Dadas as estatísticas cruéis da sinistralidade rodoviária, a velocidade excessiva, as transgressões grosseiras do código da estrada, o mau estado de conservação das estradas e o sono, têm estado sempre presentes nos discursos do apuramento das funestas causas do negro panorama de acidentes em Portugal, o qual não tem fim à vista.
A todos estes comprovados motivos, eu acrescentaria, por elementar justiça, um outro, que, ou muito me engano eu ou já tem provocado bastantes acidentes pelo desespero que provoca, mesmo nos condutores com um histórico de cadastro sem infracções, levando-os à prática de manobras arriscadas para se apartarem do perigo: os Condutores de Domingo.
Os Condutores de Domingo pegam na sua carripana ao domingo, geralmente bem conservada depois de uma semana de pousio na garagem, com esposa, descendentes e sogros a acompanhar, e lançam-se no alcatrão determinados a nunca exceder os 30 ou 40km/h, no máximo, e com isso conseguirem igualar a média de qualquer cicloturista.
Abnegados e inflexíveis, é vê-los agruparem-se aos magotes depois do almoço para se passearem descontraidamente, frequentemente com os braços de fora dos vidros, apontando incessantemente para todas as direcções “Olhem aquela casa salmão. Bonita, mas acho que as caves são pouco altas”; “Vejam, vejam aqui à direita, aquele relvado com macieiras de bravo de elmolfe!”.
Demitindo-se das filas de quilómetros que a sua vagarosidade assumida acarreta, começam por levar o mais cumpridor das regras de trânsito à apoquentação, depois à ânsia, a seguir à aflição e, por fim, ao desespero total (que está na origem da tentativa enfurecida de ultrapassar colericamente esta sub-espécie das nossas estradas para poder prosseguir na estrada com uma mudança superior à 2).
A solução, e depreendendo que tais condutores são encartados, alguns há 40 ou 50 anos, e por isso têm o direito de conduzir, está em construir um ou dois circuitos, não de velocidade, mas sim de vagarosidade, para poderem livremente dar azo aos seus ímpetos obstrucionistas.
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