terça-feira, fevereiro 28, 2006
Quem são as vítimas?
É relativamente divertido, mas também trágico, ver aqueles que defendem os poderes dominantes do mundo a fazerem-se de vítimas, pobres marginalizados sociais que vivem longe do conhecimento. Não, não resulta. Algumas posições aqui defendidas sobre África foram desumanas e partem de uma visão do mundo que olha de cima, típica de certa ciência política que é mais política que científica. Aliás toda a última resposta foi a tentativa de colocar qualquer opinião dentro de um enquadramento político, é o senhor Louçã para lá, o partido único para cá, etc. Não, não funciona. O mundo é mais complexo do que esse xadrez político. Quando falei da necessidade de utilizar argumentos sustentados não me estava a defender, nem a referir-me a mim próprio, mas apenas a apelar a uma discussão que não partisse precisamente de uma lógica “clubista”, cega da realidade e clara defensora de interesses ideológicos. Lamento, mas não fui eu que disse que defender o contrário da minha opinião era indefensável. Quem não quer ser lobo que não lhe vista a pele. Quando se toma “a democracia absoluta” por uma bitola de exigência, quando se apregoa o respeito pelo outro, tem que se estar aberto às críticas, porque se não, como infelizmente acontece, a democracia é muito bonita mas é só para alguns. É evidente que as pessoas ficam mais bem informadas através de indivíduos que conhecem o terreno e a história específica de certos países e regiões, (e ao referir-me a estas pessoas não me estou a incluir no grupo, mas sim a utilizá-las como fontes de informação para os meus argumentos, o que é diferente), do que por geo-estrategas junto de certos governos cujo modo cínico de encarar a vida provocou 100 vezes mais mortes do que qualquer ditador africano. É essencial referir, por outro lado, que não se trata, como foi tentado passar, de um debate entre uma arrogância bem informada e alguém vítima do desconhecimento. Os argumentos utilizados para defender aqui certas opiniões não são nada originais nem ignorantes. A vitimação não resulta. Essas opiniões são defendidas em Portugal por pessoas bem instaladas nos meios de comunicação social, poderosos, alguém que tem forte poder de influência; encontramo-los na pena de José Manuel Fernandes, Luís Delgado, Helena Matos, Vasco Rato, Rui Ramos, etc; Pobres ignorantes? Não me parece.