terça-feira, fevereiro 28, 2006
Quem são as vítimas?
É relativamente divertido, mas também trágico, ver aqueles que defendem os poderes dominantes do mundo a fazerem-se de vítimas, pobres marginalizados sociais que vivem longe do conhecimento. Não, não resulta. Algumas posições aqui defendidas sobre África foram desumanas e partem de uma visão do mundo que olha de cima, típica de certa ciência política que é mais política que científica. Aliás toda a última resposta foi a tentativa de colocar qualquer opinião dentro de um enquadramento político, é o senhor Louçã para lá, o partido único para cá, etc. Não, não funciona. O mundo é mais complexo do que esse xadrez político. Quando falei da necessidade de utilizar argumentos sustentados não me estava a defender, nem a referir-me a mim próprio, mas apenas a apelar a uma discussão que não partisse precisamente de uma lógica “clubista”, cega da realidade e clara defensora de interesses ideológicos. Lamento, mas não fui eu que disse que defender o contrário da minha opinião era indefensável. Quem não quer ser lobo que não lhe vista a pele. Quando se toma “a democracia absoluta” por uma bitola de exigência, quando se apregoa o respeito pelo outro, tem que se estar aberto às críticas, porque se não, como infelizmente acontece, a democracia é muito bonita mas é só para alguns. É evidente que as pessoas ficam mais bem informadas através de indivíduos que conhecem o terreno e a história específica de certos países e regiões, (e ao referir-me a estas pessoas não me estou a incluir no grupo, mas sim a utilizá-las como fontes de informação para os meus argumentos, o que é diferente), do que por geo-estrategas junto de certos governos cujo modo cínico de encarar a vida provocou 100 vezes mais mortes do que qualquer ditador africano. É essencial referir, por outro lado, que não se trata, como foi tentado passar, de um debate entre uma arrogância bem informada e alguém vítima do desconhecimento. Os argumentos utilizados para defender aqui certas opiniões não são nada originais nem ignorantes. A vitimação não resulta. Essas opiniões são defendidas em Portugal por pessoas bem instaladas nos meios de comunicação social, poderosos, alguém que tem forte poder de influência; encontramo-los na pena de José Manuel Fernandes, Luís Delgado, Helena Matos, Vasco Rato, Rui Ramos, etc; Pobres ignorantes? Não me parece.
segunda-feira, fevereiro 27, 2006
Gisberto
Pouco depois do conhecimento público do homicídio de um sem abrigo, no Porto, perpetrado por adolescentes, os media concederam-lhe prontamente um reforçado enfoque narrativo, colocando uma acentuada tónica na caracterização dos autores do crime que, invariavelmente, deslizava para a condição familiar e económica dos mesmos, herança maldita que os rapazes partilhavam desde o berço.
Nados em famílias “desestruturadas”, desprovidos por isso de referências parentais centrais para a sua conduta e sem modelos de conduta relacional, sobre os adolescentes procurava-se traçar essencialmente um quadro de contextualização sócio-económico que supostamente teria facilitado o desfecho ocorrido.
Manifestamente, era uma linha claramente redutora e que mitigava outras variáveis de relevo para se compreender o móbil do crime. Muitos outros rapazes têm dificuldades económicas, não estão enraízados num núcleo familiar tradicional e não é por isso que cometem tais actos criminosos. A pobreza é uma condição já suficientemente maldita e difícil de superar, para não se fazer recair o estigma duplamente nessa condição. Havia necessariamente que alargar o âmbito de abordagem noticiosa e investigar outros vectores de entendimento da situação, em suma, advogar uma reflexividade mais alargada do que as propaladas condições materiais de existência, tão centrais nas narrativas jornalísticas.
Entretanto, no fim de semana, uma estação televisiva exibiu uma reportagem efectuada a propósito de uma competição futebolística internacional entre padres. A certa altura, aquando da apresentação dos “craques”, a reportagem visitou um jornal minhoto de inspiração católica, onde a certa altura foi dada voz ao editor do mesmo a dirigir informalmente uma questão a um jornalista do jornal a propósito do “casamento daquelas duas fulanas de Lisboa”…
Matéria jornalística de interesse, não pela aspiração em si, mas pelo carácter de novidade da mesma, envolta por isso ainda em questões jurídicas de jurisprudência, a interrogação do editor do diário minhoto, afinal, não tinha como fito a obtenção de mais elementos informativos com vista à sua inclusão nas páginas do órgão escrito, porque, como se aprestou o editor a revelar, os critérios jornalísticos não tinham eleito esse acontecimento como digno de ser alvo de tratamento noticioso no jornal.
Todavia, aquela “caixa jornalística” momentânea constituiu um momento esclarecedor de como a instituição católica continua a lidar com as orientações sexuais minoritárias. De repente, a “pessoa humana”, tão fulcral nas alegações católicas a respeito de outros assuntos na ordem do dia, transformou-se em “fulana”, expressão provida de uma consideração social menor.
As duas mulheres, por afrontarem valores historicamente estabelecidos a respeito do entendimento da chamada instituição do casamento e por denotarem comportamentos distintivos em relação à moral defendida eclesiaticamente, já não eram duas pessoas, mas sim duas fulanas.
