lamego, depois de nobres e elevados feitos praticados no Iraque, pretende agora candidatar-se a Secretário-Geral do PS?!
Justifica ele a candidatura com a "defesa de princípios e para a criação de espaços de protagonismos a novas gerações e a novos elementos". A julgar pelo seu recente passado político antecipa-se facilmente qual a índole e a elevação dos princípios que pretende defender...
Felizmente, ou muito me engano eu ou a sua candidatura não será mais do que mero fogo fátuo!


sábado, junho 12, 2004

Liners e Bandeirinhas

Num país pejado de bandeirinhas ad nauseum (não é só na Velha Albion, "amigo" Global...), esperemos, apesar de tudo, que a equipa portuguesa não fique logo à tarde em posição de fora de jogo (off-side)...

Em resposta ao nosso Bruno II

Os 3 ocupantes do pódio, em ordem aleatória: França, Itália, Holanda.
Os 3 melhores marcadores: Henry, Nistelroy, Larsson
A equipa revelação: Suécia

sexta-feira, junho 11, 2004

Orgulho nacional?

Deixem-me ver se percebo? As bandeiras desfraldadas por toda a cidade de Lisboa, e imagino por todo o país, mais em bairros populares do que em bairros burgueses,revelam a paixão por uma das nações mais sub-desenvolvidas da Europa, que trata os seus cidadãos abaixo de cão. A bem da Nação. Viva a selecção.

Em resposta ao nosso Bruno

Então cá vai: campeão República Checa; final: República Checa-Espanha (2-1); melhor marcador Morientes;

Xutos

Foi com enorme prazer que vi os cinco elementos dos Xutos e Pontapés serem condecorados pelo Presidente Sampaio. Numa lógica de atribuição de prémios eminentemente classista, que esquece quase todas as profissões e actividades distantes do campo do poder, é um óptimo sinal alguém se ter lembrado destes indiscutíveis baluartes da cultura popular portuguesa. Vivam os Xutos.

quarta-feira, junho 09, 2004

A campanha dos cartazes e placards em Viseu

Percorrendo as diversas artérias e rotundas da cidade de Viriato, constata-se, com surpresa, que, em matéria de afixação de material partidário, os espaços públicos viseenses são largamente dominados nestas eleições, pasme-se, pelo Bloco de Esquerda e pela CDU!...
Numa cidade e num concelho onde obtêm percentagens eleitorais marginais, não deixa de ser curiosa a aposta destas duas forças partidárias em polvilharem a cidade com adereços publicitários (cartazes, placards) das suas cores, a contrastar com uma presença muito mais discreta e quase invisível dos partidos que recolhem a maioria das preferências locais..., os quais, certamente, preferem dispender as verbas que estão guardadas nos seus cofres nas refregas eleitorais que se avizinham.
É apenas mais um sintoma da desvalorização que os principais partidos políticos fazem destas eleições, cristalino de se ver diariamente, quando estando nós perante uma eleições para o Parlamento Europeu, os discursos políticos nos intervalos dos insultos mútuos, se dedicam, sobretudo, a sondar e a ventilar para os media os nomes de putativos candidatos presidenciais...

segunda-feira, junho 07, 2004

Metal connection

No mesmo café do e-mail anterior, no dia anterior, reinaram os reis do Metal. À minha frente estavam dez jovens vestidos de preto, cerveja na mão, sotaque indiscutivelmente alentejano, a berrarem todos os clássicos da banda de Hetfielf, Hammet e Ulrich. O metal devia ser estudado, não digo essas novas bandas fabricados em estúdios de Los Angeles para adolescentes pseudo-rebeldes, mas do metal do underground que passa de cassete em cassete, ouvida em grupos, predominantemente masculinos, multiplicados por todo o país, nas grandes cidades e nos sítios mais recônditos. Embora o show dos Metallica seja muito produzido, muito profissional, no mau sentido destas expressões, o seu poder ainda se sente. Foi bom voltar a ouvir alguns hinos antigos. Mantendo uma posição de observador distanciado e reflexivo ainda abanei muitas vezes a cabeça.

A alegria do povo

Garrincha foi o mais conhecido extremo-direito brasileiro. Alguns consideram-no ainda melhor do que Pelé. Os seus dribles fenomenais, dançantes, inebriantes, encantavam o adepto do futebol. Garrincha, como ficou eternizado num dos mais importantes documentários do cinema novo brasileiro - obra da autoria de Joaquim Pedro de Andrade - era a alegria do povo. Não pude deixar de pensar nesta frase quando vi, num café de Sines chamado SMURSS (as quatro últimas letras não são um acaso) o concerto de Daniela Mercury no Rock in Rio lisboeta. Há qualquer coisa de profundamente honesto no concerto da Daniela. A produção é festivaleira, profissional, a música é muito fácil, mas prevalece uma ligação poderosa com o público, que dificilmente conseguimos observar nos McCartneys, nos Stings e dinossauros afins.