A dois meses das legislativas ainda não se percebeu quais as linhas principais que guiam a política do maior partido da oposição. Pensar-se-ia que com um governo tão débil fosse simples elaborar políticas estruturais alternativas ou pelo menos que surgissem duas ou três ideias elementares. Mas não. O último tempo de antena do PS foi muita forma e pouco conteúdo. O marketing esteve em grande na escolha da indumentária do líder, no estudo da sua postura frente às câmaras e na composição dos planos. Devem ter sido os mesmo senhores do marketing que convençeram o PS que metade do seu tempo de antena devia ser preenchido com imagens do Euro 2004 e da euforia nacionalista de bandeirinha em punho. O resto foram lugares comuns, generalidades que qualquer pessoa com bom senso, seja de esquerda ou direita, pode aceitar.
Tudo leva a crer que vamos ter, mais do que outra coisa, uma competição de projectos de marketing: quem vai ser a empresa que conseguirá vender melhor o seu produto? Será possível reciclar Santana Lopes, especialmente agora que Vangelis mudou de trincheira e que os comícios do PSD vão ter aquele tom épico enjoativo que serve apenas o culto da personalidade? Ou será que a pose modernaça de Sócrates vai acabar por vingar?
A política hoje é cada vez mais um exercício de imagem, com muitos slogans, frases fortes, adjectivos certeiros, tons de voz ensaiados, sorrisos, balõezinhos, cantores populares, jogadores de futebol e nacionalismo.
Entretanto, os cidadãos continuam longe de terem acesso aos critérios que lhes permitiram efectuar as escolhas. É a democracia.