domingo, novembro 30, 2003

Fome

Aos fundamentalistas da caridade: nunca se deve confundir a caridade com os direitos. Sorriso perverso e venenoso o da caridade. De boas intenções ...

1 de Dezembro de 1640

Na véspera da comemoração do 363º aniversário da Restauração da Independência, é altura de dizer, em jeito de balanço, "Volta Miguel de Vasconcellos! Estás perdoado, estás perdoado..."

sexta-feira, novembro 28, 2003

Um país à beira de um ataque de nervos

De acordo com informações veiculadas ontem no Congresso Nacional de Psiquiatria, mais de 60% dos portugueses adultos tomam benzodiazepinas (príncipio activo dos ansiolíticos) e destes, metade fá-lo sem prescrição médica.
Se ainda haviam dúvidas de que este é um país à beira de um ataque de nervos, notícias deste tom demonstram-no à saciedade...
Todavia, sendo esta percentagem tributária de cálculos obtidos até à passada semana, permitam-me duvidar da fidedignidade actual deste valor. Passo a aduzir, a título de exemplo, 4 acontecimentos ocorridos esta semana no país que sustentam a minha asserção:
Em primeiro lugar estes números já não correspondem à verdade, uma vez que foram avançados antes do Sporting ter jogado com os turcos do Genclercibliliglibidebimi. Desde então, foram muitos os sportinguistas que se viram na contingência de ingerir imediatamente umas caixas de ansiolíticos para adormecerem por uns dias e não se recordarem do que viram...
Em segundo lugar, depois do beneplácito que o Governo português concedeu esta semana a alemães e franceses para estes exercerem o seu livre arbítrio no (não) cumprimento do PEC, muitos milhares de portugueses ficaram de tal modo baralhados com a visão dual que o Governo tem sobre este instrumento de disciplina orçamental, que foram obrigados a recorrer ao consumo de umas benzodiazepinas para readquirirem o equilíbrio entretanto perdido.
Em terceiro lugar, estes números não contemplam ainda os utentes da Carris, os quais se deparam semanalmente com greves (ainda que legítimas) dos motoristas que os obrigam a gastar semanalmente umas pipas de massa em táxis, em acréscimo ao custo dos passes de transporte que indexam mensalmente à Carris.
Em quarto lugar, também não foram contabilizados os 128 militares da GNR que acorreram em massa às farmácias de Nassíria para comprarem ansiolíticos depois de terem sido informados (no Iraque) que estarão sujeitos a descontar para o IRS como "todos" os cidadãos deste país.
Como vêem, somando apenas estes factos semanais facilmente se percebe que estes números pecam por serem escassos, daí a necessidade de uma actualização da percentagem de portugueses que recorrem aos ansiolíticos para mergulharem num entorpecimento que lhes permite enfrentar melhor o dia-a-dia...

quarta-feira, novembro 26, 2003

Cobrança de IRS à GNR

O Governo está a analisar se a missão do Subagrupamento Alfa da GNR no Iraque está ou não isenta de IRS. Uma decisão técnica que será tomada pela Direcção Geral das Contribuições e Impostos (DGCI).
O artigo 42 do decreto-lei que define as isenções fiscais em missões de salvaguarda de paz diz que é o Ministério das Finanças que tem competência para reconhecer, ou não, a isenção de IRS.
O mesmo artigo diz que ficam isentos deste imposto os militares e elementos das forças de segurança em missões «com objectivos humanitários ou destinadas ao estabelecimento, consolidação ou manutenção da paz, ao serviço das Nações Unidas ou de outras organizações internacionais».
No entanto, a GNR não está ao serviço das Nações Unidas nem enquadrada no âmbito de uma organização internacional. Entretanto, os ecos provindos do Iraque dão conta que entre os soldados e oficiais da GNR a indignação é geral!
Em primeiro lugar, mais uma vez se demonstra que apesar da série de adiamentos, supostamente visando limar todos os preparativos para a missão, o Ministério das Finanças esqueceu-se de dizer aos "voluntários" da GNR quando estes ainda estavam em Portugal (pelo menos àqueles que não sabiam) que a missão deles não se enquadrava nem no âmbito da ONU nem de qualquer outra organização internacional, e que por isso mesmo os seus vencimentos não seriam objecto de isenção fiscal. Falta saber se esse lapso de informação do MF foi propositado ou não...
Em segundo lugar, tendo, pelo menos agora, conhecimento desta norma, espanta-me que os "voluntários" da GNR, portadores indómitos de um espírito humanitário que seria dedicado em prol da população iraquiana, nas palavras do douto dirigente do PP, Pires de Lima, não tenham o mesmo espírito em relação aos seus compatriotas, uma vez que cumpre a todos o pagamento de impostos devido aos salários que se auferem.
É que não basta ser-se solidário com os iraquianos. Há que ser solidário também com os portugueses (pelo menos com aqueles que também pagam impostos).
Caso tal não suceda até poderão surgir nas mentes dos portugueses indícios dubitativos se o inaudito zelo humanitário que os "voluntários" da GNR transportaram consigo até ao Iraque, conforme propugnaram alguns responsáveis políticos, mais não era do que um argumento capcioso e espúrio para esconder o verdadeiro móbil do seu "voluntarismo"...
Os responsáveis governamentais e os soldados e oficiais da GNR concerteza não quererão que os portugueses pensem isso, pois não?

