A dois meses das legislativas ainda não se percebeu quais as linhas principais que guiam a política do maior partido da oposição. Pensar-se-ia que com um governo tão débil fosse simples elaborar políticas estruturais alternativas ou pelo menos que surgissem duas ou três ideias elementares. Mas não. O último tempo de antena do PS foi muita forma e pouco conteúdo. O marketing esteve em grande na escolha da indumentária do líder, no estudo da sua postura frente às câmaras e na composição dos planos. Devem ter sido os mesmo senhores do marketing que convençeram o PS que metade do seu tempo de antena devia ser preenchido com imagens do Euro 2004 e da euforia nacionalista de bandeirinha em punho. O resto foram lugares comuns, generalidades que qualquer pessoa com bom senso, seja de esquerda ou direita, pode aceitar.
Tudo leva a crer que vamos ter, mais do que outra coisa, uma competição de projectos de marketing: quem vai ser a empresa que conseguirá vender melhor o seu produto? Será possível reciclar Santana Lopes, especialmente agora que Vangelis mudou de trincheira e que os comícios do PSD vão ter aquele tom épico enjoativo que serve apenas o culto da personalidade? Ou será que a pose modernaça de Sócrates vai acabar por vingar?
A política hoje é cada vez mais um exercício de imagem, com muitos slogans, frases fortes, adjectivos certeiros, tons de voz ensaiados, sorrisos, balõezinhos, cantores populares, jogadores de futebol e nacionalismo.
Entretanto, os cidadãos continuam longe de terem acesso aos critérios que lhes permitiram efectuar as escolhas. É a democracia.
sexta-feira, dezembro 31, 2004
quinta-feira, dezembro 30, 2004
Fontes de Inspiração
"Julgo que se não fosse Nelas e as páginas de necrologia, nunca teria escrito nada."
Lobo Antunes, Jornal do Centro
Lobo Antunes, Jornal do Centro
segunda-feira, dezembro 27, 2004
Sr. Carlos
A quadra natalícia tem nos dias de hoje como sua consorte a euforia comercial. Companheira inseparável e omnipotente, a voragem das compras, actualmente, é consumada sobretudo nos grandes centros comerciais, em detrimento do comércio tradicional.
Pessoalmente, é-me indiferente ter que fazer compras num centro comercial ou numa qualquer loja de rua. Escolho ou rejeito os locais para gastar os euricos, não segundo a tipologia de organização comercial, mas sim de acordo com um determinante critério de eleição: a qualidade do atendimento prestado.
Concedo que os horários de funcionamento, a atractividade das montras e do interior da lojas, a facilidade de estacionamento ou o resguardo das más condições atmosféricas, sejam variáveis que condicionam a escolha do local onde fazer compras, mas, como disse, elevo acima destas como variável determinante de eleição comercial a qualidade do atendimento, a qual, diga-se, não é exclusiva nem dos centros comerciais nem dos espaços de comércio tradicional.
E no âmbito da qualidade, há, para mim, uma loja imbatível, ou melhor, um comerciante supremo: a Papelaria do Sr. Carlos, na Rua Miguel Bombarda, em Viseu.
Do Sr. Carlos, homem já entrado na casa do sessenta anos de idade, pode dizer-se que foi até aqui há uns anos atrás funcionário de umas das mais antigas, e anteriormente famosa, papelarias de Viseu, a Papelaria Avenida.
Mas não era um funcionário qualquer, era a alma daquela loja, o vendedor extremoso, sempre bem-humorado e disponível para acolher com um sorriso nos lábios e rima nas palavras os clientes. Foi graças a ele que a Papelaria Avenida criou a aura de local de peregrinação obrigatória no comércio viseense.
Foi assim durante décadas, até que aqui há alguns anos resolveu abrir o seu espaço próprio, a sua própria papelaria, uma centena de metros acima do local onde antes laborava. É um espaço exíguo, sem centímetros disponíveis para grandes arranjos decorativos, e onde o material se acumula em altura.
Mas isso não é razão que impeça que uma pletora de clientes diariamente se acotovelem para aí efectuarem as suas compras. Todos eles sabem que aí vão ser recebidos de forma cortês.
Em contraponto, a antiga papelaria do Sr. Carlos, desde que ele saiu, definha diariamente, uma vez que os seus clientes se desviam voluntariamente para a papelaria do Sr. Carlos, o que não é de estranhar se tivermos presente os “monos de gesso” que aí estão prostrados atrás do balcão.
Afinal, apenas na papelaria do Sr. Carlos, é possível acontecer um diálogo destes:
Cliente - Boa tarde, desejava o Público, se faz favor.
Sr. Carlos – Ah, o jornal Público, perfeitamente. O “Público” para o bom público!
Entretanto o Sr. Carlos procura nos bastidores da loja o jornal, e regressa pouco tempo depois.
- Queira-me desculpar este tempo, mas é que já não tenho nenhum exemplar lá dentro. Há apenas um que está ali afixado junto à porta, ao fresquinho, como convém que sejam as notícias. Com licença.