Se dissermos que os rapazes do Porto estavam há muito internados na Oficina de S. José, instituição da diocese do Porto, e que a vítima do crime e das perseguições era um transexual, começamos a ponderar que a aclaração da deficiente socialização primária a que os rapazes foram sujeitos não se deverá única e exclusivamente à sua condição sócio-económica. Analise-se também a actual instituição de integração social dos rapazes e verifique-se em conformidade quais os valores e os pensamentos que ela transmite aos seus internados sobre o "outro". Se calhar alguma da luz para a explicação do sucedido está aí…
Nados em famílias “desestruturadas”, desprovidos por isso de referências parentais centrais para a sua conduta e sem modelos de conduta relacional, sobre os adolescentes procurava-se traçar essencialmente um quadro de contextualização sócio-económico que supostamente teria facilitado o desfecho ocorrido.
Manifestamente, era uma linha claramente redutora e que mitigava outras variáveis de relevo para se compreender o móbil do crime. Muitos outros rapazes têm dificuldades económicas, não estão enraízados num núcleo familiar tradicional e não é por isso que cometem tais actos criminosos. A pobreza é uma condição já suficientemente maldita e difícil de superar, para não se fazer recair o estigma duplamente nessa condição. Havia necessariamente que alargar o âmbito de abordagem noticiosa e investigar outros vectores de entendimento da situação, em suma, advogar uma reflexividade mais alargada do que as propaladas condições materiais de existência, tão centrais nas narrativas jornalísticas.
Entretanto, no fim de semana, uma estação televisiva exibiu uma reportagem efectuada a propósito de uma competição futebolística internacional entre padres. A certa altura, aquando da apresentação dos “craques”, a reportagem visitou um jornal minhoto de inspiração católica, onde a certa altura foi dada voz ao editor do mesmo a dirigir informalmente uma questão a um jornalista do jornal a propósito do “casamento daquelas duas fulanas de Lisboa”…
Matéria jornalística de interesse, não pela aspiração em si, mas pelo carácter de novidade da mesma, envolta por isso ainda em questões jurídicas de jurisprudência, a interrogação do editor do diário minhoto, afinal, não tinha como fito a obtenção de mais elementos informativos com vista à sua inclusão nas páginas do órgão escrito, porque, como se aprestou o editor a revelar, os critérios jornalísticos não tinham eleito esse acontecimento como digno de ser alvo de tratamento noticioso no jornal.
Todavia, aquela “caixa jornalística” momentânea constituiu um momento esclarecedor de como a instituição católica continua a lidar com as orientações sexuais minoritárias. De repente, a “pessoa humana”, tão fulcral nas alegações católicas a respeito de outros assuntos na ordem do dia, transformou-se em “fulana”, expressão provida de uma consideração social menor.
As duas mulheres, por afrontarem valores historicamente estabelecidos a respeito do entendimento da chamada instituição do casamento e por denotarem comportamentos distintivos em relação à moral defendida eclesiaticamente, já não eram duas pessoas, mas sim duas fulanas.
Se dissermos que os rapazes do Porto estavam há muito internados na Oficina de S. José, instituição da diocese do Porto, e que a vítima do crime e das perseguições era um transexual, começamos a ponderar que a aclaração da deficiente socialização primária a que os rapazes foram sujeitos não se deverá única e exclusivamente à sua condição sócio-económica. Analise-se também a actual instituição de integração social dos rapazes e verifique-se em conformidade quais os valores e os pensamentos que ela transmite aos seus internados sobre o "outro". Se calhar alguma da luz para a explicação do sucedido está aí…
sábado, fevereiro 25, 2006
Para que fique registado
O Benfica, na última terça-feira, ganhou ao campeão europeu. Para quem ia envergonhar o país não está nada mau.
Em jeito de comentário
Sobre África. Não vou repetir os argumentos que utilizei porque continuo a acreditar neles. Seja como for, é de assinalar que do lado dos pretensos defensores das liberdades e democracias continue a surgir argumentos democráticos como "Tudo o resto, é defender o indefensável". A prova de que as sociedades ocidentais ainda não se livraram de todos as expressões autoritárias. Neste "tudo o resto" incluem-se parte importante de estudos e trabalhos feitos por pessoas que em vez de papaguearem cartilhas ideológicas, estudaram, foram para o terreno, para os arquivos e procuraram, o que não os torna imunes à crítica, chegar a algumas conclusões. Quem é que informa melhor?
Sobre o comunicado do PCP, partido do qual não sou emissário, acho-o, no essencial do seu conteúdo, bastante razoável e certeiro. Demonstrando, aliás, um elementar bom senso que escapou a muito outros. Diga-se que, no meio disto tudo, pesando as circunstâncias, o ministro dos Negócios Estrangeiros foi também bastante razoável, embora a forma como o fez seja algo discutível.
terça-feira, fevereiro 14, 2006
Berthelot
Caro(a)s Sócio(a)s
Entramos em contacto convosco para, infelizmente, vos transmitirmos a notícia, recebida da AISLF, do falecimento de Jean-Michel Berthelot. Desejamos deixar aqui expresso também o nosso pesar por esta perda significativa tanto para os sociólogos em geral como para os colegas que com ele privaram. Em baixo enviamos a notícia recebida da AISLF e um resumo biográfico de Jean-Michel Berthelot (obtido através da página electrónica do Centred’Études Sociologiques de La Sorbonne).
