quinta-feira, dezembro 29, 2005

O que seria se o Superman fosse africano...

"O regresso do Super-Homen, ao grande ecrã, está marcado para o mês de Junho de 2006. A Warner Bros já revelou que Brandon Routh vai ser o actor que irá substituir o falecido Christopher Reeve. As gravações já começaram, na Austrália, e o facto de o actor, de 26 anos, ter o órgão sexual grande de mais está a causar problemas aos produtores do filme. Segundo o site Entertainment Wise, como o fato do Super-Homem é muito justo ao corpo, os produtores estão a pensar em usar tecnologia digital para suavizar o pénis de Brandon".

Jornal Tribuna de Macau

sexta-feira, dezembro 23, 2005

barcos gregos

O país anda distraído com as presidenciais, cuja campanha tem um nível ligeiramente mais elevado do que os reality shows da TVI. Sócrates deve estar satisfeito. Entretanto as estatísticas, imperiais, vão dando mostras do percurso da nossa modernização. Portugal nunca deixou de ser um país de emigrantes. O facto de agora recebermos muita gente parece ter ocultado essa permanência. A emigração voltou, no entanto, a crescer. Não se trata de uma emigração qualificada, mas a mesma de sempre, a da pobreza, originária em grande parte da região norte do país.
Cantavam os Xutos, no auge da sua criatividade: "Já estou farto de procurar Um sítio para me encaixar Mas não pode ser Está tudo cheio, tão cheio, cheio, cheio Mas o que é que eu vou fazer Eu vou para longe, para muito longe Fazer-me ao mar, num dia negro Vou embarcar, num barco grego Falta-me o ar, falta-me emprego Para cá ficar Já estou farto de descobrir Tantas portas por abrir Mas não pode ser, é tudo feio, tão feio, feio Mas o que é que eu vou fazer"

domingo, dezembro 18, 2005

Clubite II

O escândalo continua. Mais uma vez, de forma desassombrada, sem o respeito devido a uma centenária instituição, o Benfica foi dramaticamente prejudicado pela arbitragem. O sistema não dorme, as suas forças trabalham nas trevas. Penalties contei dois. E a conta é feita por baixo, que é para não haver dúvidas. Mas o mais trágico foi mesmo o lance do golo do Benfica. Foi visível, para toda a gente, que o nosso jogador Luisão foi brutalmente agredido pelo guarda redes da equipa adversária. Reparem com justiça na imagem e observem o modo como a fronha ameaçadora e peluda do guarda-redes daquele clube brasileiro da Madeira embateu com violência desmesurada no braço terno e honesto de Luisão, provocando-lhe inúmeras contusões que lhe podem ficar para o resto da vida (consta que o homem nem dormiu bem esta noite e que se levantou às 3.25 da manhã para escrever o testamento não vá, como se espera, a situação piorar). Perante esta barbaridade, que fez o juiz? Nada. Deixou a jogada decorrer até ao fim e nada. Já não digo que irradiassem o homem do Nacional do futebol, mas pelo menos que o suspendessem por uns anos. Mas não; nem um amarelo levou. Com estes exemplos não se admirem que as crianças de hoje se tornem os terroristas de amanhã, que se expludam em estações de comboios e que ponham etnias inteiras em câmaras de gás. Uma vergonha.

Clubite I

Um dos grandes problemas da esquerda portuguesa é a clubite. A clubite, como fenómeno global, manifesta-se por várias razões. É útil para manter relações pessoais. Partilham-se conhecimentos e opiniões, alimentam-se inúmeras discussões, perde-se tempo, reforça-se espírito de grupo, ganha-se sentido de vida pelo reconhecimento do adversário (sem o qual a vida era bastante mais aborrecida). Quase que é possível dizer que a clubite à esquerda é uma espécie de estilo de vida, organizado tribalmente. Mas há outro lado, bastante mais trágico. A clubite política, como as clubites em geral, é quase sempre irmã do desconhecimento, da imparcialidade, da incapacidade de fazer propostas e de discernir quem são os verdadeiros adversários e quais os seus métodos. Sobretudo em relação à elaboração de propostas, algo que exige uma análise do real - e dá trabalho e actualização - a clubite é cega. A clubite não é outra coisa senão a imagem da incapacidade. Num contexto da pequena política, a opinão da clubite não é, por vezes, falha de razão, conseguindo fazer críticas acertadas e justas. Mas a esquerda não pode continuar a entreter-se com a pequena política. Não é apenas uma questão de justeza, é uma questão de opções. Mas é a esquerda que vamos tendo.