Regressa o Sr. Carlos com o jornal, e prossegue:
- Tenha a amabilidade, aqui tem o Público, hoje com dois suplementos: um de música e de artes para elevar a cultura e o espírito, e um outro de sátira, Inimigo de seu nome, mas amigo da justa crítica mordaz dos nossos tempos.
Entretanto, o cliente, já a rir-se, recebe o jornal, paga e despede-se com o tradicional obrigado, ao que o Sr. Carlos devolve:
- Ora, eu é que agradeço gentilmente a sua preferência por este estabelecimento. Sempre ao dispor!
Perante isto, não é de estranhar que o Sr. Carlos seja o demiurgo dos comerciantes de Viseu, e não só.
Pessoalmente, é-me indiferente ter que fazer compras num centro comercial ou numa qualquer loja de rua. Escolho ou rejeito os locais para gastar os euricos, não segundo a tipologia de organização comercial, mas sim de acordo com um determinante critério de eleição: a qualidade do atendimento prestado.
Concedo que os horários de funcionamento, a atractividade das montras e do interior da lojas, a facilidade de estacionamento ou o resguardo das más condições atmosféricas, sejam variáveis que condicionam a escolha do local onde fazer compras, mas, como disse, elevo acima destas como variável determinante de eleição comercial a qualidade do atendimento, a qual, diga-se, não é exclusiva nem dos centros comerciais nem dos espaços de comércio tradicional.
E no âmbito da qualidade, há, para mim, uma loja imbatível, ou melhor, um comerciante supremo: a Papelaria do Sr. Carlos, na Rua Miguel Bombarda, em Viseu.
Do Sr. Carlos, homem já entrado na casa do sessenta anos de idade, pode dizer-se que foi até aqui há uns anos atrás funcionário de umas das mais antigas, e anteriormente famosa, papelarias de Viseu, a Papelaria Avenida.
Mas não era um funcionário qualquer, era a alma daquela loja, o vendedor extremoso, sempre bem-humorado e disponível para acolher com um sorriso nos lábios e rima nas palavras os clientes. Foi graças a ele que a Papelaria Avenida criou a aura de local de peregrinação obrigatória no comércio viseense.
Foi assim durante décadas, até que aqui há alguns anos resolveu abrir o seu espaço próprio, a sua própria papelaria, uma centena de metros acima do local onde antes laborava. É um espaço exíguo, sem centímetros disponíveis para grandes arranjos decorativos, e onde o material se acumula em altura.
Mas isso não é razão que impeça que uma pletora de clientes diariamente se acotovelem para aí efectuarem as suas compras. Todos eles sabem que aí vão ser recebidos de forma cortês.
Em contraponto, a antiga papelaria do Sr. Carlos, desde que ele saiu, definha diariamente, uma vez que os seus clientes se desviam voluntariamente para a papelaria do Sr. Carlos, o que não é de estranhar se tivermos presente os “monos de gesso” que aí estão prostrados atrás do balcão.
Afinal, apenas na papelaria do Sr. Carlos, é possível acontecer um diálogo destes:
Cliente - Boa tarde, desejava o Público, se faz favor.
Sr. Carlos – Ah, o jornal Público, perfeitamente. O “Público” para o bom público!
Entretanto o Sr. Carlos procura nos bastidores da loja o jornal, e regressa pouco tempo depois.
- Queira-me desculpar este tempo, mas é que já não tenho nenhum exemplar lá dentro. Há apenas um que está ali afixado junto à porta, ao fresquinho, como convém que sejam as notícias. Com licença.
Regressa o Sr. Carlos com o jornal, e prossegue:
- Tenha a amabilidade, aqui tem o Público, hoje com dois suplementos: um de música e de artes para elevar a cultura e o espírito, e um outro de sátira, Inimigo de seu nome, mas amigo da justa crítica mordaz dos nossos tempos.
Entretanto, o cliente, já a rir-se, recebe o jornal, paga e despede-se com o tradicional obrigado, ao que o Sr. Carlos devolve:
- Ora, eu é que agradeço gentilmente a sua preferência por este estabelecimento. Sempre ao dispor!
Perante isto, não é de estranhar que o Sr. Carlos seja o demiurgo dos comerciantes de Viseu, e não só.
domingo, dezembro 26, 2004
Dr. Strangelove
O DVD é uma das poucas armas eficazes para combater o meu longo bocejo natalício. Visto há bastante tempo, Dr. Estranhoamor varrera-se-me da memória. Não vale a pena insistir em loas ao filme, apenas mais uma das obras-primas de Kubrick, um primado da estética em que não há um plano que seja menos do que excepcional. Como a experiência do cinema tem sempre algo a ver com o presente, com o nosso e com o do mundo, Dr. Estranhoamor pareceu-me um fábula sobre a bomba atómica bastante actual. As principais personagens de Kubrick continuam por ai. Sterling Hayden encarna um general que resolve lançar a bomba sobre a então União Soviética para defender a pureza dos americanos, cujos fluídos corporais estavam ameçados pelo comunismo internacional. George C. Scott faz uma caricatura perfeita de outro general americano, um profissional da guerra, para quem os mortos são apenas números num balanco contabilístico. Peter Sellers interpreta - entre outras brilhantes personagens - o Dr. Strangelove, um teórico nazi que imagina novas sociedades purificadas. Diga-se que o realizador não é menos contundente com o outro bloco militar.
