quinta-feira, fevereiro 10, 2005

Os clientes

Os distraídos que continuam a acreditar que o ensino universitário é um mundo definido pela transmissão desinteressada dos saberes deveriam passar os olhos por um artigo que o Guardian publicou nesta última segunda-feira (que encontrarão com facilidade na edição on-line do diário inglês). As universidades inglesas recebem por ano 300 mil estudantes estrangeiros, parte considerável oriunda de países de fora da União Europeia. O contingente estrangeiro permeia a economia inglesa com 5 biliões de libras por ano. Como devem imaginar este tipo de «emigrantes» é bem-vindo por cá. Afortunados árabes, japoneses, malaios, tailandeses, coreanos, africanos e, acima de tudo, chineses, enviam os filhos para «o centro do mundo» e pagam três a quatro vezes mais propinas que alunos ingleses e de outros países da União Europeia. Os reitores das faculdades preparam-se para reduzir as vagas destinadas aos alunos locais em detrimento dos rebentos das referidas fortunas internacionais. Argumentam eles que o ambiente multicultural e cosmopolita é muito positivo e que todos têm aprendido imenso com a experiência. Claro que aos ingleses, além da experiência e das loas ao multiculturalismo, também agradam as propinas, o alojamento, e todo o dinheiro que, indirectamente, é investido na economia: transportes, comunicações, alimentação, industrias culturais, etc. Diga-se que os ingleses têm apenas 23% do comércio da educação na sua língua. Os americanos dominam 58% do mercado. Se é certo que as universidades, nomeadamente as mais prestigiadas, são espaços multiculturais, não é menos real que são lugares extremamente homogéneos em relação à origem social dos alunos, mundos de classe média e média alta, para não falar de algumas fortunas inacreditáveis. Perante este contexto de comercialização do ensino, os critérios de selecção dos alunos são muito frágeis e o mérito é cada vez mais o do extracto bancário. A universidade é uma indústria e os alunos, os que podem claro, os seus clientes.