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Mais um debate

Era o debate presidencial entre os candidatos da área ideológica com que mais me identifico, e, à priori, mais uma boa oportunidade para os dois candidatos esgrimirem perícias. Todavia, o que ressalta evidente no final de mais uma jornada de debates, à imagem das jornadas anteriores deste campeonato presidencial, continua a ser a distorção sobre a suposta importância decisiva da eleição que se avizinha para o futuro do país e dos portugueses.
Quanto mais realce se dá à audição dos candidatos, mais se constata à ilharga a impotência que mesmo uma figura central de topo de um país está votada, tal como se configura a actual organização económica, social e simbólica do planeta. Tal impotência não é determinada pelo asséptico modelo de debate, mas pelas visíveis mãos atadas de todos os candidatos, uns mais presos a crenças doutrinárias vetustas do que outros, perante o destino e o presente que lhes foge e não conseguirão controlar.
Esse presente é o presente dos fluxos. Os fluxos de capital, fluxos da informação, fluxos da tecnologia, fluxos de imagens, sons e símbolos. Mais do que um elemento integrante da nossa organização social, esses fluxos são a expressão dos processos que dominam a nossa vida económica, social e política.
Num presente marcado pelos circuitos electrónicos (microelectrónica, telecomunicações, processamento computacional, sistemas de transmissão e transporte em alta velocidade), onde os lugares não desaparecem, mas a sua lógica e o seu significado são absorvidos em rede, rede essa que conecta lugares específicos com características sociais, culturais, físicas e funcionais bem-definidas, através de cidades globais, são as elites globais que dominam.
O problema é que a articulação de tais elites é global e são essas elites que por intermédio da rede constituída pelos sistemas de processos da economia global, especialmente os do sistema financeiro, que estabecelem e reorganizam as práticas sociais dominantes. Perante este espaço de fluxos, não há Presidente da República que consiga ter poder e autonomia para impor vontades e futuros para os cidadãos do seu país.
Quem não se ligar aos nós de ligação dessa rede e não conseguir que os seus interesses sejam representados dentro da estrutura desse espaço de fluxos bem pode debater incessantemente, que o seu futuro não será deveras risonho....

terça-feira, dezembro 06, 2005

Os poderes do presidente

Não sendo propriamente o incrível Hulk, nem o Homem-Aranha, nem tão pouco o Batman ou o Super-Homem, o presidente português tem os poderes que lhe são consagrados pela Constituição. A coisa é tão clara que a discussão nacional sobre o assunto, que nenhum jornalista se coíbe de introduzir em debates e entrevistas, é inútil. O presidente não pode legislar, não tem governo, ministérios nem secretarias de estado. Não gere orçamentos. Pode vetar leis, enviá-las para o Tribunal Constitucional. Em caso disso, e este disso é avaliação relativamente subjectiva, pode dissolver o Parlamento. Pode fazer comunicações ao país, reunir com o governo, partidos, sindicatos, igrejas, etc. Pode fazer "presidências abertas". Mais do que tudo, tem um poderoso poder de intervenção mediática, o que lhe garante uma influência eleitoral considerável, isto, claro, se aquilo que disser não for apenas percebido por 5% dos portugueses, como foi timbre das intervenções públicas do actual titular do cargo. Nesta campanha eleitoral, se algum dos candidatos dá a sua opinião sobre uma questão concreta: o desemprego, o défice, a segurança social, logo lhe perguntam se isso não é matéria de governo? É, no sentido da execução legislativa, não o é, porque um presidente tem que ter ideias sobre as matérias que preocupam o país, tendo inclusivé o dever de as expressar.

segunda-feira, dezembro 05, 2005

O Juíz decidiu, tá decidido

Depois da celeuma no ano transacto levantada o Ministério Público (MP) do Tribunal Judicial de Viseu arquivou o processo de inquérito à exposição do livro polémico - "As mulheres não gostam de foder" - na montra da livraria das Edições Polvo, em Viseu.
No despacho de arquivamento, o procurador do MP, além de alegar a inexistência de matéria para sustentar uma eventual irregularidade, lamenta a controvérsia que surgiu em torno do ensaio sexual em banda desenhada, do espanhol Alvarez Rabo, admitindo que, se porventura o autor da obra tivesse o peso e a importância literária de um Lobo Antunes (que escreveu "Os cus de Judas") ou Miguel Esteves Cardoso (que editou "O amor é fodido"), a contestação não teria tido lugar.
Depois disto fica a sugestão aos livreiros das Edições Polvo: Colocar na montra da livraria as três obras em exibição lado a lado.

