Tempos houve em que alguém desesperado chegou a pensar que uma boa alternativa à míngua do mercado sociológico seria abrir um talho gay. A ideia surgiu de uma apurada leitura das leis da oferta e da procura (Adam Smith q.b.), embora nunca ninguém tenha percebido aquilo que distinguiria um talho gay de um outro talho qualquer. A questão permaneceu eternamente no ar e porventura será melhor que se fique por ai.
Mas a demanda pela reinvenção do talho tradicional, seja lá isso o que for, é um processo irrevogável que atormenta as imaginações além fronteiras. Foi assim que num mercado no sul de Londres nasceu o talho disco. O local chama-se East Street Market e é dos lugares que mais alto subiu na minha escala londrina, imediatamente à frente da Tate Modern, mas ainda assim atrás do Café Estrela. Este mercado é um sítio extraordinário, frequentado maioritariamente por ingleses de origem ganesa, nigeriana, jamaicana e por emigrantes de diversas proveniências. Pois bem, no meio deste mercado há um talho dirigido por turcos. O talho é todo branco, pontuado pelo vermelho de múltiplos animais esventrados, cortados e dilacerados por três homens vestidos com batas brancas pontuadas pelo sangue de múltiplos animais esventrados, cortados e dilacerados, e que se movimentam energeticamente ao som de um poderoso sound system que debita os sons dos últimos êxitos de hip hop, rap e reagge. Os clientes reagiram positivamente aquela imagem da carnificina animal perpetrada ao som ritmado das palavras do rapper. Os amigos turcos parecem felizes. Não alvitrei se a música se altera com a hora do dia e gostava bastante de perceber se o hip hop vende melhor o porco, o peru, a vaca ou os miúdos, salvo seja.
Confesso que não sei se me sentia à vontade para comprar uns bifes do lombo ao som do Eminem. Afinal, a vaca é um animal bucólico e prazenteiro, um pouco obtuso, mas honesto, cuja quietude merece algum respeito. Talvez uma valsa, ou o hino da Eurovisão.
Um talho, com música ou sem música, é um dos lugares mais fascinantes do mundo. Aprende-se imenso.
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