Estive a pensar, com a angústia a que a situação obriga, o que fazer deste país, como ultrapassar a crise que nos corrói o amâgo da pátria. Passei dias em bibliotecas, noites mal dormidas, até que, num golpe que apenas posso atribuir à influência divina (obrigado Karol pelas tuas orações), deparei, numa singela, aparentemente inofensiva e mal iluminada prateleira de uma livraria mal frequentada, com as obras de Milton Friedman e Von Hayek. Foi uma autêntica epifania. A doutrina neo-liberal é do caraças, do melhor que já vi, tanto tempo perdido no marxismo, tanta pomba assassinada. Pois bem, devorei os compêndios, linha por linha, página por página. Converti-me em absoluto e, passo a modéstia, acho que superei os próprios mestres.
É falso que a doutora Manuel das finanças esteja a delapidar o património público para cobrir o sacrossanto défice. O património público é infindável pois a nação ainda não alienou o que tem de melhor: os portugueses. Não falo do comum trabalhador, que como sabemos é preguiçoso e não faz nenhum, mas dos nosso notáveis, essa gente tão extraordinariamente inteligente. Proponho, para não darmos logo cabo das jóias da coroa, que sejamos contidos no início deste processo. Deste modo, acho que podiamos vender o José Manuel Fernandes, o Luís Delgado, o Telmo Correia, o João Carlos Espada, o João César das Neves e a Maria de Fátima Bonifácio. Escolhi-os porque acho que estão em melhor condição que ninguém para compreender este esforço pelo bem da nação. Entregamo-los aos desígnios do mercado, que ele decida se valem ao não alguma coisa.