sexta-feira, fevereiro 25, 2005
Da politização
O efeitos políticos da Internet não são fáceis de medir. (Continuamos a esperar pela grande obra do camarada Vasco Palouro) Há, no entanto, diversos movimentos digitais extremamente positivos. Tenho recebido vários e-mails, provenientes de círculos que não se confundem com universos educados de classe média ou mundos universitários, mas que normalmente são originários de redes de trabalhadores do terciário, onde se faz um verdadeiro exercício de politização e cidadania. O mais interessante nestes e-mails é o modo como utilizam a informação para explicar de forma simples mas bastante eficaz inúmeros processos quotidianos, como por exemplo a questão fiscal no nosso país (recebi, por exemplo, via um trabalhador de uma conhecida empresa privada, um e-mail com origem na Comissão para a Equidade Fiscal onde, de forma bastante pedagógica, se falava da importância política de pedir um recibo aquando de uma transação). Este tipo de politização é bastante animador. Os seus métodos são em certo sentido contrários a formas de politização que não passam pelo conhecimento sobre os assuntos mas por uma adesão dogmática a slogans e palavras de ordem. Não há actividade política esclarecida sem conhecimento. Infelizmente mesmo alguma esquerda dita moderna e mais viajada utiliza, através de slogans sofisticados, métodos antigos. Continuamos com o mundo dividido primariamente entre os bons e os maus, prosseguem os berreiros estridentes das grandes frases retóricas que não oferecem ao receptor informação sobre os assuntos mas que lhe exigem uma adesão emocional (com alguns casos individuais pelo meio, género noticiário da TVI), que não o tornam capaz de pensar pelas sua própria cabeça e que afastam das boas causas qualquer pessoa com dúvidas sobre o assunto. Por estas e por outras é que os rapazes que foram de extrema-direita e que hoje até são de esquerda são muito menos que os operários que eram de esquerda e que hoje celebram os movimentos racistas e nacionalistas por toda a Europa.