terça-feira, fevereiro 22, 2005
Eleições I
Para manter viva a discussão, de certa forma a essência do Grupo do Pato, avanço com algumas considerações sobre o argumento escolhido pelo PSD para justificar a derrota: a decisão de Jorge Sampaio. Tomar Sampaio como um indivíduo separado do mundo que, por capricho, toma uma decisão não serve de explicação. Há várias forma de perceber a atitude de Sampaio e, porventura, todas elas tiveram o seu peso. Uma primeira parte das próprias explicações por ele avançadas: o governo dava mostras de não conseguir governar. Dissidência interna, má gestão pública de alguns assuntos. Esta foi a explicação pública, de certa forma uma explicação débil. Uma teoria mais conspiratória sugere que Sampaio quis entregar o governo ao seu partido. Mas se foi assim por que não convocar eleições quando Durão Barroso saiu? Porque, dirão alguns, Sampaio escolheu o momento em que o governo de coligação estava mais frágil, ferindo-o de morte. Talvez. Outras razões existiram fora do domínio público. E essas serão, tendo em conta o país em que vivemos, as mais importantes. Falo do que passou no seio de um restrito número de pessoas que gere, nas mais diversas áreas, Portugal. Entre estas pessoas, políticos, banqueiros, empresários, representantes de empresas estrangeiras, o alto funcionalismo público, algum poder local, a comunicação social, e outros interesses corporativos etc, decorreram jantares, reuniões, comunicações telefónicas, etc. De tudo isto resultou a ideia de que o governo de Santana Lopes não estava a funcionar. Esta ideia foi tão forte que mesmo dentro do PSD surgiram inúmeras frentes contra Santana, algo que se revelou fatal para o primeiro-ministro. Claro que os inúmeros interesses intermédios, médias clientelas, não concordaram com o afastamento do PSD do aparelho de estado, maná de tachos e tachinhos. São estes que estão a protestar. Mas outros valores mais altos se levantaram. Quem decidiu que Santana tinha que sair foram os interesses que o PSD sempre defendeu e vai continuar a defender.