Kubrick era um antimilitarista acérrimo.
Os seus medos relativos ao advento de uma sociedade fortemente influenciada pela hierarquia militar, pela indústria das armas e pelos profissionais da morte devem continuar a assustar-nos.
Kubrick era um antimilitarista acérrimo.
Os seus medos relativos ao advento de uma sociedade fortemente influenciada pela hierarquia militar, pela indústria das armas e pelos profissionais da morte devem continuar a assustar-nos.
quarta-feira, dezembro 22, 2004
I&D
Há cerca de um ano atrás era vê-los reunidos em opíparos almoços no Convento do Beato para exararem discursos eloquentes acerca dos funestos e atávicos males que assolam continuamente este país.
Chamavam-se a si próprios “Compromisso Portugal” e congregavam fundamentalmente uma plêiade de gestores e economistas, provindos dos maiores grupos empresariais do País. O seu objectivo principal consistia em morigerar a acção governativa segundo, diziam eles, as modernas teorias económicas e de organização funcional das empresas.
Verberavam o papel interventor do Estado na educação, na saúde, na segurança social, “...quando o mercado se pode perfeitamente substituir ao Estado nesse papel sem qualquer dano para o público em geral e com ganhos claros na produtividade e no nível de serviço”, o fim da presença estatal na gestão das águas, dos transportes ferroviários, dos aeroportos e dos correios, entre muitos outros, porque “...o Estado é um mau gestor e as empresas públicas apresentam cronicamente avultados prejuízos”, etc, etc.
Ironicamente, o Público de hoje reza que “Portugal é o único país do antigo grupo dos 15 da União Europeia (UE) que não consta de uma lista de 500 empresas que mais investiram em investigação e desenvolvimento (I&D) em 2003”.
Ora, quando o axioma que determina o posicionamento global da economias nacionais na actual sociedade informacional postula que a mola decisiva para o crescimento económico radica na capacidade de inovação, nomeadamente aquela que se organiza à volta do grupo convergente de tecnologias formado pela microelectrónica, informática, telecomunicações, biotecnologia e engenharia genética, e depois se lê a este propósito que “a soma do investimento em 2003 das dez empresas portuguesas referidas, que é de 8,5 milhões de euros, não chega ao investimento anual da última empresa das 500 mais europeias”, por aí se vê o fosso que separa a realidade e as preocupações e práticas dos nossos empresários...
Por curiosidade, nos cinco primeiros lugares da lista de empresas europeias mais investiram em investigação e desenvolvimento (I&D), em 2003, estão a Daimler Chrysler, a Siemens, a Volkswagen, a Nokia e a GlaxoSmithKline, representando as áreas que mais investem não só a nível europeu mas a nível mundial - ou seja, a indústria automóvel, a biotecnologia e farmacêutica e as tecnologias da informação e equipamento electrónico...
Chamavam-se a si próprios “Compromisso Portugal” e congregavam fundamentalmente uma plêiade de gestores e economistas, provindos dos maiores grupos empresariais do País. O seu objectivo principal consistia em morigerar a acção governativa segundo, diziam eles, as modernas teorias económicas e de organização funcional das empresas.
Verberavam o papel interventor do Estado na educação, na saúde, na segurança social, “...quando o mercado se pode perfeitamente substituir ao Estado nesse papel sem qualquer dano para o público em geral e com ganhos claros na produtividade e no nível de serviço”, o fim da presença estatal na gestão das águas, dos transportes ferroviários, dos aeroportos e dos correios, entre muitos outros, porque “...o Estado é um mau gestor e as empresas públicas apresentam cronicamente avultados prejuízos”, etc, etc.
Ironicamente, o Público de hoje reza que “Portugal é o único país do antigo grupo dos 15 da União Europeia (UE) que não consta de uma lista de 500 empresas que mais investiram em investigação e desenvolvimento (I&D) em 2003”.
Ora, quando o axioma que determina o posicionamento global da economias nacionais na actual sociedade informacional postula que a mola decisiva para o crescimento económico radica na capacidade de inovação, nomeadamente aquela que se organiza à volta do grupo convergente de tecnologias formado pela microelectrónica, informática, telecomunicações, biotecnologia e engenharia genética, e depois se lê a este propósito que “a soma do investimento em 2003 das dez empresas portuguesas referidas, que é de 8,5 milhões de euros, não chega ao investimento anual da última empresa das 500 mais europeias”, por aí se vê o fosso que separa a realidade e as preocupações e práticas dos nossos empresários...
Por curiosidade, nos cinco primeiros lugares da lista de empresas europeias mais investiram em investigação e desenvolvimento (I&D), em 2003, estão a Daimler Chrysler, a Siemens, a Volkswagen, a Nokia e a GlaxoSmithKline, representando as áreas que mais investem não só a nível europeu mas a nível mundial - ou seja, a indústria automóvel, a biotecnologia e farmacêutica e as tecnologias da informação e equipamento electrónico...
segunda-feira, dezembro 20, 2004
Eu um sou um grandi fan dos Sigur Rós
Foi deste modo que Argel, o defesa do Benfica, justificou o seu comportamento nos momentos seguintes ao golo que marcou frente ao Penafiel, quando correu para Trapattoni e o beijou na testa.
