Tem sido um filme levado ao colo pela crítica cinematográfica, e não só, por permitir a abertura de um “espaço de encantamento”, pelo “jogo de subtileza” aí presente, por constituir-se como um momento propício para “o espectador ser assaltado pelos seus fantasmas”, etc.
Envolto num envelope tão prendado, ao abri-lo e ao ver-se o filme inserto fica-se com a impressão de que a crítica, realmente, habita um universo muito singular, ensimesmado quanto baste, pois consegue descobrir subtileza onde existe a inanidade quase total, confundir encantamento com corriqueiro, e transpor os seus fantasmas pessoais para os espectadores.
“Antes de Anoitecer” é um filme passado quase em tempo real entre um par que se reencontra nove anos depois de se ter separado em Viena, com promessas mútuas de rápido reencontro mas que os desígnios insondáveis do destino entretanto impediram (onde é que eu já vi isto?). Reencontro cumprido, percorrem Paris recordando Viena, carpindo mágoas sobre as vicissitudes das suas vidas amorosas, divagando acerca da impotência dos homens franceses, por contraponto à tusa constante dos americanos.
No fim, Julie Delpi canta e encanta, Ethan Hawke vê a hora de apanhar o avião aproximar-se a contragosto e descem subitamente as cortinas sobre a história, concedendo-se ao espectador, ao jeito do você decide, o poder de imaginar um enredo feliz de ansiada união ou infeliz de repetida separação.
Ironicamente, a sensação que fica no final é a de que aqueles dois nunca chegam a lado nenhum, antes andam constantemente a engonhar, sendo aquilo que se costumar designar por uns grandes empata-fodas. Cá para mim, Julie Delpi só tem garganta e Ethan Hawke afinal é francês.
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