Tem sido quase unanimemente reconhecido que esta campanha eleitoral tem proporcionado como nunca antes momentos inolvidáveis de galhofa. O ritmo das estultices, sejam em cartazes, em frases proferidas nos comícios, nas aparições televisivas dos candidatos, nas poses de estado forçadas, etc, etc., é tão elevado que somos virtualmente ultrapassados por elas.
Por isso vou agora apenas aqui falar do mais recente momento de assombro a que fui acometido nesta campanha e que tem como seu autor, sem espanto, um putativo candidato a ministro de um elenco governativo chefiado pelo PP, Pires de Lima de seu nome.
Primeiro, certamente inspirado no apelo à sublevação popular das gentes de Coimbra e ao fecho dos portões da cidade defendido por um seu colega de partido na passada semana, considerou que o PP é o partido revolucionário do século XXI! Bem que me tinha parecido que o tinha visto a ele e ao seu presidente de partido na semana passada no Porto a cantar alegremente o clássico slogan do PCP, adaptado agora por estes novos revolucionários, para “Assim se vê a força do PP”.
Logo de seguida, veio opinar que a causa dos salários baixos dos trabalhadores portugueses deve ser imputada às forças de esquerda do PREC. Só para confirmar esta asserção (a minha memória podia já não ser o que era...) fui ao site da CNE para verificar a vigência governativa destas obscurantistas forças ao longo da história da democracia portuguesa.
Segundo o CNE, que pode estar a desvirtuar a verdade, a maior parcela de tempo da democracia portuguesa passou-se sob a vigência governativa de partidos de direita, incluindo o CDS/PP do doutor Pires de Lima, que formou a AD no governo entre 79 e 83 e depois entre 2002 e 2004, quando esteve coligado com o PSD.
Mas concerteza, a julgar pelo vice do PP, que tais partidos não devem ter responsabilidade nenhuma no panorama reinante, no que diz respeito aos baixos salários dos trabalhadores portugueses, pois a culpa aqui morre solteira com as forças do PREC...