“Desde que vi aquele videoclip dos Sigur Rós, “Vidrar Vel Til Loftârâsâ”, onde um jovem futebolista, depois marcar um golo, corre para os braços de um colega e lhe aplica uns apaixonados ósculos, tive sempre o desejo de poder repetir semelhante façanha, ainda para mais quando sabia que estavam 10.000 Pais Natais no Estádio. Parecia mesmo que estava a jogar no Pólo Norte”, disse Argel aos jornalistas presentes na conferência.
Mas Argel foi ainda mais longe, ao admitir que a sonoridade telúrica da banda islandesa tem provocado efeitos surpreendentes na mudança da sua personalidade.
“Antes de conhecer os Sigur Rós era uma pessoa com uma certa inclinação violenta. Rebentava com computadores na Torre das Antas, rebentava com as beiças dos seguranças do Colombo por causa de umas fraldas, enfim, reconheço que era um cara pouco recomendável. Agora, depois do contacto com os videoclips dos Sigur Rós, sou um homem novo, cheio de amor para distribuir por todo o mundo. Da próxima vez que marcar um golo, e que não seja na própria baliza, já prometi ao nosso presidente que irei até aos camarotes para lhe beijar as orelhas”, acrescentou o defesa brasileiro do Benfica.
Dada a explicação, Argel despediu-se dos jornalistas, rematando em alto e bom som, “Viva os Sigur Rós!”.
“Desde que vi aquele videoclip dos Sigur Rós, “Vidrar Vel Til Loftârâsâ”, onde um jovem futebolista, depois marcar um golo, corre para os braços de um colega e lhe aplica uns apaixonados ósculos, tive sempre o desejo de poder repetir semelhante façanha, ainda para mais quando sabia que estavam 10.000 Pais Natais no Estádio. Parecia mesmo que estava a jogar no Pólo Norte”, disse Argel aos jornalistas presentes na conferência.
Mas Argel foi ainda mais longe, ao admitir que a sonoridade telúrica da banda islandesa tem provocado efeitos surpreendentes na mudança da sua personalidade.
“Antes de conhecer os Sigur Rós era uma pessoa com uma certa inclinação violenta. Rebentava com computadores na Torre das Antas, rebentava com as beiças dos seguranças do Colombo por causa de umas fraldas, enfim, reconheço que era um cara pouco recomendável. Agora, depois do contacto com os videoclips dos Sigur Rós, sou um homem novo, cheio de amor para distribuir por todo o mundo. Da próxima vez que marcar um golo, e que não seja na própria baliza, já prometi ao nosso presidente que irei até aos camarotes para lhe beijar as orelhas”, acrescentou o defesa brasileiro do Benfica.
Dada a explicação, Argel despediu-se dos jornalistas, rematando em alto e bom som, “Viva os Sigur Rós!”.
quarta-feira, dezembro 15, 2004
O Senhor dos Anéis
Idealmente, a acção governativa deve imperativamente servir o bem comum. Por imprevistos de várias ordens ou quaisquer alterações súbitas àquilo que inicialmente foi programado, sabe-se que nem sempre assim acontece. Todavia, os desvios às boas intenções iniciais são aceitáveis quando a ponderação e a isenção presidiram de modo evidente à tomada de atitudes por parte dos actores políticos.
Ao invés, quando se torna óbvio que uma decisão política terá claros efeitos nocivos para a comunidade, nomeadamente em termos futuros, devido a ter sido irresponsavelmente feita em cima dos joelhos, a sensação de desconfiança acerca da boa índole de quem nos governa acresce.
Vem isto a propósito da intenção do demissionário Governo em vender 65 imóveis por ajuste directo como forma de salvar as contas públicas de 2004, quando prometeu no Parlamento fazê-lo “preferencialmente por hasta pública”. Saliente-se que a grande maioria destes imóveis são actualmente ocupados por serviços públicos, os quais passarão a ser inquilinos e a pagar as respectivas rendas, aumentando a despesa corrente dos mesmos.
Na minha inocência, sempre parti do pressuposto da exigência de estudos que lobrigassem qual o impacto para o erário público que este tipo de atitudes acarretam.
Esta forma de encarar as coisas desmorona-se estrondosamente, quando se sabe que “o Ministério das Finanças nunca divulgou, mesmo ao Parlamento, uma estimativa desses novos custos regulares que esta operação vai acarretar e que apesar de instado várias vezes a esclarecer os deputados sobre os custos futuros para o Estado da venda de património imobiliário dos seus serviços, o ministro Bagão Félix se esquivou a dar essa resposta”.
Ou seja, no meu inocente modo de ver (admito que o problema pode estar em mim), o Estado Português, em mais uma urgente operação de cosmetologia financeira para fazer face ao imediato, neste caso designado pacto de Estabilidade de Crescimento, prepara-se para vender ao desbarato mais uns quantos anéis que diariamente usa, para de futuro ir alugar os mesmos anéis aos seus compradores a um preço desconhecido, sem dar deliberadamente cavaco acerca da onerosidade desta operação para o erário público.
