Idealmente, a acção governativa deve imperativamente servir o bem comum. Por imprevistos de várias ordens ou quaisquer alterações súbitas àquilo que inicialmente foi programado, sabe-se que nem sempre assim acontece. Todavia, os desvios às boas intenções iniciais são aceitáveis quando a ponderação e a isenção presidiram de modo evidente à tomada de atitudes por parte dos actores políticos.
Ao invés, quando se torna óbvio que uma decisão política terá claros efeitos nocivos para a comunidade, nomeadamente em termos futuros, devido a ter sido irresponsavelmente feita em cima dos joelhos, a sensação de desconfiança acerca da boa índole de quem nos governa acresce.
Vem isto a propósito da intenção do demissionário Governo em vender 65 imóveis por ajuste directo como forma de salvar as contas públicas de 2004, quando prometeu no Parlamento fazê-lo “preferencialmente por hasta pública”. Saliente-se que a grande maioria destes imóveis são actualmente ocupados por serviços públicos, os quais passarão a ser inquilinos e a pagar as respectivas rendas, aumentando a despesa corrente dos mesmos.
Na minha inocência, sempre parti do pressuposto da exigência de estudos que lobrigassem qual o impacto para o erário público que este tipo de atitudes acarretam.
Esta forma de encarar as coisas desmorona-se estrondosamente, quando se sabe que “o Ministério das Finanças nunca divulgou, mesmo ao Parlamento, uma estimativa desses novos custos regulares que esta operação vai acarretar e que apesar de instado várias vezes a esclarecer os deputados sobre os custos futuros para o Estado da venda de património imobiliário dos seus serviços, o ministro Bagão Félix se esquivou a dar essa resposta”.
Ou seja, no meu inocente modo de ver (admito que o problema pode estar em mim), o Estado Português, em mais uma urgente operação de cosmetologia financeira para fazer face ao imediato, neste caso designado pacto de Estabilidade de Crescimento, prepara-se para vender ao desbarato mais uns quantos anéis que diariamente usa, para de futuro ir alugar os mesmos anéis aos seus compradores a um preço desconhecido, sem dar deliberadamente cavaco acerca da onerosidade desta operação para o erário público.
Tinha para comigo que a salvaguarda dos dinheiros dos contribuintes não se compaginava com apostas na roleta, às cegas e no escuro, sem que os riscos estejam estudados e acautelados, enfim, sem qualquer análise prospectiva. Pelo vistos, mais uma vez estava enganado, porque a lógica neste caso é só uma: quem vier que feche a porta.