Os Lusíadas são uma das obras-primas da literatura portuguesa e mundial. Há poucos dias atrás concluí finalmente a sua leitura. Só à segunda tentativa visto que, há mais ou menos três anos, fiz uma primeira incursão para ler a obra épica de Camões. Infelizmente,e ao contrário do que é habitual nos meus hábitos de leitura - onde sou incapaz de deixar um livro a meio, mesmo que o ache intragável - interrompi no quinto canto, curiosamente com as naus de Vasco da Gama a aproximarem-se do Cabo da Boa Esperança. Não consegui dobrar o Cabo. O Adamastor não deve ter gostado da minha cara e voltei a pôr o livro na prateleira.
À segunda foi de vez e os dez cantos foram rapidamente percorridos (talvez seja mais correcto dizer navegados), estrofe por estrofe. E aqui deixo o meu elogio a Luís Vaz de Camões porque é de facto notável como se consegue produzir uma obra deste calibre, sempre em oitavas, sempre com o mesmo esquema rimático e sempre com o mesmo número de sílabas métricas. Verdadeiramente assombroso o talento e o engenho deste génio universal que o pequeno rectângulo produziu. E que, tal como outros Portugueses de valor, não viu ainda em vida serem reconhecidos os seus méritos.
Os Lusíadas são muito mais que uma obra em poesia. São o relato de uma viagem, numa época que deve ter sido verdadeiramente fascinante de viver, são um manual de História de Portugal (desde os primórdios até à actualidade do autor) e são igualmente um retrato da sociedade portuguesa do séc. XVI. Só me interrogo como é que o censor do Santo Ofício deixou passar a autêntica sessão de sexo em grupo que decorre na Ilha dos Amores, sublime recompensa dos marinheiros portugueses, desgastados e esgotados de mil e uma peripécias. Eu escrevi desgastados e esgostados? Esqueçam o que eu escrevi.
À laia de reflexão deixo aqui a transcrição da estrofe 145 do canto décimo:
"Não mais, Musa, não mais, que a lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho,
Não no dá a Pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Duma austera, apagada e vil tristeza."
Intemporal, não é?
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