Durante duas horas de documentário, o já aqui aclamado Tony Robinson, procedeu, para desgosto de livrarias e editores, a uma análise precisa do maior best-seller dos nossos tempos: o Código da Vinci, escrito por Dan Brown. O método foi simples: Robinson isolou os mais importantes argumentos do livro e resolveu testar a sua verosimilhança. O resultado foi um divertido desfilar de bengaladas que, peça por peça, foi derrubando a trama de Brown até nada restar de pé. Como Robinson acabou por aconselhar, quem desejar uma abordagem surreal à lenda do cálice sagrado fica melhor servido com o exercício cinematográfico dos Monty Phyton sobre o tema. O documentário começou com uma afirmação do próprio Dan Brown – que parece um daqueles senhores que vendem máquinas para os abdominais no teleshop às três da manhã – asseverando que o seu livro se baseava em evidências históricas. Pois bem, desde o facto de provar não existirem registos da existência de um qualquer enigma original envolvendo o cálice, problema que só terá nascido numa ficção no século XI, tornando-se tema literário, até à desmontagem de fantasias sobre a acção de grupos e seitas religiosas, um deles, o Priorado do Sião, que foi inventado nos anos sessenta por alguém que também queria vender livros, passando pela exclamação quanto às explicações imaginativas de quadros do Da Vinci, o documentário é claro quanto ao excesso de interpretação do livro de Brown. Sobra a dúvida, embora sustentada por outras fontes, do possível papel de Maria Madalena na história da cristandade e da possível omissão de textos sagrados pela hierarquia da igreja católica. Não li o livro de Brown nem pretendo avaliar o seu talento. Acho, porém, que tratando-se de uma ficção, a obra não está sujeita a qualquer tipo de constrangimento, podendo o autor dizer o que bem quiser e entender. O problema reside no facto de a obra estar a ser vendida e consumida como uma verdade histórica minimamente sustentada. Neste aspecto, Brown é um vendedor de banha da cobra que se limitou a romancear um livro do princípio dos anos oitenta (Holy grail, Holy blood) onde a tese foi arquitectada por dois aldrabões que também podiam estar vender máquinas para os abdominais. O autor utilizou a história – que lembre-se é uma ciência empírica que exige fiabilidade nas provas e nas fontes - como Paulo Coelho cozinha a sua psicologia barata com o esoterismo e o misticismo, sustentando assim uma indústria. Ficção por ficção, prefiro a Bíblia.