quinta-feira, janeiro 27, 2005

Emigração outra vez

Por cá, o Partido Conservador, a tentar desesperadamente recuperar os votos que perdeu para a extrema-direita, lá avançou com mais uma proposta de lei para combater a emigração, seja esta causada por motivos económicos ou por motivos políticos. O noticiário da BBC2 resolveu debater a questão. O senhor do partido conservador lá disse que a lei era viável, mesmo que quebrasse convenções internacionais sobre refugiados e leis europeias; disse mesmo que se estava nas tintas para a Europa. Bravo. Uma senhora que defendia os interesses dos refugiados não foi brilhante, já que se preocupou apenas com os refugiados políticos deixando o problema dos refugiados económicos ao critério dos governos. Mas foi uma terceira figura que mais chamou a atenção. Este último cavalheiro, que não consigo perceber por que raio foi convidado para o debate, ficou conhecido por ter ganho um concurso num outro canal televisivo. O concurso, intitulado “vote for me”, consistia, se bem percebi, num género de disputa política fictícia entre vários concorrentes, cabendo aos telespectadores ingleses a decisão quanto ao vencedor. Pois bem, este senhor, que ganhou o tal concurso de popularidade, afirmou que o país “estava fechado para o negócio”, “close for business”, isto é, que ninguém, mas ninguém, deveria poder entrar na Inglaterra. Mas disse mais, perante as provocações do jornalista, o excelente Jeremy Paxman, disse que mesmo numa situação idêntica à resultante dos campos de extermínio nazi, a Inglaterra não deveria receber um único refugiado. Disse-o com convicção e sem qualquer vergonha. Perante a constatação de que são precisos estrangeiros para realizar certos trabalhos em Inglaterra, o senhor afirmou que deveriam ficar até que ingleses fossem especialmente formados para esses trabalhos, mas depois teriam que sair. Perante o nível do debate, o governo trabalhista o mais que consegue dizer, pela boca de Blair, é que o plano dos tories é pouco prático e burocrático. Diga-se que enquanto os conservadores querem impor um quota de 15 000 refugiados por ano na Inglaterra, há países africanos e asiáticos, pouco mais que miseráveis, que recebem milhões de refugiados provenientes de países ainda mais miseráveis do que eles. Assim vai o mundo.