domingo, dezembro 18, 2005
Clubite I
Um dos grandes problemas da esquerda portuguesa é a clubite. A clubite, como fenómeno global, manifesta-se por várias razões. É útil para manter relações pessoais. Partilham-se conhecimentos e opiniões, alimentam-se inúmeras discussões, perde-se tempo, reforça-se espírito de grupo, ganha-se sentido de vida pelo reconhecimento do adversário (sem o qual a vida era bastante mais aborrecida). Quase que é possível dizer que a clubite à esquerda é uma espécie de estilo de vida, organizado tribalmente. Mas há outro lado, bastante mais trágico. A clubite política, como as clubites em geral, é quase sempre irmã do desconhecimento, da imparcialidade, da incapacidade de fazer propostas e de discernir quem são os verdadeiros adversários e quais os seus métodos. Sobretudo em relação à elaboração de propostas, algo que exige uma análise do real - e dá trabalho e actualização - a clubite é cega. A clubite não é outra coisa senão a imagem da incapacidade. Num contexto da pequena política, a opinão da clubite não é, por vezes, falha de razão, conseguindo fazer críticas acertadas e justas. Mas a esquerda não pode continuar a entreter-se com a pequena política. Não é apenas uma questão de justeza, é uma questão de opções. Mas é a esquerda que vamos tendo.