Aqui há uns dias atrás os canteiros situados na rua Visconde de Santarém, junto ao Arco do Cego, em Lisboa, de um dia para o outro transfiguraram-se em termos do seu aspecto. Para alacridade de quem por lá muito perto diariamente se colocava para apanhar os transportes públicos, os canteiros anteriormente inundados de lixo e dejectos de animais transformaram-se, quase por passe de mágica, em espaços relvados e desprovidos de imundice.
Estranhei, mas entranhei positivamente, a súbita alteração da “paisagem”. Desconhecia, contudo, era que a nova cara dos canteiros tivesse contornos que quase se perdiam de antanho...
De acordo com a revista Única do fim de semana passado do jornal Espesso, a transfiguração ocorrida havia já sido solicitada pelos moradores por diversas vezes para ser embandeirada pelos serviços competentes da CM Lisboa. A resposta da Câmara aos apelos populares, todavia, foi um silêncio persistente.
Entretanto, preparava-se para se instalar neste mês um cartório notarial naquele local, e a sua proprietária, assustada com o panorama circundante, seguiu o exemplo dos moradores na busca de uma solução para a limpeza do espaço em redor. Segundo a versão narrada pela jornalista, a CM Lisboa pautou novamente a sua conduta pelo mutismo.
Cansada de silêncios persistentes e arrastados, a proprietária meteu mãos à obra e contratou uma empresa para ajardinar o espaço, empreitada pela qual pagou 2000 euros, a que acresce o preço da rega diária do mesmo que a funcionária do cartório leva a cabo logo pela manhã.
Confrontada pela jornalista com a resolução popular daquele imbróglio paisagístico, a vereadora que detém o pelouro do Urbanismo declarou que a CM de Lisboa encarava a solução adoptada com “tolerância simpatizante”...
Melhor do que a condescência forçada pelas evidências, ficaria melhor à senhora vereadora a interiorização da ideia de que se a paralisia funcional das instituições não fosse tão marcante, certamente as iniciativas populares desviantes da lógica de procedimentos burocrático-formais não tivessem de ser accionadas com tanta acuidade...
Neste caso, para quem conheceu o espaço até há bem pouco tempo e agora relança sobre ele novamente os olhos, só pode concluir que a cidadania local é uma qualidade que a todos deve assistir, é um direito inalienável de sensibilização e pressão sobre as instituições responsáveis pelo zelo e administração dos bens comuns e para terem esmero e rapidez no cumprimento das suas atribuições.