segunda-feira, novembro 10, 2003

And the Oscar goes to ...

Admitindo que uma opiniao individual transporta sempre consigo uma carga subjectiva, ainda assim, e porque a liberdade consiste em fazer opcoes e nao alienar essas mesmas opcoes, o filme que esteve em exibicao neste fim de semana no Cine Estudio 222, "Requiem for a Dream", do realizador norte-americano Darren Aronofsky, ocupa desde ja nas minhas preferencias o lugar cimeiro no que diz respeito a melhor pelicula cinematografica vista durante ano de 2003.
Este e um filme que acompanha a perseguicao dos sonhos de felicidade ao longo de tres estacoes (Verao, Outono e Inverno), por parte de quatro personagens. As personagens sao Sally, uma viuva solitaria e avida de aparecer na televisao para colmatar a carencia de reconhecimento e afectos, Harry, o filho, heroimano, o seu amigoTy, seu parceiro de negocios e acompanhante de viagens ao limbo da existencia, e Marrion, namorada de Harry, aspirante a pequena empresaria no sector do vestuario, e desiludida com a "ausencia" constante dos progenitores na sua vida.
No inicio, durante o Verao, o jubilo e a esperanca assolam o estado emocional das personagens. Com a chegada do Outono, estes sentimentos transformam-se em tormenta e desassossego. Por fim, eis o Inverno, e com ele os sonhos primordiais cedem lugar ao pesadelo e a escuridao absoluta.
Todo este percurso retrata o mergulho colectivo no abismo das drogas (nao apenas a heroina, mas a TV ou os comprimidos para emagrecer), por personagens que anseiam pelo usufruto de sentimentos feericos mas que acabam consumidos pela Dependencia.
Mas nao se pense que o realizador aponta o dedo as personagens e se compraz na decadencia e na humilhacao delas perante a situacao tragica e inane dos seus destinos. Pelo contrario, no final, Aronofsky, ao libertar as personagens da Dependencia, atraves da "extincao" dos mesmos, redime-os e resgata-os do martirio que atravessavam, provocado pela ilusao compartilhada dos beneficios das drogas e da fuga ao "real".
No meio de tudo isto, ao longo de todo o filme, sucedem-se a um ritmo vertiginoso os cortes de imagens e sons, entrelacados por grandes planos e ecrans divididos numa miriade de sequencias freneticas que servem de metafora a rapidez com que a Dependencia se alastra e ao precipicio para o qual ela conduz os seus fantoches.