Por alturas em que o "Público" tomou a iniciativa de fechar grande parte dos seus conteúdos on-line a todos aqueles que não aderissem à assinatura mensal paga, levantou-se uma onda de cizânia aqui no ciberespaço. Inclusivé, à data, tive oportunidade de deixar aqui umas palavras de forte desconfiança quanto ao sucesso da operação.
Devido às características da génese da criação da Internet e do caldo de culturas que desde o início lhe deram forma e nela estão enraízadas, pareceu-me que seria uma iniciativa condenado ao fracasso.
A Internet foi moldada desde cedo, entre outras, pela cultura hacker, que, ao contrário da imagem tradicionalmente veiculada pelos media, valoriza os quadros informais de transmissão gratuita da informação, a livre partilha da descoberta e a cooperação em rede.
Obviamente, este modus de acção está nos antípodas da iniciativa do "Público", que apostou no custeamento do acesso à informação. Até hoje, que eu tenha conhecimento, o jornal nunca deu a conhecer o state of art da sua iniciativa. Contudo, a julgar pelos indicadores apurados recentemente por uma empresas de sondagens sobre a Web, o panorama não deve ser muito risonho quanto ao número de adesões à assinatura paga da edição on-line...
A confirmar-se esta tendência (tudo o leva a crer) na assinatura do "Público on-line", não deixa de ser uma pena que o seu director, actualmente tão envolto na destrinça das questões culturais, tenha descurado uma análise mais aprofundada da(s) cultura(s) da Internet...