A frase que mereceu a resposta foi esta: "Ora pois bem, não consigo respeitar uma civilização sem sentido de humor e sem a capacidade de rir de si própria."
1) Tu não fazes a mínima ideia se aquela civilização, seja lá isso o que for, tem ou não sentido de humor ou capacidade de se rir de si própria. Eu aposto que tem, embora assuma que existam assuntos muito sensíveis a partir dos quais seja quase impossível fazer humor. Mas como é que reagiu a "nossa civilização" ao cartoon do António com o preservativo no nariz do Papa, ou à Última Ceia do Herman José? Somos assim uma civilização tão tolerante. Há trinta e cinco anos podias neste país fazer o humor que fazes hoje? A questão é de civilização ou talvez a política tenha alguma importância? Não foi a nossa civilização, de matriz judaico-cristã, que queimou pessoas no Terreiro do Paço por pensarem de forma diferente do que nos dizia a Santa Madre Igreja? Não foi a nossa civilização que metodicamente meteu milhões de judeus nas câmaras de gás? Não foi a nossa civilização que, até meados do século XX, usou o esclavagismo mais primário para colonizar África? Não será um pouco abusivo falar em nome de civilizações contra outras civilizações. Será tão difícil perceber que a liberdade de imprensa está a servir as balelas do "choque de civilizações", por mais acrobacias argumentativas que tentem considerar a questão da liberdade de imprensa uma discussão autónoma. Gostei especialmente daquele argumento usado neste blogue das "pessoas que estão à minha volta pensam todas como eu" ... e acrescento que devem ouvir a mesma música e ler os mesmo livros e partilhar a mesma boa educação ... mas porventura não trabalharam na fábrica ... e talvez não leiam tablóides racistas ... e talvez não vejam reality shows ... .
2) Usar o pretenso sentido de humor para avaliar uma civilização, isto é, todos os milhões de seres humanos que vivem em determinado espaço, é relativamente bizarro. Mas concedo que é divertido. Talvez valesse a pena, digo eu, utilizar outros critérios de avaliação.
3) Resta considerar, se pensarmos, em tese, que o relativismo e a capacidade de evitar o preconceito são elementos próprios da nossa civilização, que estamos em processo rápido de decadência.