segunda-feira, setembro 13, 2004

O nosso homem em Londres

Pensaram que o indivíduo se ia calar? Pensaram que ia transformar os seus modos por respeito ao país onde trabalha, que ia deixar de ser malcriado e arrogante, que ia começar a sorrir? Pensaram mal. José Mourinho continua igual, sem tirar nem pôr. Os jornais ingleses adoram-no porque ele é notícia. Divertem-se com as suas baboseiras e esperam gulosos que Mourinho se espalhe para o ridicularizar implacavelmente. Já passaram cinco semanas e continuam à espera. Têm a certeza, no entanto, que o momento virá. Mourinho diz mal dos árbitros, não é polido com os adversários, diz mal dos métodos de treino em Inglaterra e chegou a insinuar, dirigindo-se ao mundo britânico, que só recebia lições de quem ganhava mais trofeus internacionais do que ele. Há alguém por aí que tenha ganho mais do que eu? Depois de afirmar que antes dele só Deus, o treinador de Setúbal afirmou que só o todo poderoso lhe tira o sono, sugerindo que os media ingleses lhe eram perfeitamente indiferentes. O homem já comprou mil guerras, mas é extraordinário o modo como pretende ganhá-las uma a uma.
Mourinho consegue, como todos sabemos, ser bastante irritante. Mas como estas coisas têm sempre que ser avaliadas dentro do seu próprio contexto, o nosso homem em Londres têm alguma graça. Habituados à emigração portuguesa da cabeça vergada, do trabalhador pouco instruído e economicamente debilitado vemos de repente aterrar na sobranceira capital do que foi o maior império do mundo um indivíduo obviamente latino, com um ar chateado, um ordenado milionário e uma confiança do tamanho do universo que o leva, com a maior das irresponsabilidades, a disparar para todo o lado enfrentando qualquer adversário, independendemente da sua origem, história, tradição, fleuma, etc. Continuamos à espera do momento da queda de Mourinho.

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