terça-feira, maio 03, 2005
Eleições a nível local
Temos sido brindados cá por casa por uma torrente de folhetos partidários que apela ao voto para os órgãos locais. Os Liberais-Democratas venceram as últimas eleições e são o único partido dos grandes que ainda não nos veio bater à porta. O Partido Trabalhista tem sido o mais esforçado. A sua candidata, a anafada Kirsty McNeil, enverga o mesmo sorriso forçado em todos os folhetos do partido. O seu slogan é claro: Lib-Dems soft on crime. O Partido Trabalhista, transformado numa espécie de Partido Justiçeiro, acusa os actuais autarcas no poder de, entre outras coisas, se terem oposto a leis contra o comportamento anti-social, de permitirem que jovens com 16 anos possam comprar revistas pornográficas e álcool, de se oporem a leis anti-grafiti, de não atribuírem penas de prisão por posse de droga, de não concordarem que se enviem criminosos adolescentes para a prisão, etc. A campanha do Labour é pouco mais do que isto. Perante este cenário de guerra, David Branch, o jovem candidato do Partido Conservador, não tem muito espaço para brilhar. Claro que ainda consegue juntar à lista do Labour mais algumas farpas contra a política laxista dos Liberais-Democratas: que poupam da prisão os ladrões que assaltam pela primeira vez, que introduzem educação sexual compulsória para crianças de sete anos, que querem retirar da Grã-Bretanha, para oferecer à Europa, os mecanismos de controlo da emigração, etc. Uns malvados estes Liberais-Democratas. David Branch, que aparece nos folhetos de camisa branca imaculada ao lado do facho que simboliza o seu partido, defende ainda a “livre iniciativa”, a “ambição e a coragem”, mostrando-se contra a intrusão do Estado no quotidiano dos cidadãos, com a excepção, claro, dos 40 000 polícias que os Conservadores querem atirar para as ruas do país. Restam os folhetos dos partidos mais pequenos. A Aliança dos Povos Cristãos aposta em Simi Lawanson, africana, mulher da comunidade. O movimento ganha na questão estética. O folheto transforma-se em poster onde está representada uma árvore onde estão inscritos os valores do movimento. No chão, jazem algumas maçãs podres: a guerra, as mentiras, os impostos altos, a ganância. Por detrás da árvore o cenário é idílico, um rio, umas montanhas, o sol, um céu azul pontuado por algumas nuvens. O desenho é tão simples que podia ter sido eu fazê-lo. Claro que teria que acrescentar aqui a ali, umas vacas, e quem sabe uns peixes no rio e uma montanha com um alpinista que podia ser o João Garcia. Os cristãos têm a vantagem de afirmar que acham que há uma profunda relação entre o crime, o abuso de drogas, o absentismo escolar e o desemprego. São ainda contra a guerra e a pobreza. Mas claro, na onda do bom moralismo britânico, criticam os Lib-Dems pelas suas políticas a favor da legalização da prostituição, da legalização de drogas, da abertura de sex-shops e outras artimanhas do demo. Apesar de tudo podia ser pior. Por fim os Verdes. Storm Poorun é o candidato Verde. Jovem, cabelo comprido, colar de missangas ao peito, está algures entre o jogador de futebol da segunda divisão B e o jovem executivo. Os Verdes apresentam um folheto repleto de fotografias de pradarias, do mar, de searas, maçãs e outros motivos típicos dum espaço urbano como este onde vivemos. As suas políticas são boas, embora relativamente ambiciosas. Depois de afirmar que o seu partido é a verdadeira alternativa ao capitalismo, Storm defende a construção de vias para bicicletas entre outras políticas de esquerda. Apenas os Verdes se escusam à ganga moralista o que os torna relativamente mais suportáveis.