Era o debate presidencial entre os candidatos da área ideológica com que mais me identifico, e, à priori, mais uma boa oportunidade para os dois candidatos esgrimirem perícias. Todavia, o que ressalta evidente no final de mais uma jornada de debates, à imagem das jornadas anteriores deste campeonato presidencial, continua a ser a distorção sobre a suposta importância decisiva da eleição que se avizinha para o futuro do país e dos portugueses.
Quanto mais realce se dá à audição dos candidatos, mais se constata à ilharga a impotência que mesmo uma figura central de topo de um país está votada, tal como se configura a actual organização económica, social e simbólica do planeta. Tal impotência não é determinada pelo asséptico modelo de debate, mas pelas visíveis mãos atadas de todos os candidatos, uns mais presos a crenças doutrinárias vetustas do que outros, perante o destino e o presente que lhes foge e não conseguirão controlar.
Esse presente é o presente dos fluxos. Os fluxos de capital, fluxos da informação, fluxos da tecnologia, fluxos de imagens, sons e símbolos. Mais do que um elemento integrante da nossa organização social, esses fluxos são a expressão dos processos que dominam a nossa vida económica, social e política.
Num presente marcado pelos circuitos electrónicos (microelectrónica, telecomunicações, processamento computacional, sistemas de transmissão e transporte em alta velocidade), onde os lugares não desaparecem, mas a sua lógica e o seu significado são absorvidos em rede, rede essa que conecta lugares específicos com características sociais, culturais, físicas e funcionais bem-definidas, através de cidades globais, são as elites globais que dominam.
O problema é que a articulação de tais elites é global e são essas elites que por intermédio da rede constituída pelos sistemas de processos da economia global, especialmente os do sistema financeiro, que estabecelem e reorganizam as práticas sociais dominantes. Perante este espaço de fluxos, não há Presidente da República que consiga ter poder e autonomia para impor vontades e futuros para os cidadãos do seu país.
Quem não se ligar aos nós de ligação dessa rede e não conseguir que os seus interesses sejam representados dentro da estrutura desse espaço de fluxos bem pode debater incessantemente, que o seu futuro não será deveras risonho....