Vive-se uma espécie de histeria papal. Confesso que não percebo porquê. Encontram-se entre os mais entusiásticos aqueles que, há muito pouco tempo, perante a posição anti-guerra do papa, afirmaram que o senhor não podia dizer outra coisa; a sua opinião era salutar, humana no fundo, mas o assunto era sério e, assim, valores mais altos se levantam. E pensava eu que acima do papa só o outro, vocês sabem quem. Este papa, dentro do género, foi bastante mau. É certo que não mandou ninguém para a fogueira, não colaborou com nazis e até pediu desculpa ao Galileu, embora com ligeiro atraso. De resto foi mau. Atribuem-lhe o facto de ter esmagado o comunismo soviético, mas este esmagou-se a si mesmo. No que respeita ao modo como julgou a vidas das pessoas foi de um fundamentalismo extraordinário. As suas posições em relação aos métodos contraceptivos, ao aborto, ao divórcio, aos homossexuais são quase medievais. Mais grave, porém, talvez seja o modo como as mulheres continuam a ser tratadas no interior da igreja católica. Claro que por detrás da moral e dos bons costumes estão, como dizem os católicos oportunistas que apoiaram a guerra, os assuntos sérios: as negociatas da opus dei, os interesses financeiros, as infiltrações nos meandros do poder político, académico, judicial, etc. Respeito os poucos católicos que seguem os bons ensinamentos do livro, com certeza que são cidadãos quase exemplares. Não acho que a Igreja seja um todo uniforme. Como em todo o lado há pessoas que pensam de forma diferente e que têm uma postura progressista e humana. No geral, porém, a hierarquia reflecte quase sempre um conservadorismo perverso.