AtentamenteAssociação Portuguesa de Sociologia
A Direcção
Mensagem recebida hoje às 12h15
Entramos em contacto convosco para, infelizmente, vos transmitirmos a notícia, recebida da AISLF, do falecimento de Jean-Michel Berthelot. Desejamos deixar aqui expresso também o nosso pesar por esta perda significativa tanto para os sociólogos em geral como para os colegas que com ele privaram. Em baixo enviamos a notícia recebida da AISLF e um resumo biográfico de Jean-Michel Berthelot (obtido através da página electrónica do Centred’Études Sociologiques de La Sorbonne).
AtentamenteAssociação Portuguesa de Sociologia
A Direcção
Mensagem recebida hoje às 12h15
segunda-feira, fevereiro 13, 2006
Alguma coisa sobre África
Retirar ao ocidente as graves responsabilidades que tem na actual situação africana, para insistir apenas nas teorias dos choques tribais e dos chefes corruptos é produzir esquecimento histórico. Infelizmente, com a civilização, o ocidente trouxe a barbárie. Sim, é certo que já existiam práticas esclavagistas, sim, existiriam guerras tribais, sim, as relações sociais reproduziam fortes desigualdades. Mas todas estas características foram aumentadas incomensuravelmente com o colonialismo. As políticas de governação indirecta, a cooptação de líderes tribais e o reforço das hierarquias anteriores criaram um quadro político de violência e de injustiça generalizado. A marcação étnica foi reforçada pelo poder europeu: armas poderosas e eficazes, políticas generalizadas de trabalho forçado. Nasceram assim as sementes de um ódio étnico nunca antes visto. Em certo sentido, foram os sistemas de dominação colonial que "criaram" as bases das divisões étnicas tais quais hoje as conhecemos. À parte disto, como se sabe, as sociedades coloniais eram racialmente organizadas. Foi dessas injustiças que nasceu o ódio. A independências dos países africanos foi encontrar o mundo em plena guerra-fria. Com a frieza típica do geo-estratega, encarnado hoje pela figura de alguns cientistas políticos, foram efectuadas políticas de aliança, para um lado ou para o outro. Os Estados Unidos, sob a direcção política de homens como Chester Crocket, secretário de Estado da administração Reagan, suportaram política e militarmente homens como Mobutu no Zaire (hoje República Democrática do Congo), Samuel Doe e Charles Taylor na Liberia, Siad Barre na Somália, o governo do Apartheid na África do Sul, a Unita em Angola, a Renamo em Moçambique, o governo árabe do Norte do Sudão, que passaram a combater depois do fim da guerra-fria (o mesmo que fizeram com Saddam no Iraque, ou com os Mudjahedeens no Afeganistão), a administração Clinton bloqueou a intervenção da ONU no sentido de evitar o genocídio no Ruanda, etc, etc, etc, etc. Parte dos líderes africanos são mestres e doutores por universidades inglesas e americanas. As mortes causadas pelos conflitos étnicos foram sobretudo o resultado de uma diplomacia absolutamente irresponsável que em nome do "mundo livre" armou tiranos e déspotas que transformaram os ódios raciais firmados durante o colonialismos em genocídios em série. Não estou a negar a existência de líderes corruptos e assassínos ou a tirar-lhe as imensas responsabilidades que têm. Mas vamos perceber as condições da sua emergência e a natureza dos seus métodos. Um conselho de leitura para os interessados: The Graves are not yet full, race, tribe and power in the heart of Africa, de Bill Berkeley, editorialista desse perigoso jornal vermelho chamado New York Times; e já agora, claro Joseph Conrad, Heart of Darkness, cuja história, originalmente africana, inspirou o Apocalipse Now de Coppola
quinta-feira, fevereiro 09, 2006
Realmente não se pode transigir com um novo totalitarismo
É bom saber que deixámos a espuma da liberdade de impressa e chegámos rapidamente ao cerne da questão. Há dois erros que não cometo. O primeiro é ser apanhado nesse maniqueísmo bipolar e ser tido como defensor de estados teocráticos que alimentam as mais crúeis injustiças. Prefiro, sem dúvida, o modelo secular. Mas reparem que denomino esses países de estados teocráticos, onde há responsáveis políticos e religiosos pela situação social que ai se vive. Os maiores desses responsáveis, acrescente-se, nem são locais. As situação actual têm por base processos históricos que convém conhecer. Isto é totalmente diferente de colocar o debate a nível da cultura, o que acaba por ser uma forma de racismo mascarado. Ninguém olha para a história, a política deixa de existir, a economia devanece-se, restando a cultura e a religião. O outro erro que não partilho é essa nova visão do mundo que um novo totalitarismo quer passar para as mundividências dos cidadãos do ocidente. O que se deseja é substituir a União Soviética como forma de acartelar as tropas, neste caso as opiniões públicas. Como foi aqui dito, é essencial combater todos os totalitarismos, e não há outro mais forte, pelo seu poder militar e económico, do que o que à força tenta dividir o mundo em dois. Falou-se de diversidade política, diversidade económica, diversidade cultural. Onde é que está essa diversidade se dividimos o mundo em dois. Lamento mas nesse plural cego, "nós isto", "nós aquilo" grande parte do mundo ocidental não entra. Basta pensar nas manifestações contra a guerra que varreram a Europa, um conflito que violou as regras mais básicas do direito internacional. Não é o cumprimento da lei uma