Tinha para comigo que a salvaguarda dos dinheiros dos contribuintes não se compaginava com apostas na roleta, às cegas e no escuro, sem que os riscos estejam estudados e acautelados, enfim, sem qualquer análise prospectiva. Pelo vistos, mais uma vez estava enganado, porque a lógica neste caso é só uma: quem vier que feche a porta.
Ao invés, quando se torna óbvio que uma decisão política terá claros efeitos nocivos para a comunidade, nomeadamente em termos futuros, devido a ter sido irresponsavelmente feita em cima dos joelhos, a sensação de desconfiança acerca da boa índole de quem nos governa acresce.
Vem isto a propósito da intenção do demissionário Governo em vender 65 imóveis por ajuste directo como forma de salvar as contas públicas de 2004, quando prometeu no Parlamento fazê-lo “preferencialmente por hasta pública”. Saliente-se que a grande maioria destes imóveis são actualmente ocupados por serviços públicos, os quais passarão a ser inquilinos e a pagar as respectivas rendas, aumentando a despesa corrente dos mesmos.
Na minha inocência, sempre parti do pressuposto da exigência de estudos que lobrigassem qual o impacto para o erário público que este tipo de atitudes acarretam.
Esta forma de encarar as coisas desmorona-se estrondosamente, quando se sabe que “o Ministério das Finanças nunca divulgou, mesmo ao Parlamento, uma estimativa desses novos custos regulares que esta operação vai acarretar e que apesar de instado várias vezes a esclarecer os deputados sobre os custos futuros para o Estado da venda de património imobiliário dos seus serviços, o ministro Bagão Félix se esquivou a dar essa resposta”.
Ou seja, no meu inocente modo de ver (admito que o problema pode estar em mim), o Estado Português, em mais uma urgente operação de cosmetologia financeira para fazer face ao imediato, neste caso designado pacto de Estabilidade de Crescimento, prepara-se para vender ao desbarato mais uns quantos anéis que diariamente usa, para de futuro ir alugar os mesmos anéis aos seus compradores a um preço desconhecido, sem dar deliberadamente cavaco acerca da onerosidade desta operação para o erário público.
Tinha para comigo que a salvaguarda dos dinheiros dos contribuintes não se compaginava com apostas na roleta, às cegas e no escuro, sem que os riscos estejam estudados e acautelados, enfim, sem qualquer análise prospectiva. Pelo vistos, mais uma vez estava enganado, porque a lógica neste caso é só uma: quem vier que feche a porta.
terça-feira, dezembro 14, 2004
Tubo de escape
Eduardo outra vez. Não é que o homem, entre os múltiplos afazeres académicos e culturais, ainda tem tempo para se debruçar sobre algo tão popular e insignificante como o futebol. Uma honra para todos aqueles que, faltando-lhes a cultura que sobra a Prado Coelho, se dedicam a esmiuçar a telenovela do pontapé na bola. E o que tão nobre personagem tem para oferecer aos aficionados do jogo? Pois bem, Eduardo respondeu com a sua excelência habitual a algumas perguntas singelas efectuadas pelo diário de distribuição gratuita Destak. Pérolas de estilo literário. Voa pensamento. Na primeira resposta, afirma convicto e resoluto que “O Sporting tem sido muito irregular no campeonato mas tem vindo em crescendo. É natural que agora atinja um nível de qualidade melhor.” É realmente natural. Faz sentido. De seguida, Eduardo ultrapassa as melhores expectativas ao referir-se ao Benfica: “Como aspectos positivos o Benfica tem principalmente Simão. Mas depois tem aspectos negativos, que é o caso da defesa. São muito fracos nessa área e têm jogadores muito fracos. E depois há jogos em que parece que a equipa desaparece.” Isto é tão bonito que só se percebe realmente na forma poética.
Como aspectos positivos
Benfica tem
Principalmente
Simão
Mas depois tem aspectos negativos
que é o caso da defesa
São muito fracos nessa área
e têm jogadores muito fracos
E depois há jogos
em que parece
que a equipa desaparece
Só mais uma. Qual a utilidade de um jogo como o futebol para a sociedade portuguesa? “Não é um propriamente uma utilidade. Entre várias funcionalidades o futebol focaliza diferentes emoções e serve de tubo de escape para as tensões da sociedade.” É um artista português ao nível do tubo de escape.
Como aspectos positivos
Benfica tem
Principalmente
Simão
Mas depois tem aspectos negativos
que é o caso da defesa
São muito fracos nessa área
e têm jogadores muito fracos
E depois há jogos
em que parece
que a equipa desaparece
Só mais uma. Qual a utilidade de um jogo como o futebol para a sociedade portuguesa? “Não é um propriamente uma utilidade. Entre várias funcionalidades o futebol focaliza diferentes emoções e serve de tubo de escape para as tensões da sociedade.” É um artista português ao nível do tubo de escape.
sábado, dezembro 11, 2004
www.grupodopato.blogspot.com
Confesso que me cansam um pouco os posts com remissões constantes para outras moradas electrónicas, artigos, blogs, etc. Prefiro ler os meus comparsas do que as suas simpáticas remissões. Talvez fosse útil resumir tudo num género de escolha semanal ou enviar as informações por e-mail, ou, então, escrever posts que analisem o contexto das remissões, isto é, que valham por si, que não sejam apenas uma fonte de informação, por mais útil que ela seja.
