Na sequência dos acontecimentos que se têm vindo a precipitar nos últimos dias, o milionário russo Mikhail Khodorkovski, presidente da empresa petrolífera Iukos, demitiu-se hoje do cargo, após dez dias de detenção por suspeitas de fraude generalizada e evasão fiscal.
Na sequência, Alexander Voloshin, chefe da administração presidencial, a terceira posição mais importante na hierarquia do Estado russo, e um simpatizante de Khodorkovski, apresentou a demissão na sequência da detenção do magnata.
Estas acções judiciais que assinalam o conflito declarado entre o Kremlin e os magnatas russos, alguns deles, como Voloshin, com manifestos poderes políticos, parecem-me radicar em dois pólos distintos, por parte do Kremlin.
Num primeiro pólo, da parte dos partidários de Putin, a intenção de secar a emergência de partidos políticos financiados pelos magnatas, capazes de irem para a peleja nas eleições que se aproximam.
Num segundo pólo, com menos importância no móbil das acções desencadeadas, mas ainda assim credor de interesse, designando os prosélitos de Putin maioritariamente indivíduos que pertenciam aos antigos serviços secretos soviéticos, confrontam-se neste episódio russo actual, também as duas clássicas concepções de organização social: os defensores do intervencionismo estatal, nomeadamente nos assuntos económicos, e os defensores do liberalismo económico, dominantes no espaço económico russo após as privatizações selváticas da ex-União Soviética.
Apesar de crer que o peso dominante no confronto, indiscutivelmente, está a ser determinado pela medição de forças entre dois grupos que partilham pretensões similares relativamente ao controlo governativo, ainda assim parece-me que esta refrega não deixa de estar também infiltrada por alguns resquícios ideológicos, trazendo à recordação velhos episódios da luta pelo poder na Rússia.