quinta-feira, janeiro 08, 2004

Os Segurados e os Coitadinhos

A notícia que faz hoje manchete no Público, referente à pretensão do Centro Hospitalar do Alto Minho (CHAM), que compreende os hospitais de Viana do Castelo e Ponte de Lima, arrancar com um serviço de consulta e tratamento "célere e personalizado" para sinistrados em acidentes de viação e de trabalho que sejam beneficiários de seguradoras ou de outros sub-sistemas de saúde que não o do Serviço Nacional de Saúde (SNS), revela à saciedade o caminho que se está a visar implementar no sector público da Saúde.
É o caminho da progressiva privatização dos hospitais públicos (erguidos e pagos com o impostos dos contribuintes), desembocando na criação de procedimentos discriminatórios de tratamento dos utentes a partir dos dotes financeiros que possuem, é o caminho, em suma, da “feudalização” da prestação pública dos cuidados de saúde.
Os segurados usufruírão de “um atendimento mais atempado, célere, e personalizado”, não serão “atirados para lista de espera”, porque "há que responder às exigências de quem nos paga", refere o Adiministrador do Hospital!
Depreende-se que aos não-segurados, os utentes do SNS, que pagaram com o dinheiro dos seus impostos a construção dos hospitais e que mensalmente aplacam os salários do pessoal médico e dos pobres administradores, estará reservado o tratamento oposto, ou seja, um atendimento menos atempado, lento e despersonalizado, sendo atirados para listas de espera, porque não pagam ou não pagam aquilo que eles querem!
Tudo isto, imagine-se, não em instalações financiadas pelas seguradoras, mas, descaramento dos descaramentos, no interior dos próprios hospitais da rede do Serviço Nacional de Saúde!!!
O Ministro da Saúde, quadro emprestado por um dos principais interessados na empresarialização dos hospitais, o Grupo Mello, diz de forma "surpreendente" que “é um caminho a seguir”!..
Por aqui se vê que a máscara da empresarialização da gestão hospitalar mais não era, realmente, do que um manto esfarrapado para esconder a vontade particularística de apropriação do serviço nacional de saúde e da sua extinção progressiva, feita com a conivência e o beneplácito deste Governo!