característica das sociedades seculares? Parece que não. Porque antes dessa lei cultural que tanto apregoam, está a lei da economia e da política, esses sim os factores que dominam o mundo. Se o petróleo que existe no golfo pérsico estivesse na Bolívia o ocidente estava em guerra com a civilização índia. Totalitarismo é o modo como me obrigam a participar nesse "nós", um "nós" onde não há patrões nem empregados, homens nem mulheres, negros nem brancos, onde nem existem culturas diferentes, onde não existem sistemas económicos. Salvem-me deste totalitarismo. Não sei quem é digno de ser convidado para jantar, mas porventura não serão aqueles que torturam prisioneiros violando convenções internacionais, que já mataram dezenas de milhares de civis no Iraque, que começam uma guerra com uma mentira absolutamente descarada. A cartilha liberal, não menos descaradamente, diz que foram lá para derrubar um ditador. Mas quem é que apoiou esse ditador durante dezenas de anos? Nessa altura, os líderes da nossa civilização não tinham percebido que o homem, como muitos outros que foram vergonhosamente apoiados pelo ocidente, é um déspota sanguinário. Por que é que esta nossa superioridade não obriga o ocidente a cessar os acordos económicos com países como a Arábia Saudita? Onde é que estão as sanções que essas culturas tão atrasadas merecem? Hipocrisia de uma ponta à outra. Isto para dizer que a "pena" do ocidente não se fica pelas cruzadas, nem pela inquisição, nem tão pouco pelo holocausto. Essa "pena" é contemporânea. É tragicamente contemporânea. Esse "nós" coloca-me a mim ao lado dos maiores bandidos, e o nome é leve, que existem actualmente. Não entro nesse "nós" nem à custa de truques baixos sobre a liberdade de imprensa. O mundo islâmico não ameaça em nada a liberdade de imprensa no ocidente. O que a ameça verdadeiramente é a concentração dos media, é o controlo governamental sobre os media, que se nota, por exemplo, nos Estados Unidos. É verdade que sou um ocidental, mas não me ponham ao lado dessa gente. A esse "nós" não pertenço. Em relação às questões que foram levantadas sobre África, a resposta segue para a semana, já que o que foi dito é um branqueamento que necessita de ser desmascarado.
quarta-feira, fevereiro 08, 2006
Tolerância
Obviamente que não é o sentido de humor que esta em questão, é a tolerância. A tolerância que permitiu que o António do preservativo do Papa não fosse perseguido, nem decapitado, a tolerância que permitiu que o programa do Herman continua-se a ser transmitido. A chave é a tolerância.
É obvio que nem sempre o fomos, nós, o “Ocidente”, mas tivemos a capacidade de mudar, de separar o estado da religião, e isso, curiosamente aconteceu por alguma razão (Nota: investigar se o factor religioso, ou melhor, se o cristianismo teve alguma coisa a ver com o assunto). Não aconteceu no Oriente, não aconteceu em Africa, não aconteceu nos países Islâmicos. Essa é a nossa vantagem, não quer dizer que sejamos perfeitos, nem de longe o somos, nós, o “Ocidente”. Mas julgo ser consensual que nenhum dos que aqui tem “postado” gostaria de viver num pais muçulmano, e não é tanto pela questão económica é pelo facto de não querermos abdicar da nossa liberdade (por mais manipulada e ilusória que ela seja, não deixa de ser “mais” liberdade do que a que existe nas sociedades maioritariamente islâmicas…) E eu sei que nem sempre foi assim, existe uma dinâmica civilizacional, durante vários séculos o mundo islâmico foi o expoente máximo da civilização (entende-se como os dinamizadores do conhecimento e do “progresso”) mas depois deixaram de o ser.
O Islão tem, de facto, um problema religioso para resolver. E não são só os radicais islâmicos que são um problema, são todas as sociedades que seguem uma matriz religiosa islâmica e que não conseguem superar a dicotomia Estado / Religião, Liberdade Individual / Ditames Religiosos.
Mas, às tantas, a moirama é que tem razão (tal como os grupos de fundamentalistas religiosos cristãos). Qual secularização, qual ciência, o ser humano não precisa dessas coisas para viver em paz consigo próprio. Precisa é de Deus, de ter a consciência tranquila, de viver segundo os mandamentos divinos. E como tal, acho que nos devemos converter e deixar esta vida de pecado e estas discussões que não levam a lado nenhum. Quem não o fizer merece ser apedrejado.
É obvio que nem sempre o fomos, nós, o “Ocidente”, mas tivemos a capacidade de mudar, de separar o estado da religião, e isso, curiosamente aconteceu por alguma razão (Nota: investigar se o factor religioso, ou melhor, se o cristianismo teve alguma coisa a ver com o assunto). Não aconteceu no Oriente, não aconteceu em Africa, não aconteceu nos países Islâmicos. Essa é a nossa vantagem, não quer dizer que sejamos perfeitos, nem de longe o somos, nós, o “Ocidente”. Mas julgo ser consensual que nenhum dos que aqui tem “postado” gostaria de viver num pais muçulmano, e não é tanto pela questão económica é pelo facto de não querermos abdicar da nossa liberdade (por mais manipulada e ilusória que ela seja, não deixa de ser “mais” liberdade do que a que existe nas sociedades maioritariamente islâmicas…) E eu sei que nem sempre foi assim, existe uma dinâmica civilizacional, durante vários séculos o mundo islâmico foi o expoente máximo da civilização (entende-se como os dinamizadores do conhecimento e do “progresso”) mas depois deixaram de o ser.