Então?

Há quase vinte e quatro horas que o papa disse que ia rezar por Portugal mas isto está tudo na mesma. Karol, mais convicção nas aves marias.

terça-feira, novembro 25, 2003

Recursos Humanos e McJobs

"Passados poucos meses estava sentado na Sunset Place a admitir e a despedir como um demónio. Assim Deus me ajude como aquilo era um verdadeiro matadouro. Não fazia sentido absolutamente nenhum. Era um desperdício de homens, de material e de esforço, uma farsa hedionda representada com um pano de fundo de suor miséria. Mas, assim como aceitara espiar, assim aceitei admitir e despedir, e tudo o mais que isso implicava. Dizia «sim» a tudo. Se o vice-presidente decretava que não podiam ser admitidos aleijados, eu não admitia aleijados. Se o vice-presidente dizia que todos os boletineiros com mais de 45 anos deviam ser despedidos sem aviso prévio, eu despedia-os sem aviso prévio. Fazia tudo quanto me mandavam fazer, mas de maneira que eles o pagassem. Quando havia greve, cruzava os braços e esperava que terminasse, mas primeiro tratava de os fazer perder umas boas massas. Todo o sistema estava tão podre e era tão desumano, tão irremediavelmente corrupto e complicado, que seria preciso um génio para lhe insuflar um certo sentido ou uma certa ordem, para já não falar em bondade ou consideração humanas. Tinha pela frente todo o sistema americano de trabalho, que estava podre por dentro e por fora. Era a quinta roda da carruagem e nenhum dos lados tinha qualquer serventia para mim, a não ser para me explorar. Na realidade, toda a gente estava a ser explorada: o presidente e a sua seita pelos poderes invisíveis, os empregados pelo público, etc., por aí fora, através de toda a rede. Do meu poleirozinho em Sunser Place tinha uma vista geral de toda a sociedade americana. Era uma página tirada da lista telefónica. Alfabeticamente, numericamente e estatisticamente, fazia sentido. Mas quando a olhavamos de perto, quando examinávamos as páginas separadamente, ou os componentes separadamente, quando examinávamos um só individuo e o que o constituía, o ar que respirava, a vida que levava e os riscos que corria, então víamos algo tão sujo e degradante, tão baixo, tão miserável, tão completamente desesperado e sem sentido, que era pior que olhar para um vulcão. Via-se toda a vida americana: economicamente, politicamente, moralmente, espiritualmente, artisticamente, estatisticamente e patologicamente. Parecia um grande cancro sifilítico num caralho gasto."
In: Trópico de Capricórnio de Henry Miller.