Posto isto, vou enfiar a carapuça e aconselhar o excelente artigo que Augusto Santos Silva escreve hoje no Público: "Sobressalto Cívico Precisa-se". Uma inteligente análise dos mecanismos do populismo em Portugal.
Para além do seu conteúdo, o artigo é importante por outros dois motivos. É revelador. Revela que Santos Silva está bastante acima da mediana do seu partido. É trágico. Só chega a uma clique de portugueses que por educação está preparada para resistir ao contexto político e cultural do populismo retrógado e reaccionário.
http://jornal.publico.pt/publico/2004/12/11/EspacoPublico/O01.html
Posto isto, vou enfiar a carapuça e aconselhar o excelente artigo que Augusto Santos Silva escreve hoje no Público: "Sobressalto Cívico Precisa-se". Uma inteligente análise dos mecanismos do populismo em Portugal.
Para além do seu conteúdo, o artigo é importante por outros dois motivos. É revelador. Revela que Santos Silva está bastante acima da mediana do seu partido. É trágico. Só chega a uma clique de portugueses que por educação está preparada para resistir ao contexto político e cultural do populismo retrógado e reaccionário.
http://jornal.publico.pt/publico/2004/12/11/EspacoPublico/O01.html
sexta-feira, dezembro 10, 2004
www.psd.pt
Provavelmente desconsolado com os resultados que todas as sondagens têm dado à estampa acerca da justeza, ou não, da decisão do PR, o PSD/PPD decidiu reconfortar o seu ego e elevar a sua auto-estima, ao colocar a votação no seu site a seguinte questão:
"Concorda com a Decisão do Presidente da República em Convocar Eleições Antecipadas?"
Para espanto geral, neste momento, o Não obtém 69,04% de votos, contra 30,96% do Sim!
Ao menos nalgum lado se reconhece o carácter injusto da decisão do PR e o autêntico abuso de poder que este exerceu, apenas possível num país que vive ainda numa situação de imaturidade democrática.
"Concorda com a Decisão do Presidente da República em Convocar Eleições Antecipadas?"
Para espanto geral, neste momento, o Não obtém 69,04% de votos, contra 30,96% do Sim!
Ao menos nalgum lado se reconhece o carácter injusto da decisão do PR e o autêntico abuso de poder que este exerceu, apenas possível num país que vive ainda numa situação de imaturidade democrática.
terça-feira, dezembro 07, 2004
Rambo 3 e um homem a cavalo
Até ao momento em que algum produtor de Hollywood mudar de opinião, Rambo 3 é o último filme da saga de John Rambo, personagem imortalizada pelo expressivo Sylvester Stallone. John Rambo pertence a uma galeria vasta de heróis americanos (que inclui bastantes super-heróis da BD), homens individualistas que funcionam fora das lógicas do poder institucionalizado, fazendo justiça pelas próprias mãos. São figuras típicas deste bestiário, ex-policias, detectives privados, antigos militares, indivíduos que faziam o seu trabalho de forma pouco ortodoxa e que foram, normalmente por uma qualquer injustiça, obrigados a viver à margem do funcionamento burocrático das instituições. Apesar de esmagados pelo mundo moderno das leis e regulamentos, algum episódio, uma missão, um rapto de um familiar, uma chantagem, fá-los voltar ao activo. Este arquétipo tem o charme inconfundível da fuga à modernidade, algo em que todos gostaríamos de viver senão estivéssemos presos aos tentáculos da vida quotidiana, emprego, família, etc. Vale-nos, claro, o cinema americano para viver durante algum tempo as emoções destes homens fora do seu tempo.
Em Rambo 3, o herói americano vai em missão ao Afeganistão para salvar um amigo preso pelas tropas soviéticas que ocupavam o país. Isto já foi há uns anitos como podem ir percebendo. A luta é desigual. De um lado, a máquina de guerra soviética, a representação da modernidade fria e calculista, burocrática e poderosa; do colectivo que esmaga os indivíduos. Do outro, o romântico John Rambo coadjuvado por um grupo, não menos romântico, de homens montados a cavalo. Os Mudjaidines. Se há elemento que não abunda neste tipo de filmes é a surpresa. John Rambo limpou os soviéticos com uma paradoxal eficácia moderna. Não será difícil de perceber que o cinema americano criou heróis românticos com bastante mais piada.
A imagem que o filme oferece dos amigos a cavalo do amigo Rambo é, por seu lado, bastante pedagógica. Os Mudjaidines eram uns amadores de cavalaria, corajosos e abnegados, mas falhos de qualquer estratégia eficaz para combater o poderoso inimigo soviético. Uns provincianos bem intencionados. As personagens destes bravos afegãos estão pouco definidas no filme. Se o realizador tivesse sido mais cuidadoso talvez pudéssemos ver entre os cavaleiros mudjaidines um saudita chamado Osama. Sim, Osama, o terrorista, o homem que, aparentemente, mandou as torres de Nova Iorque para o estaleiro e que nos obriga todos a viver neste mundo de loucura securitária. Quem diria, Osama ali mesmo ao lado de John Rambo. Se ele soubesse. Entretanto, a história ultrapassou com velocidade a ficção. Os bons e desajeitados homens a cavalo transformaram-se nos terríveis taliban. Uma espécie de nova encarnação do diabo, morto e enterrado o belzebu soviético.
