O argumento, várias vezes repetido entre os adeptos da intervenção militar no Iraque, de que o desfecho das eleições em Espanha foi uma vitória do terrorismo é desprezível. Têm razão ainda, apesar de entretanto terem sido acusados de demagogia, todos aqueles que responsabilizam os governos ocidentais que participaram na guerra por qualquer dano infligindo sobre populações civis dos seus países. Sim, são eles os responsáveis. Esperemos que não tenhamos um dia que pedir responsabilidades ao Dr. Durão pela sua subserviência. Fez escândalo a afirmação do Dr. Soares quando sugeriu que se deve procurar negociar com os terroristas. O Dr. Portas veio logo vociferar: é impossível negociar com terroristas. O Dr. Portas e o Dr. Barroso colocaram o nosso país ao lado de nações que invadem fora do direito internacional, que desrespeitam resoluções das Nações Unidas, que bombarderam e mataram muito mais dos que os terroristas de que fala o Dr. Portas tão horrorizado. São estes os nossos aliados, que agem tão impunemente que nem a preocupação têm de inventar umas quaisquer armas de destruição maciça para legitimar os seus actos. Se em muitos países da Europa se começa a sentir o medo na rua, se vivemos cada vez numa paranóia securitária, devemo-lo aos «defensores da liberdade». Não é demagogia afirmar isto, é simplesmente a verdade.
O chamado fundamentalismo islâmico nasceu da miséria e da opressão, de vidas deploráveis que as mesquitas acabaram por proteger. Em troca das mínimas condições de vida, que os Estados corruptos e os invasores estrangeiros nunca quiseram dar, estes evangelistas do corão mais ortodoxo pedem a entrega das almas. O ódio do ocidente gera mais ódio, a modernização já muito evidente em países como o Irão é posta em causa pela política dos Estados Unidos e dos seus acólitos. Não podemos cair no erro de olhar para estes indivíduos e considerá-los uns loucos irracionais. Eles são muito racionais, sabem perfeitamente o que querem. Os terroristas não são marcianos, encarnações do mal, são pessoas e as suas acções, obviamente condenáveis, têm causas. São essas causas que têm que ser interrogadas.
Mas claro que que a força interna de um império exige um inimigo, nem que ele tenha que ser inventado. E depois da Al-Qaeda? Quando é que a América se vira mais para a Oriente?