domingo, dezembro 04, 2005

Outra vez

No prosseguimento de justas análises sobre o momento futebolístico português que têm brindado aqui o nosso espaço de conversa, venho protestar pelos acontecimentos desta jornada. Mais uma vez, as forças negras e ímpias que há muito dominam o futebol português congeminaram ardilosamente para prejudicar o glorioso SLB. Quem beneficiou com tal empresa? Os mais directos e históricos adversários do clube da águia. Senão vejamos: ao Sporting foi-lhe perdoado pelo menos um penalty, além de ter sofrido um golo limpo que foi mal anulado. No jogo do F.C. Porto, a mesma coisa: perdoaram-lhe um clara grande penalidade e o valoroso adversário dos dragões marcou um belo tento prontamente anulado pelas forças ocultas. Isto é, em vez de ganharmos três pontos aos directos adversários só conquistamos 2, depois da vitória contra aquele clube brasileiro do Funchal. Um escândalo.

terça-feira, novembro 29, 2005

Chef

O indivíduo entrava nas habitações, durante a noite e, quase como ponto de honra, "matava a fome". Não raras ocasiões, de acordo com as autoridades, terá mesmo ido a ponto de confeccionar as refeições, usando os ingredientes e a cozinha alheios. Depois de alimentado, "aproveitava" para assaltar essas mesmas residências, levando tudo quanto pudesse e lhe parecesse valioso.

Com a carência de "chefs" no país capazes de aguçar o paladar dos portugueses a preços em conta, aprisionar versáteis cozinheiros não creio que seja a solução. O homem ainda por cima "limpava" tachos, panelas e muitos outros objectos de cozinha que o comum dos mortais não tem paciência para limpar e desengordurar no final das refeições...Gente mal agradecida é o que é.

quinta-feira, novembro 17, 2005

Guns of Brixton

Os defensores da excelência do modelo de integração britânico sofrem de amnésia histórica e quando falam da excelência de Londres é porque nunca foram muito para sul do Tamisa. Independentemente da origem cultural, como agora se diz, basta um desemprego alto e a usual discriminação racial para inflamar a situação. Em 1981, quando o sul de Londres explodiu, a multidão foi apelidada de "black crowd". Não houve grande conversa sobre a origem religiosa ou mesmo cultural dos que protestaram, filhos e netos de jamaicanos, nigerianos e de outras proveniências. O relatório oficial falava de "serious social and economic problems affecting Britain's inner cities" e ainda de "racial disadvantage that is a fact of British life". Nem sombra do grande satã muçulmano. Os The Clash escreveram sobre Brixton. Seguem as primeiras estrofes.

Guns of Brixton

When they kick at your front door
How you gonna come?
With your hands on your head
Or on the trigger of your gun

When the law break in
How you gonna go?
Shot down on the pavement
Or waiting on death row

You can crush us
You can bruise us
But you'll have to answer to
Oh, the guns of Brixton

terça-feira, novembro 15, 2005

Ainda as culturas

Por alturas em que o "Público" tomou a iniciativa de fechar grande parte dos seus conteúdos on-line a todos aqueles que não aderissem à assinatura mensal paga, levantou-se uma onda de cizânia aqui no ciberespaço. Inclusivé, à data, tive oportunidade de deixar aqui umas palavras de forte desconfiança quanto ao sucesso da operação.
Devido às características da génese da criação da Internet e do caldo de culturas que desde o início lhe deram forma e nela estão enraízadas, pareceu-me que seria uma iniciativa condenado ao fracasso.
A Internet foi moldada desde cedo, entre outras, pela cultura hacker, que, ao contrário da imagem tradicionalmente veiculada pelos media, valoriza os quadros informais de transmissão gratuita da informação, a livre partilha da descoberta e a cooperação em rede.
Obviamente, este modus de acção está nos antípodas da iniciativa do "Público", que apostou no custeamento do acesso à informação. Até hoje, que eu tenha conhecimento, o jornal nunca deu a conhecer o state of art da sua iniciativa. Contudo, a julgar pelos indicadores apurados recentemente por uma empresas de sondagens sobre a Web, o panorama não deve ser muito risonho quanto ao número de adesões à assinatura paga da edição on-line...
A confirmar-se esta tendência (tudo o leva a crer) na assinatura do "Público on-line", não deixa de ser uma pena que o seu director, actualmente tão envolto na destrinça das questões culturais, tenha descurado uma análise mais aprofundada da(s) cultura(s) da Internet...