O Islão tem, de facto, um problema religioso para resolver. E não são só os radicais islâmicos que são um problema, são todas as sociedades que seguem uma matriz religiosa islâmica e que não conseguem superar a dicotomia Estado / Religião, Liberdade Individual / Ditames Religiosos.
Mas, às tantas, a moirama é que tem razão (tal como os grupos de fundamentalistas religiosos cristãos). Qual secularização, qual ciência, o ser humano não precisa dessas coisas para viver em paz consigo próprio. Precisa é de Deus, de ter a consciência tranquila, de viver segundo os mandamentos divinos. E como tal, acho que nos devemos converter e deixar esta vida de pecado e estas discussões que não levam a lado nenhum. Quem não o fizer merece ser apedrejado.
Venham as pedras
A frase que mereceu a resposta foi esta: "Ora pois bem, não consigo respeitar uma civilização sem sentido de humor e sem a capacidade de rir de si própria."
1) Tu não fazes a mínima ideia se aquela civilização, seja lá isso o que for, tem ou não sentido de humor ou capacidade de se rir de si própria. Eu aposto que tem, embora assuma que existam assuntos muito sensíveis a partir dos quais seja quase impossível fazer humor. Mas como é que reagiu a "nossa civilização" ao cartoon do António com o preservativo no nariz do Papa, ou à Última Ceia do Herman José? Somos assim uma civilização tão tolerante. Há trinta e cinco anos podias neste país fazer o humor que fazes hoje? A questão é de civilização ou talvez a política tenha alguma importância? Não foi a nossa civilização, de matriz judaico-cristã, que queimou pessoas no Terreiro do Paço por pensarem de forma diferente do que nos dizia a Santa Madre Igreja? Não foi a nossa civilização que metodicamente meteu milhões de judeus nas câmaras de gás? Não foi a nossa civilização que, até meados do século XX, usou o esclavagismo mais primário para colonizar África? Não será um pouco abusivo falar em nome de civilizações contra outras civilizações. Será tão difícil perceber que a liberdade de imprensa está a servir as balelas do "choque de civilizações", por mais acrobacias argumentativas que tentem considerar a questão da liberdade de imprensa uma discussão autónoma. Gostei especialmente daquele argumento usado neste blogue das "pessoas que estão à minha volta pensam todas como eu" ... e acrescento que devem ouvir a mesma música e ler os mesmo livros e partilhar a mesma boa educação ... mas porventura não trabalharam na fábrica ... e talvez não leiam tablóides racistas ... e talvez não vejam reality shows ... .
2) Usar o pretenso sentido de humor para avaliar uma civilização, isto é, todos os milhões de seres humanos que vivem em determinado espaço, é relativamente bizarro. Mas concedo que é divertido. Talvez valesse a pena, digo eu, utilizar outros critérios de avaliação.
3) Resta considerar, se pensarmos, em tese, que o relativismo e a capacidade de evitar o preconceito são elementos próprios da nossa civilização, que estamos em processo rápido de decadência.
1) Tu não fazes a mínima ideia se aquela civilização, seja lá isso o que for, tem ou não sentido de humor ou capacidade de se rir de si própria. Eu aposto que tem, embora assuma que existam assuntos muito sensíveis a partir dos quais seja quase impossível fazer humor. Mas como é que reagiu a "nossa civilização" ao cartoon do António com o preservativo no nariz do Papa, ou à Última Ceia do Herman José? Somos assim uma civilização tão tolerante. Há trinta e cinco anos podias neste país fazer o humor que fazes hoje? A questão é de civilização ou talvez a política tenha alguma importância? Não foi a nossa civilização, de matriz judaico-cristã, que queimou pessoas no Terreiro do Paço por pensarem de forma diferente do que nos dizia a Santa Madre Igreja? Não foi a nossa civilização que metodicamente meteu milhões de judeus nas câmaras de gás? Não foi a nossa civilização que, até meados do século XX, usou o esclavagismo mais primário para colonizar África? Não será um pouco abusivo falar em nome de civilizações contra outras civilizações. Será tão difícil perceber que a liberdade de imprensa está a servir as balelas do "choque de civilizações", por mais acrobacias argumentativas que tentem considerar a questão da liberdade de imprensa uma discussão autónoma. Gostei especialmente daquele argumento usado neste blogue das "pessoas que estão à minha volta pensam todas como eu" ... e acrescento que devem ouvir a mesma música e ler os mesmo livros e partilhar a mesma boa educação ... mas porventura não trabalharam na fábrica ... e talvez não leiam tablóides racistas ... e talvez não vejam reality shows ... .
2) Usar o pretenso sentido de humor para avaliar uma civilização, isto é, todos os milhões de seres humanos que vivem em determinado espaço, é relativamente bizarro. Mas concedo que é divertido. Talvez valesse a pena, digo eu, utilizar outros critérios de avaliação.
3) Resta considerar, se pensarmos, em tese, que o relativismo e a capacidade de evitar o preconceito são elementos próprios da nossa civilização, que estamos em processo rápido de decadência.
Só podes estar a brincar...
Informa-se que o João Baião, o Nicolau Breyner e aquele baixinho irritante que apresenta um concurso qualquer, também são considerados humoristas... Mas daí até terem piada...
