quinta-feira, fevereiro 03, 2005

Liga dos Últimos

Já aqui me referi, há algum tempo, a um dos exemplos de excelência e vanguarda televisiva transmitido pela RTPN, de seu nome “Na Roça com os Tachos”. No entanto, seria injusto deixar passar em claro e não fazer qualquer referência a outros dos expoentes da pantalha televisiva, também ele emitido pela mesma estação, o programa desportivo “Liga dos Últimos”.
Dedicado ao futebol amador, o programa focaliza a sua atenção nos últimos classificados dos campeonatos das divisões mais distantes da Superliga, ou seja, no Baguim do Monte, no Montezelos, no Lamas, no Arguedeira, no Nespereira, no Minhocas, entre muitas outras nobres agremiações desportivas.
Ontem, um dos destaques foi para o derby gondomarense, Montezelo vs Baguim do Monte, respectivamente penúltimo e último classificados da campeonato da 3ª divisão distrital do Porto.
Disputado num pelado marciano, debaixo de uma forte ventania, na reportagem efectuada a este derby tivemos oportunidade de deslindar o complexo processo de tomada de decisões ao nível da equipa técnica, através de momentos únicos, como aquele em que o Técnico Adjunto do Montezelos ordenava ao jogador Nuno para avançar rapidamente no terreno e o Técnico Principal ao lado pedia ao Nuno para ter calma...
Também ao nível directivo ali apercebemo-nos que a comunicação de uma Direcção com os associados ocorre muitas vezes com ruído. Assim se explica a divergência dos adeptos do Montezelos acerca da profundidade do furo hertziano mandado construir pela Direcção para aplacar as nuvens de pó que assolam o pelado terreno de jogo, sempre que o vento se levanta para aqueles lados. 22 metros dizia um adepto, 58 metros asseverava outro, 98 corrigia o terceiro. Por fim, o Presidente lá informou que o furo chegava aos 108 metros, tinha custado 500 contos, mas ainda precisavam de uma bomba de água para elevá-la até à superfície.
No que diz respeito ao processo de explanação táctica, em nenhum lado como ali é possível ver tão claramente um treinador a gritar para os pupilos ao intervalo, na cabine, que o empate, ainda por cima com aquela equipa do Montezelos era uma vergonha para todos, carago, incluindo para ele próprio. Ironia das ironias, o Montezelos, na segunda parte, mesmo reduzido a 9 briosos jogadores conseguiu aguentar o empate a uma bola!
Se a essência do futebol mora em algum lado, é ali naqueles pelados marcianos como o do Montezelos. É mantida por jogadores e dirigentes que se movem apenas e exclusivamente por amor ao jogo e aos clubes, e que não se dobram nem quebram perante as adversidades. Como dizia o Presidente do Lamas de Macedo de Cavaleiros: “Aqui a gente nunca desiste, até já vamos em penúltimo!”