quarta-feira, setembro 22, 2004

O maravilhoso mundo do golfe

Realizou-se neste último fim-de-semana uma competição de golfe chamada Ryder Cup. Para quem não saiba bem que desporto é este avanço com duas ilustrações. O golfe é aquela modalidade que está a transformar a nossa paisagem rural num conjunto de terrenos arrelvados com 18 buracos assinalados por um bandeira, povoados por uma catrefada de ingleses e alemães gordos, de meias brancas e uns tacos na mão. O golfe também é, ao mesmo tempo, o desporto das novas elites endinheiradas portuguesas, especialmente daqueles novos ricos que resolvem começar a praticar a coisa aos sessenta anos, com os sapatinhos do golfe, os bonezinhos como aparecem nas revistas, as camisolinhas da Lacoste, e uma falta de jeito olímpica, habituados que estão à sueca e ao bilhar às três tabelas. Mas adiante.
A Ryder Cup realiza-se de dois em dois anos e opõe uma equipa de golfistas norte-americanos a uma equipa de golfistas europeus. Este ano os europeus, entre os quais se encontravam uns quantos britânicos, deram uma cabazada aos americanos. Em face disto, a BBC resolveu questionar os seus espectadores com a seguinte pergunta: depois da vitória europeia na Ryder Cup ficou com orgulho em ser europeu? A pergunta, relativamente pateta, dá azo a inúmeras leituras extra-desportivas. 39% daqueles que responderam afirmaram que sim, que sentem orgulho em ser europeus, mas 61% afirmou que não. As análises adiantam que, de um ponto de vista progressista, os números nem são maus. O nacionalismo em Inglaterra tem-se tornado uma realidade mais visível desde que o momento em que a União Europeia começou a ganhar uma forma definitiva. A libra, a rainha, as recordações do império, etc., são símbolos da singularidade britânica que influenciam as atitudes dos ingleses perante a Europa: o outro mais próximo. A Europa só parece atraente no contexto político internacional, isto é, a maior parte dos ingleses revê-se mais na opinião política dos governos da «velha Europa» no que na posição de Blair. Mas a decisão sobre o futuro da Inglaterra, especialmente ao que respeita a economia e o futuro da libra, deve estar dependente de outros processos: resistirá o nacionalismo à pressão económica, resistirá a libra ao enorme mercado da zona euro? A ver.

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