Quanto à antologia de humor islâmico (de 1941) levava para ai uns 14 anos para ler o livro, 20 para o compreender e uns 30 para encontrar uma piada de jeito... Dando uma vista de olhos ao índice, tresanda a piadas da ultima página da celebre "Família Cristã"...
Eu estava a me referir a uma boa piada de cariz religioso...
Ora Sr. Cientista mostre lá uma piada islâmica sobre as barbas do Maomé, ou sobre o comportamento sexual da nora Fátima escrita por um muçulmano, a viver num pais islâmico e que tenha sobrevivido à piadola, que eu conto 10 anedotas sobre Cristo e 10 sobre a Fátima da Cova de Iria.
Assim podemos ver se são tolerantes ou não...
O Sr. Abu Abed... : )
Tou em crer que não há relativismo cultural que aguente humor islâmico.
E quanto a Africa, acho os pretinhos e as pretinhas gente com muita piada.
Os orientais acho que não são muito humorados.
E agora, podem me apedrejar!
Quanto à antologia de humor islâmico (de 1941) levava para ai uns 14 anos para ler o livro, 20 para o compreender e uns 30 para encontrar uma piada de jeito... Dando uma vista de olhos ao índice, tresanda a piadas da ultima página da celebre "Família Cristã"...
Eu estava a me referir a uma boa piada de cariz religioso...
Ora Sr. Cientista mostre lá uma piada islâmica sobre as barbas do Maomé, ou sobre o comportamento sexual da nora Fátima escrita por um muçulmano, a viver num pais islâmico e que tenha sobrevivido à piadola, que eu conto 10 anedotas sobre Cristo e 10 sobre a Fátima da Cova de Iria.
Assim podemos ver se são tolerantes ou não...
O Sr. Abu Abed... : )
Tou em crer que não há relativismo cultural que aguente humor islâmico.
E quanto a Africa, acho os pretinhos e as pretinhas gente com muita piada.
Os orientais acho que não são muito humorados.
E agora, podem me apedrejar!
terça-feira, fevereiro 07, 2006
E não é que eles também riem ...
Seguem alguns sites de humor árabe. Mais abaixo há a indicação de uma antologia de humor árabe. Quem estiver interessado pode mandar vir o livro pela Amazon. E não é que eles têm humor ... e que gozam com eles próprios ... é extraordinário .. estou estupefacto ... pensava que só os povos de matriz cultural judaico-cristã, seja lá isso o que for, é que tinham comediantes ... qualquer dia ainda me dizem que os orientais também têm comediantes ... não, isso é impossível ..., Deus nos valha, essa gente não ri ... será que em África também se faz humor... não, não é possível ... eles são tão atrasados ...
http://www.abuabed.net/about.htm
www.arabicjoke.com
http://www.arabiano.com/entertainment/humor.shtml
www.sabda.org/humor/isi.php?id=246
Subject Book: An Anthology of Arab Humor In Arab LiteratureAuthor: Ali MrouehLanguage: ArabicPublisher: Riad El-Rayyes Books Ltd, LondonYear Published: First Printing 1947, Second Printing 1991Number of Pages: 8 volumes; Volume 1 – 182 pages The eight volumes that make up the Anthology of Humor and Arab Literature are: 1) The Peculiarities of Poets and Literary Writers2) The Peculiarities of Egyptians3) The Peculiarities of Driven Away Personalities4) The peculiarities of Judges5) The Peculiarities of Women and Concubines6) The Peculiarities of Geniuses and Fools7) The Peculiarities of Administrators/ Workers8) The Peculiarities of Odd People.
A recensão a este artigo segue em:
http://yementimes.com/article.shtml?i=878&p=culture&a=2
Qual é o problema?
O título do post foi muito em cima do joelho! (Sim, eu agora trabalho!). Mais rigorosamente deveria ter sido: Qual é o problema? ou, E depois? O que tem retratarem o "Profeta"? Como diz o Marçal: Onde está sentido de humor?
Em relação à mudança de aspecto do blog, confesso a minha falta em não ter questionado os restantes membros...Mas, este preto é lixado para os olhos!!!!
Em relação à mudança de aspecto do blog, confesso a minha falta em não ter questionado os restantes membros...Mas, este preto é lixado para os olhos!!!!
Extremismo
O que me alegra nisto tudo, é que finalmente este blog ganhou vida. Nem que seja por isso, gostei dos cartoons…
Humor
O que me chateia nisto, o que demonstra intolerância, é que nas sociedades de base cultural/religiosa cristãs, existe um leque enorme de pessoas que fazem, ou fizeram, humor com factos religiosos e lá por isso não veio desgraça maior ao mundo. No Judaísmo o Woody Allen e o Mel Brooks (ambos judeus) fartam-se de caricaturar os Judeus, sem que dai advenha uma catástrofe. No Islamismo existe um gajo que escreve um livrinho sem muita graça sobre o profeta e se não foge matam-no. Ora pois bem, não consigo respeitar uma civilização sem sentido de humor e sem a capacidade de rir de si própria.
Antes de sair de casa
Rute
Concordo totalmente contigo na questão da liberdade de imprensa e também acerca das "vantagens do securalismo". Mas o que o estou a dizer desde o princípio é que, neste caso particular, essa questão está a servir outros fins. E que esses fins se relacionam com a banalização entre as populações ocidentais da ideia peregrina do "choque das civilizações". É apenas aqui que discordamos. Já agora quando me referi à travagem dos processos de secularização falava do que sucedeu após a descolonização e não ao tempo das cruzadas.
