sexta-feira, outubro 31, 2003

Sobre a bola...

Sempre fez-me muita confusão, muito antes da minha incursão pelos meandros da Sociologia, o fanatismo, de toda e qualquer espécie.
Lamentavelmente, ou talvez não, nunca encontrei uma facção, ou grupo, com a qual me identificasse completamente. E sempre achei redutor (apesar de inevitável) ter de optar por uma facção ou, pior ainda, ter um sentimento “determinista” de pertença a uma “tribo” por herança. Claro que é muito mais confortável ter as opções já todas feitas à nascença, o método de “recrutamento” que as Religiões apuraram em milénios de existência, mas acho muito mais “vida” (apesar de muito mais difícil) os indivíduos terem a possibilidade e a responsabilidade de fazerem as suas escolhas.
No futebol, apesar de ainda ter resistido uns anos, tive de fazer uma opção relativamente cedo. A pressão foi demasiada. A certa altura, lá pelo início do secundário, vinha a pergunta inevitável: “Então, qual é o teu clube?” Lá estava eu com um enorme problema... Eu até gostava de “jogar à bola”, mas não tinha um clube, não tinha pachorra para ver jogos de futebol, e entre uma colecção de cromos de jogadores de bola e outra sobre a Exploração Espacial nem tinha dúvidas, optava pela última...
E neste juvenil limbo identitário andava eu, a ser olhado cada vez mais de lado pelos colegas de escola. Era “o gajo esquisito que não tinha clube de futebol”, e isto no melhor dos epítetos...
Até o dia em que resolvi o assunto optando pelo Sporting. Motivo: era o único clube do qual eu tinha uma t-shirt (oferta de um primo mais velho que era dirigente do Sporting Club Madeira). Passei a dizer que era do Sporting. Uma escolha muito racional...
Até que comecei a achar piada a esta coisa de ser sportinguista. Anos e anos seguidos sem ver uma vitória e um gajo ia rindo e dizia: “Pois, isto de ser sportinguista...”
O que eu gostava do Sporting era esta característica de perder campeonatos mas não perder a compostura. Meteu-se-me na cabeça que o Sporting era um clube de cavalheiros. E até acho que o Sporting teve o melhor presidente de um clube de futebol em Portugal nos últimos anos, o Roquette, que era um cavalheiro com visão. Mas, por outro lado, o Sporting também teve, na sua equipa, alguns dos maiores energúmenos que já vi no futebol: o João Pinto e o Sá Pinto ( ambos Pintos, como eu... Hum!??)
Pela primeira razão continuo a simpatizar com o Sporting. Mas, pela segunda razão (que se repete em todos os outros clubes, uma completa falta de desportivismo e de civismo ao que se junta o fenómeno claques, os presidentes “empreiteiros patos bravos” e o descarado aproveitamento político que se faz da coisa, etc.), não me importava nada que fizessem explodir o novo estádio do Sporting e todos os outros juntamente.
Só ficavam os campos de futebol para a malta ir jogar ao fim-de-semana e para os putos passarem as tardes entretidos. Acabava com o futebol profissional em dois tempos. E acho que ninguém ia perder nada. Mesmo os que muito gostam de ir passar tardes num estádio a apanhar banhos de multidão (coisa que se consegue muito bem fazer viajando de Metro e que é cada vez mais raro acontecer nos estádios...).
Acho que o futebol, tal como está, só dá para gozar e rir um bocado. Ir mandando umas bocas para os amigos, mas nunca e jamais para ser levado minimamente a sério...
É por isso que este último post do Nuno deixou-me um pouco chocado... E não acredito que alguém do Pato perca tempo a “ter ódio pelo Benfica.”
Como também duvido muito que alguém da tenha ido a Lisboa beijar a mão a um vendedor de pneus... A não ser que um independentista tivesse tido o azar de ter simultaneamente dois pneus furados às 4 da manhã a meio de Monsanto... Acho que qualquer um beijava a mão ao vendedor de pneus que o tirasse da embrulhada.
Fica a promessa de, quando me for possível, ou achar que tenho alguma coisa a acrescentar, falar sobre "a desertificação do interior, dos múltiplos despedimentos que assolam a Beira Baixa, das fábricas que fecham, das escolas que fecham", entre outros. Isto se conseguir ultrapassar o trauma do jornalista....