Dias da Cunha

O Woody Allen realizou em tempos um filme chamado "Os Dias da Rádio", onde retratava a América dos anos trinta e quarenta. Em Portugal, falta quem crie um grande épico nacional que se podia adequadamente chamar "Os Dias da Cunha".

segunda-feira, novembro 24, 2003

A festa da Taça

Eram memórias que datavam de tempos que me parecem hoje bastante remotos, quando o clube da terra disputava, alternadamente, a 3ª divisão e o Distrital da Associação de Futebol de Viseu.
Nesses anos, a vivência do jogo fazia-se também ali, junto às linhas de campo marcadas com cal, junto dos bandeirinhas e dos bancos de suplentes das equipas, e sempre acompanhada com os comentários dos adeptos às incidências do jogo e aos intervenientes.
No entanto, com a passagem dos anos esses memórias foram-se gastando, desvanecendo aos poucos e poucos até que ontem puderam ser novamente vividas junto à linha lateral do campo de jogos do 1º de Dezembro.
Desta vez não era o Lusitano de Vildemoinhos que jogava com o Mangualde, o Lamego, o Viseu e Benfica ou o Tondela. Era sim o Sporting contra o 1º de Dezembro.
O campo de jogos do 1º de Dezembro ainda é mais pequeno do que aquele onde passei muitas tardes na infância. Lá os lugares não são marcados, nem sequer existem cadeiras na bancada. O pessoal ou fica de pé no peão ou então senta-se no cimento da bancada. Houve ainda quem tivesse ficado nas árvores ou nos postes de iluminação ...
Optando nós por ficarmos de pé, junto do banco de suplentes que viria a ser ocupado pela equipa do Sporting, estávamos a dois metros da linha lateral do sintético. Tivemos que ir cedo para arranjarmos um lugar de onde fosse possível ver (quase) todas as incidências do jogo. Alguns que chegaram mais tarde não puderam ficar tão "confortavelmente" instalados e logo começaram a vociferar contra as condições que o campo oferece. Ripostou em alto e bom som um adepto com um cachecol do SCP: "O que é que querem? Cadeiras aquecidas? Isto é Taça!" Tinha razão, a Taça é mesmo assim.
Outro pormenor onde se viu claramente que era Taça. A equipa do SCP entrou em campo para os exercícios de aquecimento e os adeptos da equipa da casa imediatamente aplaudiram em uníssono os adversários.
Dado o pontapé de saída, à medida que um claro equilíbrio entre as duas equipas pautava o jogo, a insatisfação crescia nos adeptos do SCP.
Graças à "especificidade" do campo, essa insatisfação era directamente dirigida aos ouvidos do treinador e dos jogadores do SCP :
"Ó Fernando Santos, vê lá se fazes por merecer o ordenado que nós te pagamos!"; "Clayton, pressiona o guarda-redes, pá! Aposto que se ele tivesse lá o cheque do teu ordenado ias logo atrás dele a correr!"; "Ó Mister, já vi jogos de casados e solteiros melhores do que este!"
Com o intervalo veio mais uma substituição no Sporting. Pouco agradados com a permanência em campo de Clayton (eu próprio discordava da sua continuação), um adepto prontamente transmitiu a discordância aos ouvidos do treinador: "Ó mister, devia era ter tirado o Clayton. O rapaz (Paulo Sérgio) até estava a jogar bem!". Ao que o treinador respondia com indicações para dentro do campo: "Joguem a bola pelo chão, pá. Não vêem que salta muito?!", ou "Ó Tonito, passa a bola pra frente. Não quero passes para trás, fod.."
Com os golos e a definição do vencedor, ainda assim os adeptos do SCP não se eximiram de fazer chegar aos ouvidos dos jogadores a sua opinião: "Ó Luís Filipe, vê lá se corres, pá! Pareces uma andorinha!" "Estão satisfeitos com o 1-0? Isso, defendam porque é um óptimo resultado contra uma equipa da 3ª divisão, car...".
Mas como nem tudo eram críticas, quando a bola se aproximava da linha lateral o público por vezes saudava alguns jogadores: "Ó Chaves, tá tudo bem?", ao que o Chaves respondeu levantando o polegar para cima, ainda quando um dos suplentes da equipa da casa se levantou para fazer aquecimento, indo ter com uns amigos à linha, dizendo-lhes ao mesmo tempo que se ria: "Isto tá complicado para eles, hein!", ou quando um adepto dirigiu o seu pedido: "Ó Liedson, vais-me dar a tua camisola no fim do jogo, não vais ?", ao que Liedson respondeu, acenando negativamente com a cabeça.
Já perto do final, o jogador Tonito numa disputa com um adversário sofreu um corte na cabeça que o deixou a sangrar. Estava dado o mote, criado um modelo para um adepto, pelo menos avaliar pelo seu incentivo: "É assim mesmo, Tonito!" Há que sangrar a camisola!"