segunda-feira, novembro 14, 2005

O último e mais esperado candidato

A coisa está ainda no começo mas uma onda imparável poderá varrer as próximas eleições. Vieira is back.
www.vieira2006.com

quinta-feira, novembro 10, 2005

A "invenção" dos muçulmanos

Existindo há uns bons séculos os muçulmanos foram dramaticamente reinventados nas últimas duas décadas. Antigamente os muçulmanos eram designados de forma diferente. Havia os regimes amigos a quem se podia vender armas porque tinham uma posição estratégica, como o Iraque de Saddam, ou os regimes perigosos, focos de potenciais comunismos, como O Egipto de Nasser ou a Síria ou mesmo na altura o Afeganistão. É certo que a revolução islâmica no Irão lembrou que havia muçulmanos, mas quem se lembrava da religião quando o mundo era disputado, território a território, entre dois tabuleiros políticos. Mesmo o conflito entre Israel e a Palestina era, antes de tudo, político, ou se quisermos, geo-estratégico. Hoje as divisões políticas parecem pouco importantes, trata-se, como advogam os grandes defensores do factor de explicação cultural/religioso, de uma batalha entre civilizações. É certo que esta visão implica uma amnésia em relação certas amizades, a mais evidente das quais a da Arábia Saudita. O quadro cultural/religioso redefiniu a representação do mapa mundo, com algumas limitações, substituindo o proeminente quadro político/económico. Mas não o fez apenas a um nível macro-estrutural. No que respeita a indivíduos com determinada origem nacional, como se passa neste momento em França, eles deixaram de ser operários, agricultores, desempregados, consumidores de bens e serviços ou mesmo cidadãos, para passarem a ser muçulmanos. Do outro lado da barreira estão os ocidentais, também eles violentamente uniformizados.
Antes da queda do muro de Berlim ser muçulmano era uma coisa diferente. O império soviético veio dar lugar, nas imaginações do "ocidente", ao império muçulmano. O hiper-racionalizado Homem soviético, frito e falho de emoções, veio dar lugar ao irracionalismo religioso do barbudo bombista suicida. E é assim que nos vão contando histórias.

Cromos da Bola

Não tenho por hábito deixar aqui referências de outros blogs. Mas como a regra comporta por vezes a excepção, ainda para mais somos portugueses, e esse arrojo transgressor faz parte do nosso ethos, vou aproveitar para habilitar todos aqueles que assim o queiram com a possibilidade de arrematar o prémio de uma nostálgica e bem disposta viagem às memórias do nosso desporto-rei.
Cromos da Bola, assim se chama o blog no qual dei por mim a reviver lembranças de antigas "glórias do futebol português", sob o patrocínio de espirituosos textos de dissertação a acompanhar. Desde Eskilsson a Zé d'Angola, de Bandeirinha a Folha, de Vata a Vlk, passando por já vetustos players do saudoso Académico de Viseu, como o inquebrável defesa jugoslavo Mirko Soc ou o prolífico avançado brasileiro Marcelo Sofia, sósia de Lionel Richie para os autores do texto, diversas são as referências que nos fazem sorrir acerca de personagens "clássicas" que fizeram história, nem que tenha sido apenas com letra pequena e deixaram recordações a somente alguns, no futebol português.
Eis os cromos da bola

