Uma suave educação sonora, mais ou menos distinta, afasta muitas pessoas dos sons produzidos pelas bandas que compõem o universo multifacetado do heavy metal. Numerosos ouvidos, cuja sensibilidade é socialmente produzida, reagem, opinam, protestam, quando confrontados com um conjunto de sons que reconhecem genericamente como fazendo parte deste universo musical. A cansativa frase “é só barulho” torna-se numa avaliação comum que irrita sobremaneira o militante do metal. Todo o amante de música, independentemente do estilo, se aborrece quando o apreciador não iniciado realiza generalizações abusivas e quase sempre ignorantes. Fortemente enraizado nas práticas culturais de classes sociais baixas, o heavy metal cresceu em grande medida fora dos grandes circuitos da indústria musical. A sua divulgação faz-se quase sempre através do contacto pessoal, por redes imensas através das quais se trocam cassetes, discos e outro material relativo às bandas. Pouco se sabe da grandeza deste universo. Os media passam-lhe ao lado, embora a sua dimensão não seja despicienda.
Na universidade, a cultura popular continua a ser um objecto pouco apreciado, que se encontra na base da pirâmide das hierarquias académicas. O heavy metal é indiscutivelmente substância de cultura popular e merecia um estudo urgente. Infelizmente, pelas regras da reprodução social, não há muitos amantes do género com poder de o estudar nos níveis de investigação mais altos da academia.
Deixo uma sugestão de não especialista que se dirige apenas, obviamente, a não iniciados: o intemporal primeiro álbum dos Metallica carinhosamente intitulado Kill ‘Em All. Uma obra-prima da cultura popular.