Alguém se lembra de Baldrick? Baldrick era aquela figura pequena, normalmente suja e não muito inteligente, que acompanhava as aventuras de Black Adder, personagem televisiva imortalizada pelo conhecido cómico inglês Rowan Atkinson. Pois bem, Baldrick, ou melhor o actor Tony Robinson, está de volta, apresentando uma série de documentários sobre os piores trabalhos existentes na Inglaterra oitocentista da rainha Vitória. O título é algo guloso, mas a intenção comercial proporciona uma curiosa e interessante, se bem que ligeira, arqueologia do trabalho no período de intensificação da revolução industrial. Robinson viaja por diversos espaços laborais, demonstra como se edificaram as grandes obras, quem construía os túneis e as valas, por onde passaram os comboios, revela as condições nas fábricas, a exploração da mão-de-obra nos campos, os trabalhos forçados, o trabalho infantil. A presença nos ambientes de trabalho e a exemplificação de “como se fazia” possibilitam a compreensão da violência inerente a muitas ocupações (Violência que sobreviveu, em larga medida, à Inglaterra industrial vitoriana. As fotografias de Sebastião Salgado sobre o “trabalho” são um bom exemplo do tratamento do tema na actualidade). Os documentários apresentados por Robinson permitem, ainda, de uma forma geral, mergulhar na vida quotidiana dos grupos sociais mais baixos, traçando a sua genealogia. Este programa passa em horário nobre, ao Sábado, num dos principais canais ingleses. Diga-se que a televisão inglesa está muito longe de ser um exemplo de qualidade. No entanto, é considerável a atenção conferida ao documentário. A utilização de actores como Tony Robinson, ou como os ex-Monty Phyton Terry Jones e Michael Palin, na apresentação de documentários históricos ou de viagens, é uma forma encontrada de transmitir de forma simples e didáctica, não descurando a qualidade, conteúdos históricos e sociais. Um facilitismo, dirão alguns. Ao conseguir unir a distracção ao conhecimento estes documentários cumprem, porém, uma função importante que não belisca o seu valor. Isto faz-me lembrar quanto seria necessário encontrar em Portugal alternativas ao José Hermano Saraiva, que, pese embora a sua historiografia, povoada em demasia por reis, rainhas, príncipes e princesas, lá vai fazendo o seu trabalho de divulgação.
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