Rato, o Ocidental
Vasco Rato, para defender ontem a liberdade de imprensa, foi tão longe que esteve prestes a proibir o Sheik Munir de ter uma opinião contrária aos cartoons. - Mas você não tem nada que estar contra, você não tem o direito de impor os seus valores; - Mas eu não estou a impor, estou apenas a dizer que não gosto; - Mas vocês não podem achar que dominam as civilizações ocidentais; - Mas eu só estou a dizer que não gosto dos Cartoons e que posso protestar contra eles; - Mas vocês fazem-no violentamente; - Mas quem é que somos nós, eu estou a dizer-lhe que não concordo; - Lá está não concorda; - Mas não está no meu direito não concordar. Uma curiosa inversão de papéis. Munir foi o oposto de tudo o Fátima colocou nas imagens, um homem de "intocável razoabilidade ocidental" que rapidamente fez o professor de ciência política parecer um perigoso bombista. Mas Vasco Rato fez mais: sugeriu que os muçulmanos eram inerentemente violentos, disse que eram responsáveis por quase todos os actos terroristas, disse que as manifestações em Londres e a situação violenta em Beirute e Damasco eram a prova que todos os muçulmanos pensavam assim, e claro, que eram uma ameaça à nossa civilização. Um democrata ocidental em toda a sua excelência. Ao contrário de Fátima, Vasco Rato não é ignorante, apenas mal intencionado. O lamentável é que o seu pensamento primário, ao estilo de George Bush, a sua visão unilateral, reducionista, cobarde e extremamente perigosa, sempre em nome da liberdade de imprensa, conseguiu sacar uns aplausos da plateia. Confesso que quando vejo algumas pessoas informadas a ter opiniões tão primárias, suspeito que haja alguma coisa de errado naquilo tudo. Já se sabe, são as teorias (C)onspirativas (I)nternacionais (A)bundantes.
A Fátima
Conhecerá Fátima Campos Ferreira os limites do papel de um moderador. Não perceberá que se o moderador toma descaradamente um partido em certa discussão, parte importante do públicos toma a sua opinião como se a de um juíz se tratasse. Não haverá ninguém na RTP que lhe explique isso, que lhe diga que certas funções não são compatíveis com a ignorância. Não a acho mal intencionada, apenas ignorante. Um exemplo: quando um dos convidados do programa de ontem, o Sheik Munir, bastante civilizadamente afirmou que se deveria, sim senhor, discutir a situação da mulher nos países muçulmanos, Fátima virou-se para a plateia, colocou um daqueles sorrisos auto-confiantes, e disse: sim, sim mas sabe, nenhumas das mulheres desta plateia gostariam de viver num país muçulmano. Porventura isso é verdade. Mas ninguém foi capaz de dizer à Fátima que se tomassemos os resultados dos estudos sobre violência doméstica em Portugal, uma em cada três mulheres daquela plateia já tinha sido alvo de maus tratos, ou para ser mais gráfico, de murros, de pontapés, de violações dentro do casamento. É um assunto que não mereceu ainda um programa. Andará Fátima a dormir? Será que Fátima ainda não percebeu que sua religião, a quem, em outros programas, já prestou fretes que punham em fúria qualquer secularista moderado, não concede os mesmos direitos às mulheres que concede aos homens. Fátima, acorda.
Liberdade de imprensa? II
O programa da RTP Prós e Contras do dia de ontem, sobre os cartoons e a liberdade de imprensa, pago pelo dinheiro dos contribuintes portugueses, foi uma prova cabal que a questão dos cartoons não é fundamentalmente uma questão de liberdade de imprensa. A condução e elaboração do programa foi xenófoba do princípio ao fim. A apresentadora, Fátimas Campos Ferreira, passou o programa a tratar os "muçulmanos" por "eles", "eles fazem", "eles matam", "eles esfolam", "eles não querem", "como é que nós os fazemos mudar", "como é que nós podemos manter os nossos valores se até os Estados Unidos e a Grã-Bretanha cederam e não publicaram os cartoons"; chegou a tratar Maomé por "o Maomé", o gajo. Fátima diria "o Jesus"? Mas a coisa não se ficou pelos apartes idiotas que nem a evidente ignorância da senhora perdoam. As únicas imagem que o programa passou retratavam seres enfurecidos a queimar, a pilhar, a destruir; ou a rezar em grupo como máquinas irracionais. Fátima nunca foi a Fátima? As imagens passaram várias vezes em fundo como ilustrações do que se ia dizendo. Foi absolutamente vergonhoso. Os convidados, exceptuando o inenarrável Vasco Rato, foram bastante mais razoáveis. O público, tristemente, lá aplaudiu algumas tiradas xenófobas, em nome da liberdade de imprensa.
Liberdade de imprensa?
