quarta-feira, setembro 08, 2004

O Guerreiro

O Guerreiro é o antigo comandante do exército privado de um senhor feudal, numa Índia remota e cercada pelo deserto. Líder feroz e impiedoso ao serviço da extorsão da vida e das colheitas alimentares das aldeias sob o jugo inclemente do senhor, rebela-se, a certa altura, contra este ao abandonar o seu posto para regressar à aldeia natal. Imediatamente perseguido pelos sequazes do suserano, que se considerava afrontado na sua honra, vê o filho ser degolado às mãos dos anteriores companheiros de guerra, logo no início da sua viagem de retorno primordial.
Por entre paisagens desérticas e montanhas enregeladas, a viagem de retorno torna-se a partir desse momento um ritual da tentativa de expiação de antigos pecados, sempre presentes, seja pela activação espontânea da memória seja pelo acompanhamento inseparável de um descendente das suas inúmeras vítimas, símbolo do passado, ou pela repulsa da sábia anciã que busca as águas sagradas, no seu auxílio motor.
Amargurado pela sucessão de recordações, vagarosamente se arrasta sob tempestades de areia ou de areia, numa absoluta resignação aos desígnios providenciais, até chegar a ser encontrado pelo ambicioso antigo coadjuvante de epopeias de destruição. Abdicando da vingança imediata, coloca-se sob o alcance do punhal do sicário, até que o seu jovem companheiro de viagem, sombra do seu passado maldito, lhe salva a vida.
Notável do ponto de visto do enquadramento natural, o Guerreiro é uma metáfora singular do arrependimento e da busca de perdão.





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