A teoria da manta, pese embora toda a sua simplicidade, adapta-se bem para a explicação de certos fenómenos. Um bom exemplo destes últimos são os lucros bancários.
Em Portugal, graças à liberalização e desregulamentação do sistema financeiro português, e o aumento da concorrência no mercado de crédito, ocorreu uma substancial especialização da actividade bancária na concessão de crédito ao segmento dos particulares.
O aumento do rendimento disponível das famílas e a mudança dos padrões de consumo esteve na génese do crescente endividamento das famílias portuguesas. Sobretudo através do crédito à habitação e do crédito ao consumo de bens e serviços, as principais instituições bancárias já nos habituaram a notícias destas (a julgar pelas supeitas veiculadas dos últimos tempos, a fraude e o branqueamento de capitais também dão uma ajudinha para compor o retrato...).
É aqui que a teoria da manta nos surge útil, pois a mesma teoria preconiza que se se tapa com a manta um lado, destapa-se o outro.
A realidade tem comprovado a teoria da manta, com o nível de endividamento das famílias a superar já, em média (118%), o seu rendimento disponível.
Chega-se à conclusão que no confronto das racionalidades, a racionalidade bancária está a ganhar cada vez mais centímetros de manta, e afirma-se com força crescente, mesmo perante as dúvidas crescentes sobre se os agregados familiares não correm o risco de estarem já excessivamente vulneráveis às alterações das variáveis que determinam a sua capacidade financeira (subida das taxas de juro, desemprego e precarização do emprego, dissolução da estrutura económica de suporte do endividado por divórcio, doença ou morte de um familiar, etc.).
Um dos mais recentes exemplos que tive oportunidade de verificar desta tal racionalidade trata-se do envio, por carta, para o cliente bancário de um cheque já preenchido com um valor determinado para o cliente assim fazer uso dele como bem entender, mediante o pagamento de uma prestação mensal durante 60 ou 84 meses.
Tratando-se de um estratagema deveras acutilante e facilitador do endividamento, quer-me parecer que se a entidade responsável pela regulação da actividade bancária do país, Banco de Portugal, não obviar legalmente estas agressivas formas de assédio ao endividamento, bem pode apregoar a muitos, como São Tomé, para a realização de poupanças, que a julgar pelas evidências estatísticas, a manta vai continuar a cobrir cada vez mais o mesmo lado…