Por fim, com o apito final, e sob os aplausos dos adeptos caseiros e forasteiros, o treinador do SCP levantou-se, olhou para um dos postes de iluminação onde estava um adepto do SCP, sorriu e seguiu em direcção aos balneários.
O que é que querem? Isto é Taça!

quarta-feira, novembro 19, 2003

Queres dinheiro? Vai ao Totta

Foi publicada na semana passada a notícia de que dentre todos os bancos (todos eles incumpridores habituées e reincidentes, em maior ou menor grau, da legislação relativa ao pagamento de horas extraordinárias aos seus funcionários), o Banco Totta tinha sido aquele onde os inspectores tinham encontrado o maior número de violações à Lei.
Só nesse banco o número de horas extraordinárias prestadas pelos trabalhadores à entidade patronal e que não lhes foram pagas totalizavam cerca de 2.000.000 milhões de Euros. O sindicato bancário, em forma de protesto, visando consciencializar os trabalhadores para este incumprimento patronal, deslocou-se a várias agências deste Banco e de outros, denunciando a existência de trabalho escravo promovido por entidades que correntemente compram espaço publicitário em diversos jornais para publicitarem aos seus accionistas e ao público em geral os seus faustosos lucros, incluindo-se neste caso o Banco Totta.
Após reunião de emergência o Conselho de Administração, a coordenadora de Recursos Humanos do Banco Totta, sem nunca desmentir a veracidade das violações laborais cometidas, comunicou aos trabalhadores e à imprensa que as informações veiculadas pela comunicação social estavam a pôr em causa a boa imagem do Banco que tanto tempo demorou a construir...
Em vez de ecoar lamúrias sobre a desgraça da imagem do Banco junto do público que as notícias estavam a provocar, melhor seria que a coordenadora e os responsáveis do Banco interiorizassem que não basta o marketing para se edificar uma boa imagem de um Banco junto dos cidadãos, mas sim que cumprissem a legislação laboral em questão, evitando que a tal boa imagem não deixe de assentar em voláteis castelos de cartas.
Isto porque a tal boa imagem requer que as entidades patronais, públicas ou privadas, possuam uma ética que postule o respeito pelos direitos dos trabalhadores e não atropelem estes descaradamente. Concerteza que se uma parte do dinheiro gasto em publicidade para a promoção da imagem do Banco ou uma escassa parcela dos gordos lucros anunciados tivesse sido canalizada para remunerar os trabalhadores do seu exercício de actividade, esta situação não se punha com a acuidade que surge frequentemente à estampa, e a coordenadora não estaria agora tão preocupada com os efeitos nocivos que estas notícias causam para a boa imagem do Banco.

P.S- Destronado pelo Banco Totta, o crónico vencedor do desrespeito pela remuneração das horas extraordinárias dos seus funcionários, o BCP foi relegado para o segundo lugar da lista.
Apesar desta sensível melhoria, ainda assim seria justo que nos novos anúncios publicitários deste Banco, para além dos "mil sorrisos", "mil vontades", etc, fossem aduzidas frases como "mil horas extraordinárias por pagar", "mil calotes aplicados aos funcionários", "mil violações da Lei", and so on ...

terça-feira, novembro 18, 2003

Ent�o...