Rute
Lamento insisitir mas a questão da liberdade de imprensa está a ser usada para alcançar objectivos políticos. E é precisamente por isso, basta ter alguma atenção, que o debate já se tornou num debate civilizacional. Não vou repetir argumentos porque se torna cansativo. Mas rebato algumas afirmações. Os países ocidentais não foram apenas complacentes, foram cúmplices e muitas vezes responsáveis directos pela subida de déspotas ao poder. Foi assim no Médio Oriente, foi assim em África, foi assim na América do Sul: Saddam, Mobutu, Pinochet. Apenas 3 nomes. Há pelo menos 30 que podiam ser adiantados. No caso do Médio Oriente os países ocidentais foram absolutamente responsáveis pela forma como processos de secularização que estavam em curso foram travados e revertidos. Note-se o caso evidente de Nasser no Egipto. Não acredito que estejas a confundir o mundo islâmico com a meia-dúzia de pessoas que se manifestou em Londres. Isso é a conversa do Daily Mail. Por outro lado, custa-me ainda mais acreditar nessa perigosa deriva jurídica que parece rejeitar manifestações de rua. As conspirações políticas e os obscuros interesses económicos realmente não existem. Tens razão. A intervenção no Iraque foi feita em nome da defesa dos valores dos países seculares, para derrubar um ditador que os países seculares puseram lá. Faz todo o sentido.
Então?
Gostava de pedir às pessoas que constantemente mudam o aspecto do blogue, sem consultarem os respectivos parceiros, que o parem de fazer. Existe um e-mail colectivo 0nde democraticamente se pode discutir a questão.
segunda-feira, fevereiro 06, 2006
Monty Python
O que eu queria mesmo era " A vida de Mustafá" pelos Monty Python... A ver o que acontecia...
Agendas políticas de quem?$$$$$$$$$$$$$$$$$
Comecei um post anterior da seguinte forma: "Fazer da questão da liberdade de imprensa, o foco principal dos cartoons do profeta Maomé é cair num erro." Não querendo impor ao leitor uma insterpretação única daquilo que escrevo, duvido que possam existir muitas formas de ler a frase. Assim de repente, apelando ao bom senso, não me parece ter afirmado a inexistência de um problema de liberdade de imprensa, mas apenas que, no contexto específico das relações entre essa coisa a que chamam "ocidente" e os países muçulmanos, os cartoons servem, fundamentalmente, outros propósitos. Um desses propósitos é a brutal redução das sociedades do Médio Oriente a um conjunto de estereótipos ignorantes, base das teorias do choque das civilizações. A situação nessas sociedades foi alimentada pelo apoio dos líderes das brilhantes sociedades seculares a toda a espécie de déspotas fundamentalistas, em nome de uma religião de Estado chamada nacionalismo, cujo interesse mais básico é a defesa de interesses económicos. Aliás, foi essencialmente para proteger esses interesses que os Estados Unidos condenou os cartoons. Resta lembrar que há limites, na minha opinião razoáveis, à liberdade de imprensa. A Constituição Portuguesa, por exemplo, proíbe propaganda racista. No contexto de um jornal de extrema-direita, não é totalmente claro que, junto com determinados textos de opinião xenófoba, não se possa considerar alguns dos cartoons perto de um patamar de intolerância que sei ser difícil definir. Considero-me um ocidental. Mas há muitas espécies de ocidentais, embora quase todos de sociedades seculares: os responsáveis pelo holocausto, os que colonizaram e escravizaram África, os que atiraram bombas atómicas, etc. O brilhante ocidente tem memória curta. Era bom que os seus cidadãos olhassem os fenómenos como questões complexas, em vez de os abordarem através de histerismos inconsequentes.
domingo, fevereiro 05, 2006
Agendas políticas de quem?
Fazer da questão da liberdade de imprensa, o foco principal dos cartoons do profeta Maomé é cair num erro. Independentemente do bom ou mau gosto dos cartoons, não havia razão para censura, embora, como alguém sugeriu, e de forma indirecta, possam ser considerados uma manifestação de xenofobia, realizada através de uma perigosa generalização: "todo o muçulmano é terrorista." Outra perigosa generalização é tomar o mundo islâmico pelas pessoas que se manifestaram violentamente nas ruas de Beirute e de Damasco. Foi assim, porém, que as televisões retrataram o acontecimento, reificando a famosa bipolarização entre "nós", o mundo ocidental, e eles, os muçulmanos. Noutra formulação, os racionais e os irracionais. A agenda extremista do ódio parece ter ganho mais uma batalha. Gostava de perceber, no entanto, o percurso que mediou a publicação de uma dúzia de cartoons num pequeno jornal da extrema-direita dinamarquesa e o incendiar da situação em alguns países muçulmanos. A quem interessa que as opiniões extremistas, que partem de uma ignorante bipolaridade, sejam banalizadas entre as populações dos dois pretensos blocos? A ocidente, a situação beneficia quem sabe ter perdido a opinião pública a propósito da importante questão da guerra. No mundo islâmico, serve o crescimento das bases do fundamentalismo. O extremismo, dos dois lados, tenta ganhar o centro político e a opinião pública. Receio que tenhamos caído na esparrela.
sábado, fevereiro 04, 2006
quinta-feira, fevereiro 02, 2006
Direito Criativo
Pode discutir-se o sentido do casamento. Mas isso, por enquanto, é discussão de café. Dito isto, não vejo por que raio o Estado, ou a Santa Madre Igreja, tem que meter o bedelho nas opções privadas das pessoas, dando direitos a uns e tirando direitos a outros. Vai ser muito interessante ver os constitucionalistas cujas opções ideológicas e religiosas são contra uniões entre pessoas do mesmo sexo a tentarem reinterpretar originalmente pressupostos constitucionais que não oferecem muitas dúvidas a um leigo. Já conhecíamos o interessante fenómeno da contabilidade criativa, mas sem dúvida que há poucas áreas como o direito, em que a criatividade atinge níveis tão altos.
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