É bom saber que deixámos a espuma da liberdade de impressa e chegámos rapidamente ao cerne da questão. Há dois erros que não cometo. O primeiro é ser apanhado nesse maniqueísmo bipolar e ser tido como defensor de estados teocráticos que alimentam as mais crúeis injustiças. Prefiro, sem dúvida, o modelo secular. Mas reparem que denomino esses países de estados teocráticos, onde há responsáveis políticos e religiosos pela situação social que ai se vive. Os maiores desses responsáveis, acrescente-se, nem são locais. As situação actual têm por base processos históricos que convém conhecer. Isto é totalmente diferente de colocar o debate a nível da cultura, o que acaba por ser uma forma de racismo mascarado. Ninguém olha para a história, a política deixa de existir, a economia devanece-se, restando a cultura e a religião. O outro erro que não partilho é essa nova visão do mundo que um novo totalitarismo quer passar para as mundividências dos cidadãos do ocidente. O que se deseja é substituir a União Soviética como forma de acartelar as tropas, neste caso as opiniões públicas. Como foi aqui dito, é essencial combater todos os totalitarismos, e não há outro mais forte, pelo seu poder militar e económico, do que o que à força tenta dividir o mundo em dois. Falou-se de diversidade política, diversidade económica, diversidade cultural. Onde é que está essa diversidade se dividimos o mundo em dois. Lamento mas nesse plural cego, "nós isto", "nós aquilo" grande parte do mundo ocidental não entra. Basta pensar nas manifestações contra a guerra que varreram a Europa, um conflito que violou as regras mais básicas do direito internacional. Não é o cumprimento da lei uma característica das sociedades seculares? Parece que não. Porque antes dessa lei cultural que tanto apregoam, está a lei da economia e da política, esses sim os factores que dominam o mundo. Se o petróleo que existe no golfo pérsico estivesse na Bolívia o ocidente estava em guerra com a civilização índia. Totalitarismo é o modo como me obrigam a participar nesse "nós", um "nós" onde não há patrões nem empregados, homens nem mulheres, negros nem brancos, onde nem existem culturas diferentes, onde não existem sistemas económicos. Salvem-me deste totalitarismo. Não sei quem é digno de ser convidado para jantar, mas porventura não serão aqueles que torturam prisioneiros violando convenções internacionais, que já mataram dezenas de milhares de civis no Iraque, que começam uma guerra com uma mentira absolutamente descarada. A cartilha liberal, não menos descaradamente, diz que foram lá para derrubar um ditador. Mas quem é que apoiou esse ditador durante dezenas de anos? Nessa altura, os líderes da nossa civilização não tinham percebido que o homem, como muitos outros que foram vergonhosamente apoiados pelo ocidente, é um déspota sanguinário. Por que é que esta nossa superioridade não obriga o ocidente a cessar os acordos económicos com países como a Arábia Saudita? Onde é que estão as sanções que essas culturas tão atrasadas merecem? Hipocrisia de uma ponta à outra. Isto para dizer que a "pena" do ocidente não se fica pelas cruzadas, nem pela inquisição, nem tão pouco pelo holocausto. Essa "pena" é contemporânea. É tragicamente contemporânea. Esse "nós" coloca-me a mim ao lado dos maiores bandidos, e o nome é leve, que existem actualmente. Não entro nesse "nós" nem à custa de truques baixos sobre a liberdade de imprensa. O mundo islâmico não ameaça em nada a liberdade de imprensa no ocidente. O que a ameça verdadeiramente é a concentração dos media, é o controlo governamental sobre os media, que se nota, por exemplo, nos Estados Unidos. É verdade que sou um ocidental, mas não me ponham ao lado dessa gente. A esse "nós" não pertenço. Em relação às questões que foram levantadas sobre África, a resposta segue para a semana, já que o que foi dito é um branqueamento que necessita de ser desmascarado.