sexta-feira, abril 01, 2005
Afinal temos um bom ministro
Alguns tiques de certas cliques portuguesas cintilam na crónica que Prado Coelho assina hoje no Público. Homem de cultura, Prado Coelho avalia o mundo e os indivíduos pela posse de competências culturais, situadas, está bem de ver, no mundo da arte dominante. Assim, Manuel Pinho, Ministro da Economia, porque é coleccionador de arte, alcançou o zénite da escala prado-coelhana. Cavaco, por seu turno, trocando Thomas Mann por Tomas Morus, e não sabendo quantos cantos tinham os Lusíadas - escândalo nacional - já não servia, por esses factos, para primeiro-ministro. Se são bons ou maus economistas, se partilham modelos de intervenção ou têm pensamentos diferentes, não interessa. A casaca cultural é que avalia os seus méritos. Talvez não fosse mau que estas metralhadoras de referências artísticas, para equilibrar, demonstrassem conhecimento noutras áreas socialmente menos charmosas: um pouco de física, umas noções de química, concepções básicas de engenharia, matemática, e talvez mesmo algum saber prático, em marcenaria, agronomia e metalúrgica. Mas não, continuamos a fazer loas à aparente excelência do nosso provincianismo.