domingo, abril 24, 2005
Do livro e da venda
Ando a perguntar-me por que raio as pessoas se desfazem de livros. Por necessidade primária, claro. É preciso dinheiro, e toca a vender os pertences. E como as casas portuguesas estão cheias de livros e por aí que se começa. É no que dá a abundância. Mas há quem os ache um estorvo, como os jornais, desarrumam a casa, uma chatice. É no entanto evidente que uma casa fica bem desarrumada com livros e outras papeladas. É lindíssimo, a livralhada junta a combater as perseverantes mentalidades domésticas. As casas são pequenas, dirão alguns com razão. É certo, mas enquanto houver espaço para o serviço de casamento deixado pela bisavó, os inenarráveis bibelots da tia, a colecção de revistas Motor do pai, o enxoval da madrinha, os bares ao canto da sala, o cão de loiça e o urso de peluche do Benfica, haverá também lugar para os livros. E se quiserem comerciar, já que o país está carente de empreendedores, deixem os livros para penúltimo lugar, antes, naturalmente, de se livrarem do urso do Benfica - que aliás só deve ser alienado em caso de catástrofe nuclear, e mesmo assim só depois de vendermos a avó em leasing para a apanha do tomate na Estremadura espanhola. Já agora, em vez de venderem livros, podiam oferecê-los, ou deixá-los num café ou num banco de jardim, era mais fofo.