quinta-feira, outubro 30, 2003

Sobre o ódio

Sobre o ódio.

O caso está a tornar-se, do ponto de vista medicinal da questão, patético e preocupante. Quando falo sobre a bola, ultrapasso muitas vezes os limites da minha racionalidade, mas faço-o quase sempre conscientemente. Receio, porém, que o mesmo não se passe em relação a alguns dos meus companheiros de blog, O ódio que sentem pelo Benfica parece tão real e vincado que, de repente, parece ter-se tornado o seu objectivo de vida violentar tudo o que se relacione com o clube da águia. Como sou simpatizante desta agremiação devo dizer que me sinto também violentado. Só sou do Benfica porque o meu avô me levava ao estádio, não pertenço a nenhum bando de malfeitores. O raciocínio dos meus companheiros é tão primário, tão ressabiado e tão ressentido que temo percam a razão, instrumento tão importante para analisar outros problemas do mundo. São 22 jogadores atrás de uma bola. Se quiserem criticar as relações do futebol com a política, a economia e os media, não culpem os mais fracos, dirigam-se aos políticos, às empresas, e às televisões etc. Meus amigos, não têm mais nada para fazer na vida do que ver os jogos do Benfica, a inauguração do estádio do Benfica, as notícias de jornal sobre o Benfica, os programas de rádio sobre o Benfica, e escrever textos sobre o Benfica. Ao menos o Hugo fala de Top-models. Vocês também se podiam distrair com outras coisas. A energia que gastam com o Benfica (um verdadeiro saco de boxe freudiano) podiam-na utilizar de forma mais útil. Sei lá, eu sei que isto ao pé do Benfica não interessa nada, mas podiam falar da desertificação do interior, dos múltiplos despedimentos que assolam a Beira Baixa, das fábricas que fecham, das escolas que fecham. Bem sei que são coisas menores ao pé do Benfica, mas era só para variar um bocadinho. Por exemplo, para falar de impostos não é preciso chatear o Benfica, mas talvez apontar o dedo a certos dirigentes regionais, que andam sempre com a independência de baixo da língua, mas depois, provincianamente, vêm a Lisboa beijar a mão do rei dos pneus. E depois a culpa é do Benfica.