segunda-feira, janeiro 30, 2006

Um jogador "à antiga"


A "era dos extremos" que actualmente se vive no futebol português, com 1 ou 2 clubes endinheirados, ou pelo menos a dar essa aparência, com alguns a mostrarem-se, por fim, em asisada contenção, e com outros a falirem ou a caminho disso, aparecendo nos media como habituées incumpridores das obrigações salarais para com os seus atletas, pode trazer consigo uma virtualidade: um "regresso ao passado", entendido como retorno a uma busca da procura do jogo enquanto actividade prazenteira, capaz mesmo de obrigar a alguns sacrifícios pessoais na vida em prol do gozo extraído da sua prática.
Exemplo do que foi acabado de dizer pôde ver-se ontem, ao final da tarde, na estação de camionagem de Viseu, onde, recém-chegado de Vila Nova de Paiva, local de disputa nessa tarde de mais um jogo a contar para o Campeonato Distrital da 1ª divisão, estava um jovem envergando um equipamento desportivo do novo Academico de Viseu, Semedo Domigos de seu nome, e que havia alinhado na equipa viseense como defesa central nessa partida.
Até aqui nada de extraordinário, a bem dizer, se pode retirar da história. Todavia, se soubermos que o citado jogador é natural e residente em Lisboa, percorrendo por isso 600km sozinho todos os fins de semana para disputar uma partida de futebol, recebendo como compensação monetária uma singela quantia, empregue já noite fora numa sandes adquirida numa máquina de serviço na estação de metro para onde se desloca quando chega à capital, damos conta que a prática do jogo ainda tem encantos que inebriam os seus protagonistas centrais e que os consegue impelir a devotar a si uma boa parte das suas vidas, sem que daí tenha de advir uma retribuição financeira minimamente significativa por essa concessão .
Se ainda há esperança no futuro do jogo, enquanto sinónimo de entrega apaixonada e desinteressada, é em jogadores como Semedo Domingos que ela reside.