Come�o a pensar que ninguem gosta de Chico Buarque...

terça-feira, novembro 11, 2003

MEU CARO AMIGO

Meu caro amigo me perdoe, por favor
Se eu não lhe faço uma visita
Mas como agora apareceu um portador
Mando notícias nessa fita
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Muita mutreta pra levar a situação
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça
E a gente vai tomando que, também, sem cachaça
Ninguém segura esse rojão

Meu caro amigo eu não pretendo provocar
Nem atiçar suas saudades
Mas acontece que não posso me furtar
A lhe contar as novidades
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
É pirueta pra cavar o ganha-pão
Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro
E a gente vai fumando que, também, sem cigarro
Ninguém segura esse rojão

Meu caro amigo eu quis até telefonar
Mas a tarifa não tem graça
Eu ando aflito pra fazer você ficar
A par de tudo que se passa
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Muita careta pra engolir a transação
E a gente tá engolindo cada sapo no caminho
E a gente vai se amando que, também, sem um carinho
Ninguém segura esse rojão

Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever
Mas o correio andou arisco
Se permitem, vou tentar lhe remeter
Notícias frescas nesse disco
Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
A Marieta manda um beijo para os seus
Um beijo na família, na Cecília e nas crianças
O Francis aproveita pra também mandar lembranças
A todo o pessoal
Adeus

Francis Hime - Chico Buarque
1976

segunda-feira, novembro 10, 2003

And the Oscar goes to ...

Admitindo que uma opiniao individual transporta sempre consigo uma carga subjectiva, ainda assim, e porque a liberdade consiste em fazer opcoes e nao alienar essas mesmas opcoes, o filme que esteve em exibicao neste fim de semana no Cine Estudio 222, "Requiem for a Dream", do realizador norte-americano Darren Aronofsky, ocupa desde ja nas minhas preferencias o lugar cimeiro no que diz respeito a melhor pelicula cinematografica vista durante ano de 2003.
Este e um filme que acompanha a perseguicao dos sonhos de felicidade ao longo de tres estacoes (Verao, Outono e Inverno), por parte de quatro personagens. As personagens sao Sally, uma viuva solitaria e avida de aparecer na televisao para colmatar a carencia de reconhecimento e afectos, Harry, o filho, heroimano, o seu amigoTy, seu parceiro de negocios e acompanhante de viagens ao limbo da existencia, e Marrion, namorada de Harry, aspirante a pequena empresaria no sector do vestuario, e desiludida com a "ausencia" constante dos progenitores na sua vida.
No inicio, durante o Verao, o jubilo e a esperanca assolam o estado emocional das personagens. Com a chegada do Outono, estes sentimentos transformam-se em tormenta e desassossego. Por fim, eis o Inverno, e com ele os sonhos primordiais cedem lugar ao pesadelo e a escuridao absoluta.
Todo este percurso retrata o mergulho colectivo no abismo das drogas (nao apenas a heroina, mas a TV ou os comprimidos para emagrecer), por personagens que anseiam pelo usufruto de sentimentos feericos mas que acabam consumidos pela Dependencia.
Mas nao se pense que o realizador aponta o dedo as personagens e se compraz na decadencia e na humilhacao delas perante a situacao tragica e inane dos seus destinos. Pelo contrario, no final, Aronofsky, ao libertar as personagens da Dependencia, atraves da "extincao" dos mesmos, redime-os e resgata-os do martirio que atravessavam, provocado pela ilusao compartilhada dos beneficios das drogas e da fuga ao "real".
No meio de tudo isto, ao longo de todo o filme, sucedem-se a um ritmo vertiginoso os cortes de imagens e sons, entrelacados por grandes planos e ecrans divididos numa miriade de sequencias freneticas que servem de metafora a rapidez com que a Dependencia se alastra e ao precipicio para o qual ela conduz os seus fantoches.

sexta-feira, novembro 07, 2003

Sugestão para o fim de semana de S. Martinho

Castanhas de Chocolate à Moda de Viseu

Ingredientes

300 g de castanhas cozidas ;
1 requeijão ;
2 colheres de sopa de coco ralado ;
2 colheres de sopa de açúcar ;
3 colheres de sopa de castanha assada e ralada ;
1,5 colher de natas ;
200 g de chocolate em barra ;
75 g de manteiga
Confecção:

Passe pelo passe-vite as castanhas cozidas e o requeijão. Junte ao puré obtido o açúcar, as natas e o coco. Junte o chocolate, previamente derretido em banho-maria, e a castanha ralada. Misture muito bem. Tenda as pequenas bolas em forma de castanha. Passe-as por açúcar pilé e coloque-as em caixinhas de papel frisado.