terça-feira, novembro 08, 2005

O Estúpido

O director do jornal Público escreveu hoje, a propósito dos acontecimentos em França, um editorial intitulado, Não é o social, estúpido: é a cultura. Enfiei o barrete. Sou precisamente desses estúpidos que, considerando a importância de algumas variáveis culturais, atribuo ao que Fernandes chama de "social" a origem do sucedido. Gostava de argumentar que o estúpido é ele. Confesso, porém, que não o acho estúpido, mas simplesmente perigoso. Atribuir a manifestações violentas uma origem cultural é absurdo. Claro que Fernandes, como outros, não diz isto directamente, eufemiza a questão, fala das dificuldades de integração, mascara um discurso que, sem máscara, quer fazer regressar a ideia de combate civilizacional. Eles são muçulmanos, emigrantes de segunda geração, mas nunca "franceses" socializados na sociedade francesa. O seu problema é que não se conseguem adaptar à "nossa cultura". As culturas tornam-se assim dois blocos unificados, sem fracturas, apenas intermutáveis quando eles, os outros, abdicam do que é seu e se integram. A coisa lembra um pouco as políticas coloniais de assimilação. Esta abdicação implica, se não formos hipócritas como Fernandes, aceitar a vida sem futuro das classes baixas ocidentais, acrescentando-se a isso o estigma proveniente da discriminação de origem cultural. Mas a questão da cultura não resiste a análise mais atenta. Desde logo, pelas informações mais cuidadas, se percebe que não se tratam em grande parte de jovens muçulmanos, que nem todos são de origem emigrante e que o que realmente partilham é o subúrbio francês, esse espaço de desemprego, esse espaço que o Estado abandonou aos poucos. O discurso da "cultura" mascara o discurso da "classe". Não que a classe resolva tudo. Há variáveis culturais e mesmo geracionais que interessa observar, mas a origem de classe é factor determinante. O que sucede, tal como acontece nos Estados Unidos, é que em certas áreas urbanas a classe etnicizou-se.
O discurso de Fernandes é perigoso socialmente porque a "cultura" não é mais do que uma forma sofisticada de regressarmos ao racismo mais primário e à ideia de que os Homens não depende das condições em que são criados mas de uma qualquer essência cultural que, note-se, nunca é explicada senão através de um conjunto de estereótipos ignorantes sobre o "outro".
Mas a grande discussão por detrás da "cultura" é claramente económica. Atribuindo à cultura a responsabilidade de muitos problemas quotidianos, anula-se qualquer ideia de repensar os serviços sociais do Estado. Ao Estado, deste modo, cabe defender a "boa cultura", o que implica quase sempre a lei e a ordem. Não tendo os problemas uma origem social não há razão para parar a progressiva erosão da participação do Estado social na vida dos cidadãos.

segunda-feira, novembro 07, 2005

Paris

Os senhores que controlam a economia do mundo e seus modelos dominantes deviam olhar para a história e começar rapidamente a acabar com a conversa sobre o colapso do Estado Social e de suas instituições. Se não o fizerem, pode ser que a coisa comece aos poucos a correr realmente mal. Nisto, os franceses costumam ter algum pioneirismo. É esperar.

Karagounis

Jornalistas e comentadores de futebol esquecem-se por vezes do poder que têm como intermediários da informação sobre o jogo para um público vasto. Partindo muitas vezes da sua ignorância crassa sobre os fundamentos do jogo, proferem sentenças sobre jogador A ou jogador B, arriscam interpretações sobre o modo como jogam as equipas e sobre as opções dos treinadores e as exibições dos árbitros. Muitos vezes terão razão, mas há outras em que não têm. Discordo quase totalmente do que se tem dito sobre o jogador do Benfica Karagounis. Embora esteja fora de forma física e por vezes faça uma finta a mais, Karagounis é dos poucos jogadores que levanta a cabeça para analisar o espaço, que hesita antes de passar porque quer fazer a melhor opção, que ataca os jogadores contrários de frente e que faz quebras de movimento que abrem espaços e confundem os adversários. Neste aspecto é um jogador raro. Há o perigo, já evidenciado no estádio da Luz, do jogador ser queimado pelo público, como muitos já foram, e como outros, como Geovanni ou João Pereira, estão a ser. Se os jornalistas e comentadores continuam a incendiar os espectadores não faltará tempo para que a vida de Karagounis se torne um inferno. Infelizmente, por ignorância.

quinta-feira, novembro 03, 2005

Riquelme

Na ressaca da derrota, entre o desgosto do resultado e a má exibição do Benfica, que nunca conseguiu encaixar no esquema dinâmico do adversário, resta a alegria de ver jogar Riquelme, o argentino do Villareal . Atleta estranho, atípico nos tempo que correm, sem a competitividade de um campeão, algo lento, Riquelme olha o jogo de cima, diverte-se a fazer passes difíceis, gosta de adornar as jogadas, de executar mais uma finta, de provocar os adversários com a sua imbatível destreza técnica, de tocar na bola e de dançar como ela como poucos conseguem. Um número dez numa altura em que vão rareando. Não é, obviamente, o mestre Diego, mas tivemos um cheirinho.