Estou para saber de quem é a melhor definição do perigo islâmico, se a do Rambo 3 produzido em Hollywood, se a dos filmes de propaganda politica americana, engendrados por produtores relativamente mais sinistros. Onde está John Rambo quando precisamos dele?
Em Rambo 3, o herói americano vai em missão ao Afeganistão para salvar um amigo preso pelas tropas soviéticas que ocupavam o país. Isto já foi há uns anitos como podem ir percebendo. A luta é desigual. De um lado, a máquina de guerra soviética, a representação da modernidade fria e calculista, burocrática e poderosa; do colectivo que esmaga os indivíduos. Do outro, o romântico John Rambo coadjuvado por um grupo, não menos romântico, de homens montados a cavalo. Os Mudjaidines. Se há elemento que não abunda neste tipo de filmes é a surpresa. John Rambo limpou os soviéticos com uma paradoxal eficácia moderna. Não será difícil de perceber que o cinema americano criou heróis românticos com bastante mais piada.
A imagem que o filme oferece dos amigos a cavalo do amigo Rambo é, por seu lado, bastante pedagógica. Os Mudjaidines eram uns amadores de cavalaria, corajosos e abnegados, mas falhos de qualquer estratégia eficaz para combater o poderoso inimigo soviético. Uns provincianos bem intencionados. As personagens destes bravos afegãos estão pouco definidas no filme. Se o realizador tivesse sido mais cuidadoso talvez pudéssemos ver entre os cavaleiros mudjaidines um saudita chamado Osama. Sim, Osama, o terrorista, o homem que, aparentemente, mandou as torres de Nova Iorque para o estaleiro e que nos obriga todos a viver neste mundo de loucura securitária. Quem diria, Osama ali mesmo ao lado de John Rambo. Se ele soubesse. Entretanto, a história ultrapassou com velocidade a ficção. Os bons e desajeitados homens a cavalo transformaram-se nos terríveis taliban. Uma espécie de nova encarnação do diabo, morto e enterrado o belzebu soviético.
Estou para saber de quem é a melhor definição do perigo islâmico, se a do Rambo 3 produzido em Hollywood, se a dos filmes de propaganda politica americana, engendrados por produtores relativamente mais sinistros. Onde está John Rambo quando precisamos dele?
segunda-feira, dezembro 06, 2004
Na Roça com os Tachos
Apesar de ser quase um leigo na matéria, os programas de culinária nos ecrãs televisivos sempre me incutiram um certo fascínio, provavelmente por ser uma ciência cujos princípios básicos de funcionamento pouco quiseram comigo.
Tradicionalmente, estes programas foram dominados por nomes como Filipa Vacondeus e Mestre Silva. Estes dois, cozinheiros prestigiados ao que diziam, davam a conhecer nas televisões as receitas de algumas iguarias mais ou menos prosaicas, de uma forma profissional e linear.
Porém, notava-se que faltava ali um tom menos monocórdico nos discursos, maior expressividade na comunicação, em suma, um rasgo de genialidade na arte de ensinar a cozinhar.
Ora bem, essa lacuna foi agora colmatada por um são tomense de nome João Carlos Silva, no programa “Na Roça com os Tachos”, da Énetêbê (NTV).
Sempre acompanhado do seu clássico fogão camping gaz, demonstra a sua sageza nesta arte ao ar livre, junto das luxuriantes paisagens são tomenses. Ao sol ou mesmo à chuva, o que se vê é um cozinheiro completamente apaixonado pela sua actividade profissional, debitando mais “Óohhhs” de alegria e admiração durante a confecção das receitas do que o Gabriel Alves durante um jogo de futebol.
Aquilo é um cozinheiro-apresentador que canta e dança enquanto o peixe assa, que chama o cameraman, o Kálu, para ir provar e dizer de sua justiça sobre a mousse de manga que ele preparou, que deixa a comida ao lume para ir perseguir galinhas, enfim, um autêntico one man show!
Combinando a faceta de “verdadeiro artista” com a de virtuoso da cozinha, João Carlos Silva é, indiscutivelmente, o novo Imperador da gastronomia televisiva.
Tradicionalmente, estes programas foram dominados por nomes como Filipa Vacondeus e Mestre Silva. Estes dois, cozinheiros prestigiados ao que diziam, davam a conhecer nas televisões as receitas de algumas iguarias mais ou menos prosaicas, de uma forma profissional e linear.
Porém, notava-se que faltava ali um tom menos monocórdico nos discursos, maior expressividade na comunicação, em suma, um rasgo de genialidade na arte de ensinar a cozinhar.
Ora bem, essa lacuna foi agora colmatada por um são tomense de nome João Carlos Silva, no programa “Na Roça com os Tachos”, da Énetêbê (NTV).