Bom Apetite

quinta-feira, novembro 06, 2003

Do Sr. José Manuel Gouveia

O Sr. José Manuel Gouveia enviou um e-mail para o endereço electrónico do Grupo do Pato, que passaria a transcrever, para aqueles que não tiveram conhecimento.
Antes ainda, gostaria de agradecer, penso que de forma extensível aos outros membros, ao Sr. José Manuel as considerações elogiosas que teceu acerca deste Blog.

"Chamo-me José Manuel Gouveia e gostava de saudar o vosso espaço de intervenção. Gosto especialmente das discussões que têm e do rumo proletário que se vê nalgumas pessoas . É preciso gente com força porque as coisas estão difíceis. Sou reformado da Lisnave onde tive que aprender nos últimos anos a mexer nos computadores porque tive um problema no braço e os gajos não me quiseram reformar logo ali, e tive que me habituar ao escritório. O meu filho é que tem um desses blogues com os amigos sobre música da pesada, desses que andam todos de preto e eu, para ver os disparates que eles escreviam comecei a ler, ele deu-me a morada e agora ando sempre ai a ver os blogues, já que não tenho mais nada para fazer. É um dos melhores o vosso blogue porque fala dos problemas das pessoas sem grandes complicações como outros que aindam prá aí e que não se percebem nada, por isso é que gostei daquela resposta do amigo global aquele outro leitor. Até me lembrou lá um tipo da fabrica que era um gozo , ninguém se metia com ele, o gajo até era meio educado, tirou não sei lá bem o quê, até pensei que podia ser ele mas a última vez que soube dele estava em Angola num negócio qualquer. Mas esse tipo o global já deve ter sido operário, tem tomates e é isso que é preciso porque só aqueles que passaram por elas é que sabem e não esses gajos que tem blogues e que são uns intelectuais, desculpem lá mas de merda. Gosto também das conversas sobre a bola, porque é isso que nos vai distraindo, fala-se pouco de bola nos blogues. Continuem, força".

quarta-feira, novembro 05, 2003

Notícia preocupante

As ligações no âmbito do projecto "Internet nas escolas" vão deixar de ser pagas pela Fundação para a Computação Cientifica Nacional (FCCN), entidade que gere a Rede Ciência, Tecnologia e Sociedade (RCTS), que permite as ligações à Internet nas escolas, nos espaços internet e ainda as de diversas instituições de solidariedade social.
A FCCN gere as ligações através do POSI (Programa Operacional para a Sociedade da Informação), mas como este financiamento termina no final do corrente ano, a fundação deixa de ter condições para continuar a assumir estas ligações, pelo que terão que ser suportadas através do Orçamento do Estado.
Para já, as escolas começaram a receber a comunicação por parte da FCCN de que irá cancelar as ligações no final do ano...
Lançado em 1996, o Programa "Internet na Escola", do Ministério da Ciência e da Tecnologia, estava enquadrado nas iniciativas do Governo no âmbito da chamada Sociedade da Informação. Numa primeira fase foram contempladas as escolas do 5º ao 12º ano de escolaridade, através da instalação de um computador multimédia e respectiva ligação à Internet.
Face a este panorama sombrio que se depara à continuação deste projecto fulcral para a democratização e para a equalização dos desníveis sociais no acesso à Internet, quero acreditar que realmente o Orçamento de Estado, venha a consagrar uma dotação orçamental capaz de dar prossecução ao cumprimento desta medida.
Acaso tal não suceda, desfere-se um rude golpe no sentido positivo da correcção das desigualdades sociais domésticas no acesso à Internet (e que são tão acentuadas), por parte dos estudantes portugueses.
Vou esperar para ver se as pretensões de justiça social deste Governo vão chegar à Internet...

