Vasco Rato, para defender ontem a liberdade de imprensa, foi tão longe que esteve prestes a proibir o Sheik Munir de ter uma opinião contrária aos cartoons. - Mas você não tem nada que estar contra, você não tem o direito de impor os seus valores; - Mas eu não estou a impor, estou apenas a dizer que não gosto; - Mas vocês não podem achar que dominam as civilizações ocidentais; - Mas eu só estou a dizer que não gosto dos Cartoons e que posso protestar contra eles; - Mas vocês fazem-no violentamente; - Mas quem é que somos nós, eu estou a dizer-lhe que não concordo; - Lá está não concorda; - Mas não está no meu direito não concordar. Uma curiosa inversão de papéis. Munir foi o oposto de tudo o Fátima colocou nas imagens, um homem de "intocável razoabilidade ocidental" que rapidamente fez o professor de ciência política parecer um perigoso bombista. Mas Vasco Rato fez mais: sugeriu que os muçulmanos eram inerentemente violentos, disse que eram responsáveis por quase todos os actos terroristas, disse que as manifestações em Londres e a situação violenta em Beirute e Damasco eram a prova que todos os muçulmanos pensavam assim, e claro, que eram uma ameaça à nossa civilização. Um democrata ocidental em toda a sua excelência. Ao contrário de Fátima, Vasco Rato não é ignorante, apenas mal intencionado. O lamentável é que o seu pensamento primário, ao estilo de George Bush, a sua visão unilateral, reducionista, cobarde e extremamente perigosa, sempre em nome da liberdade de imprensa, conseguiu sacar uns aplausos da plateia. Confesso que quando vejo algumas pessoas informadas a ter opiniões tão primárias, suspeito que haja alguma coisa de errado naquilo tudo. Já se sabe, são as teorias (C)onspirativas (I)nternacionais (A)bundantes.