Há cerca de um ano atrás era vê-los reunidos em opíparos almoços no Convento do Beato para exararem discursos eloquentes acerca dos funestos e atávicos males que assolam continuamente este país.
Chamavam-se a si próprios “Compromisso Portugal” e congregavam fundamentalmente uma plêiade de gestores e economistas, provindos dos maiores grupos empresariais do País. O seu objectivo principal consistia em morigerar a acção governativa segundo, diziam eles, as modernas teorias económicas e de organização funcional das empresas.
Verberavam o papel interventor do Estado na educação, na saúde, na segurança social, “...quando o mercado se pode perfeitamente substituir ao Estado nesse papel sem qualquer dano para o público em geral e com ganhos claros na produtividade e no nível de serviço”, o fim da presença estatal na gestão das águas, dos transportes ferroviários, dos aeroportos e dos correios, entre muitos outros, porque “...o Estado é um mau gestor e as empresas públicas apresentam cronicamente avultados prejuízos”, etc, etc.
Ironicamente, o Público de hoje reza que “Portugal é o único país do antigo grupo dos 15 da União Europeia (UE) que não consta de uma lista de 500 empresas que mais investiram em investigação e desenvolvimento (I&D) em 2003”.
Ora, quando o axioma que determina o posicionamento global da economias nacionais na actual sociedade informacional postula que a mola decisiva para o crescimento económico radica na capacidade de inovação, nomeadamente aquela que se organiza à volta do grupo convergente de tecnologias formado pela microelectrónica, informática, telecomunicações, biotecnologia e engenharia genética, e depois se lê a este propósito que “a soma do investimento em 2003 das dez empresas portuguesas referidas, que é de 8,5 milhões de euros, não chega ao investimento anual da última empresa das 500 mais europeias”, por aí se vê o fosso que separa a realidade e as preocupações e práticas dos nossos empresários...
Por curiosidade, nos cinco primeiros lugares da lista de empresas europeias mais investiram em investigação e desenvolvimento (I&D), em 2003, estão a Daimler Chrysler, a Siemens, a Volkswagen, a Nokia e a GlaxoSmithKline, representando as áreas que mais investem não só a nível europeu mas a nível mundial - ou seja, a indústria automóvel, a biotecnologia e farmacêutica e as tecnologias da informação e equipamento electrónico...