segunda-feira, novembro 03, 2003

Sobre a Rússia

Na sequência dos acontecimentos que se têm vindo a precipitar nos últimos dias, o milionário russo Mikhail Khodorkovski, presidente da empresa petrolífera Iukos, demitiu-se hoje do cargo, após dez dias de detenção por suspeitas de fraude generalizada e evasão fiscal.
Na sequência, Alexander Voloshin, chefe da administração presidencial, a terceira posição mais importante na hierarquia do Estado russo, e um simpatizante de Khodorkovski, apresentou a demissão na sequência da detenção do magnata.
Estas acções judiciais que assinalam o conflito declarado entre o Kremlin e os magnatas russos, alguns deles, como Voloshin, com manifestos poderes políticos, parecem-me radicar em dois pólos distintos, por parte do Kremlin.
Num primeiro pólo, da parte dos partidários de Putin, a intenção de secar a emergência de partidos políticos financiados pelos magnatas, capazes de irem para a peleja nas eleições que se aproximam.
Num segundo pólo, com menos importância no móbil das acções desencadeadas, mas ainda assim credor de interesse, designando os prosélitos de Putin maioritariamente indivíduos que pertenciam aos antigos serviços secretos soviéticos, confrontam-se neste episódio russo actual, também as duas clássicas concepções de organização social: os defensores do intervencionismo estatal, nomeadamente nos assuntos económicos, e os defensores do liberalismo económico, dominantes no espaço económico russo após as privatizações selváticas da ex-União Soviética.
Apesar de crer que o peso dominante no confronto, indiscutivelmente, está a ser determinado pela medição de forças entre dois grupos que partilham pretensões similares relativamente ao controlo governativo, ainda assim parece-me que esta refrega não deixa de estar também infiltrada por alguns resquícios ideológicos, trazendo à recordação velhos episódios da luta pelo poder na Rússia.

sábado, novembro 01, 2003

Sobre os discursos: resposta ao Marçal

É verdade que o significado das palavras não depende apenas de uma conjugação de signos. A interpretação de uma frase deve avaliar o tom utilizado pelo emissor, as pausas, a expressão facial, etc. Estes dados podem transformar uma afirmação, enfatizar uma ideia ou, noutro sentido, estabelecer formas de relativização do que foi dito. Numa frase escrita não posso, em princípio, interpretar os tons, os sorrisos ou a expressão facial de quem a escreveu (a menos que o escritor nos forneça essa informação). Deste modo, para interpretar um texto, tenho que me quedar pelo que está redigido. No universo da escrita existem formas de transformar ou relativizar o que foi dito: a própria construção das frases, o humor, algumas formas de ironia, etc. Isto tudo para dizer que, se fui injusto na apreciação de certos textos de alguns companheiros, isso deve-se apenas ao facto de, na minha leitura desses textos, não ter encontrado qualquer mecanismo que permitisse distinguir “uma coisa que é para rir um bocado”, “mandar umas bocas uns aos outros” e que “não deve ser levada minimamente a sério”, de formulações categóricas escritas num estilo igual, sem tirar nem pôr, ao utilizado para falar e discutir outros assuntos. O que me preocupa não são os jogos jocosos de crítica saudável, na fronteira da irracionalidade, que adeptos de clubes diferentes desenvolvem entre si. Não fui eu o atingido pela crítica ao Benfica. Eu posso defender-me. Preocupa-me, isso sim, por um lado, as omissões, e por outro, algumas concepções que se vislumbram por detrás da crítica futebolística. Sobre as omissões, basta dizer que culpar um clube de futebol por todo o tipo de aproveitamentos políticos e económicos é de um sentido analítico extraordinário. Sobre as concepções que sustentam certas análises o caso é talvez mais grave (e é por isso que as coisas são sérias meu caro Marçal, se ao menos houvesse algum distanciamento). É sabido que a pertença a um clube de futebol tem, para muitas pessoas, um significado quotidiano importante, seja no seio familiar, seja no trabalho ou no tempo de lazer. No contexto português o Benfica é indiscutivelmente o clube mais popular. A crítica feita ao Benfica neste blog insistiu várias vezes nesta relação do Benfica, “o clube mais português de Portugal”, com o povo. As analogias e os adjectivos são quase sempre bastante infelizes e lamentáveis.
Quanto à questão da vinda do presidente do presidente do governo regional da Madeira à inauguração do Estádio porventura terei sido injusto, dado que não foi o único populista presente. Realmente deviam todos levar a sua bicada. Mea-culpa. Felizmente que o povo tonto do Benfica sob responder à altura, não por ser do Benfica, mas por sofrer aquilo que a grande parte dos portugueses sofre no dia-a-dia.