Em relação ao meu post anterior o camarada César contestou, informalmente, algumas das minhas afirmações. As suas discordâncias foram em dois sentidos. Por um lado, afirmou ele, a maior parte das pessoas que estava em Sines não era da terra, mas de Lisboa, o que contrariaria a ideia de uma política local de desenvolvimento. Por outro lado, a própria música apresentada no festival teria pouco a ver com o gosto das pessoas da terra. Deste modo, o festival de Sines estaria mais a servir uma população de Lisboa, com determinados gostos, digamos, próximo de certa classe média.
A verdade é que o César tem, em grande parte, razão. O que ele não apresenta, no entanto, é um modelo alternativo que permita que a sua crítica se torne construtiva. Temos um festival com um conjunto de grupos que se inclui no que se chama de World Music (embora, na minha opinião, o festival consiga ir para além deste chapéu), fora, portanto, do registo mais claramente comercial das rádios, televisões, editoras, distribuidoras, etc; um festival cuja entrada, pelos três dias, custa 10 euros; existem, à parte, inúmeras iniciativas gratuitas. A música não será globalmente conhecida mas, com toda a certeza, não apresenta os problemas formais de um concerto de trash metal, ou de música de câmara, ou um espectáculo de dança contemporânea, etc. A lógica do festival de Sines, aliás, não é assim tão diferente da apresentada nas Cantigas de Maio do Seixal, ou mesmo, embora neste caso a questão seja mais complexa, na festa do Avante.
Claro que isto não evita os dois problemas colocados: a invasão da classe média lisboeta (embora seja discutível que as pessoas vindas de Lisboa sejam na sua maioria de classe média) e a dificuldade dos habitantes de Sines, por incompatibilidade formal com a música apresentada, aderirem ao evento.
Assim de repente só me lembro de uma solução para o problema do César: o populismo. Esta solução é, aliás, utilizada em grande parte dos nossos munícipios. Usando aquela velha máxima rangeliana de que «só damos ao povo o que o povo quer», enchamos o Castelo de Sines com o Nel Monteiro e a Mónica Sintra. De certeza que temos adesão maciça à la Chão da Lagoa. Estou em crer que, apesar de tudo, quem organiza o festival de Sines tem o povo em melhor conta. Infelizmente, dirão algumas almas mais intolerantes e desconfiadas, não é possível proibir a classe média de Lisboa de rumar a sul.
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