terça-feira, janeiro 24, 2006

Sobre as eleições no ex-cavaquistão


As recentes eleições presidenciais fizeram cair o mito do "cavaquistão", já ele bastante chamuscado nas recentes eleições legislativas...Bragança fartou-se das faustosas votações laranjas de Viseu e decidiu assumir a dianteira nessa matéria.
Também ao nível mais micro, o concelhio, as tendências partidárias são agora mais dinâmicas e menos concentradas na tradicional opção política que tem feito história. Olhando para os resultados destas eleições ao nível das freguesias do concelho, lembramo-nos que a velhinha teoria dos círculos concêntricos de desenvolvimento das cidades, de Burgess, no caso de Viseu ganha foros de actualidade.
A votação presidencial no concelho de Viseu, e nomeadamente a adesão eleitoral ao candidato Cavaco Silva decalca quase na perfeição uma topografia radial. Ao centro, nas três freguesias da cidade o novo Presidente da República alcançou 55% dos votos em todas elas. Num segundo círculo, em freguesias semi-centrais, como Ranhados (53%), São Salvador (55%), Orgens (57%), Torredeita (58%), a identificação foi ligeiramente superior.
Quando nos afastamos das zonas mais centrais e tocamos na freguesias que estão nos limites espaciais concelhios, constatamos as maiores taxas de entusiasmo popular com a candidatura vencedora. Ribafeita (77%), S. Pedro France (77%), Calde (76%) ou Silgueiros (73%), são exemplos claros desta tendência.
Identificando-se esses círculos espaciais, em razão do progressivo processo de urbanização do concelho nos últimos anos, com o desenvolvimento de actividade económicas diferenciadas, com a circulação espacial de diferentes públicos e com a vivência de indivíduos com distintas posses em termos de capitais escolares e culturais, a adesão cavaquista nas eleições presidenciais mostra que a clássica dicotomia rural-urbano, em Viseu, começa agora a notar-se mais do que nunca.