Sempre acompanhado do seu clássico fogão camping gaz, demonstra a sua sageza nesta arte ao ar livre, junto das luxuriantes paisagens são tomenses. Ao sol ou mesmo à chuva, o que se vê é um cozinheiro completamente apaixonado pela sua actividade profissional, debitando mais “Óohhhs” de alegria e admiração durante a confecção das receitas do que o Gabriel Alves durante um jogo de futebol.
Aquilo é um cozinheiro-apresentador que canta e dança enquanto o peixe assa, que chama o cameraman, o Kálu, para ir provar e dizer de sua justiça sobre a mousse de manga que ele preparou, que deixa a comida ao lume para ir perseguir galinhas, enfim, um autêntico one man show!
Combinando a faceta de “verdadeiro artista” com a de virtuoso da cozinha, João Carlos Silva é, indiscutivelmente, o novo Imperador da gastronomia televisiva.
sexta-feira, dezembro 03, 2004
Um hooligan da burguesia
A novela do dirigente operário continua. Podem os operários ser dirigentes de partido políticos? Certamente que podem, especialmente se o partido a que pertencem se reclamar como representante da classe operária. Não é a categoria profissional, ou o grau académico, que melhor define o bom ou mau líder. Como diria o outro, é a prática. O tempo o dirá. Centrar a discussão sobre as capacidades de liderança de Jerónimo de Sousa nas sua origem de classe e na sua formação profissional e educacional é tontaria. Por vezes, chega a mesma a ser falta de inteligência ou ainda pior. Diga-se, no entanto, que Jerónimo de Sousa não é propriamente um operário, mas um quadro partidário.
É extraordinário como são muitas vezes pessoas cuja educação de classe supor-se-ia fosse um antídoto contra a análise bárbara que enveredam pelos caminhos ínvios da observação primária. Isto vem a propósito do miserável artigo que Eduardo Prado Coelho escreveu sobre Jerónimo de Sousa. O ultra-inteligente escriba do Público tem a liberdade de criticar o novo líder do PCP, não pode é ser racista. Os milhões de livros que Eduardo leu, os milhares de artistas e escritores que conheceu e apadrinhou, os biliões de filmes que viu, e, com certeza, a esmerada educação burguesa que recebeu, não foram suficientes para acabar com o apartheid mental que lhe molda a cabeça. O ódio de classe que espumou, racismo de classe para chamarmos as coisas pelos nomes, foi tão primário que estalou todo o verniz da erudição, deixando a nu um perigoso fundamentalista, um taliban, um hooligan da pior espécie. Um racista.
É extraordinário como são muitas vezes pessoas cuja educação de classe supor-se-ia fosse um antídoto contra a análise bárbara que enveredam pelos caminhos ínvios da observação primária. Isto vem a propósito do miserável artigo que Eduardo Prado Coelho escreveu sobre Jerónimo de Sousa. O ultra-inteligente escriba do Público tem a liberdade de criticar o novo líder do PCP, não pode é ser racista. Os milhões de livros que Eduardo leu, os milhares de artistas e escritores que conheceu e apadrinhou, os biliões de filmes que viu, e, com certeza, a esmerada educação burguesa que recebeu, não foram suficientes para acabar com o apartheid mental que lhe molda a cabeça. O ódio de classe que espumou, racismo de classe para chamarmos as coisas pelos nomes, foi tão primário que estalou todo o verniz da erudição, deixando a nu um perigoso fundamentalista, um taliban, um hooligan da pior espécie. Um racista.
quinta-feira, dezembro 02, 2004
PPM
Ontem à tarde, ao lado da habitual e risível manifestação dos membros do Grupo de Amigos de Olivença, estultos membros do Partido Nacional Renovador (PNR) e do Partido Popular Monárquico (PPM) indignavam-se perante a decisão do Presidente da República, os primeiros porque não vêem salvação possível em qualquer partido, excepto aquele que representam, obviamente, e os segundos porque 4 meses são insuficientes para fazer qualquer coisa (pelo contrário, são mais do suficientes para fazer muita coisa, quase sempre mal, como se viu...) acrescentando, ainda, que "estão abertos a coligações com o PSD."
- Ó meus amigos monárquicos, pela graça de Deus, atentai no que dizeis. Vós sois monárquicos, mui valorosos homens e mulheres que foram agraciados pelo Divino como portadores da Virtude e defensores inquebrantáveis da Pátria Lusitana. A vossa doutrina professa uma forma de governo em que o poder supremo é exercido por um monarca, representante terrestre do Divino; Como vindes agora apregoar o desejo de estardes à frente dos destinos de uma Nação Republicana, coligados com um Partido Republicano?!
Que grande confusão embacia as cabeças superiores destes monárquicos...
- Ó meus amigos monárquicos, pela graça de Deus, atentai no que dizeis. Vós sois monárquicos, mui valorosos homens e mulheres que foram agraciados pelo Divino como portadores da Virtude e defensores inquebrantáveis da Pátria Lusitana. A vossa doutrina professa uma forma de governo em que o poder supremo é exercido por um monarca, representante terrestre do Divino; Como vindes agora apregoar o desejo de estardes à frente dos destinos de uma Nação Republicana, coligados com um Partido Republicano?!
Que grande confusão embacia as cabeças superiores destes monárquicos...
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