quinta-feira, outubro 27, 2005

A Manta

A teoria da manta, pese embora toda a sua simplicidade, adapta-se bem para a explicação de certos fenómenos. Um bom exemplo destes últimos são os lucros bancários.
Em Portugal, graças à liberalização e desregulamentação do sistema financeiro português, e o aumento da concorrência no mercado de crédito, ocorreu uma substancial especialização da actividade bancária na concessão de crédito ao segmento dos particulares.
O aumento do rendimento disponível das famílas e a mudança dos padrões de consumo esteve na génese do crescente endividamento das famílias portuguesas. Sobretudo através do crédito à habitação e do crédito ao consumo de bens e serviços, as principais instituições bancárias já nos habituaram a notícias destas (a julgar pelas supeitas veiculadas dos últimos tempos, a fraude e o branqueamento de capitais também dão uma ajudinha para compor o retrato...).
É aqui que a teoria da manta nos surge útil, pois a mesma teoria preconiza que se se tapa com a manta um lado, destapa-se o outro.
A realidade tem comprovado a teoria da manta, com o nível de endividamento das famílias a superar já, em média (118%), o seu rendimento disponível.
Chega-se à conclusão que no confronto das racionalidades, a racionalidade bancária está a ganhar cada vez mais centímetros de manta, e afirma-se com força crescente, mesmo perante as dúvidas crescentes sobre se os agregados familiares não correm o risco de estarem já excessivamente vulneráveis às alterações das variáveis que determinam a sua capacidade financeira (subida das taxas de juro, desemprego e precarização do emprego, dissolução da estrutura económica de suporte do endividado por divórcio, doença ou morte de um familiar, etc.).
Um dos mais recentes exemplos que tive oportunidade de verificar desta tal racionalidade trata-se do envio, por carta, para o cliente bancário de um cheque já preenchido com um valor determinado para o cliente assim fazer uso dele como bem entender, mediante o pagamento de uma prestação mensal durante 60 ou 84 meses.
Tratando-se de um estratagema deveras acutilante e facilitador do endividamento, quer-me parecer que se a entidade responsável pela regulação da actividade bancária do país, Banco de Portugal, não obviar legalmente estas agressivas formas de assédio ao endividamento, bem pode apregoar a muitos, como São Tomé, para a realização de poupanças, que a julgar pelas evidências estatísticas, a manta vai continuar a cobrir cada vez mais o mesmo lado…

segunda-feira, outubro 10, 2005

1ª página


Ora aí está uma 1ª página, que é como quem diz "hoje, não tínhamos mesmo mais nada para dizer"...

sábado, outubro 01, 2005

Teorias da conspiração

1) Alegre é o candidato invisível do PS às presidenciais. Resguarda o partido da aproximação das forças à sua esquerda e cria, para a segunda volta, uma onda soarista.

2) Fátima Felgueiras é a candidata invisível do PS à Câmara de Felgueiras, aquele concelho que, fruto da boa gestão autárquica, tem 44% da população com saneamento básico. Afinal a senhora sempre saca umas massas para o partido. Deve haver pelo país uma relação inversamente proporcional entre o saneamento básico e o número de Ferraris por habitante.

3) Os Super-Dragões estão bem activos na campanha pela Câmara do Porto.

4) Jorge Coelho é o político mais poderoso do país. O homem e a sua máquina.

5) Os jogadores do Sporting andam a boicotar o Peseiro. Os adeptos da valorosa agremiação leonina preparam-se mais uma vez para destruir o clube. Despeçam o homem que fico contente. Felizmente o país anda tão mau que já não há nada que nos envergonhe no estrangeiro. E a Suécia sempre é um país decente, com uma boa segurança social, florestas viçosas, os Abba, etc

6) Cavaco afinal não se vai candidatar.

7) Santana avança

8) Santana ganha

Chega de férias

Só um blog sem patrão para ter quase dois meses de férias. Nada mau nos tempos que correm

quarta-feira, agosto 17, 2005

Respondo pelo que Faço

É comum no períodos das campanhas eleitorais levantarem-se as vozes de discordância com os gastos propagandísticos que os partidos políticos esbanjam para a eleição dos seus candidatos. Sendo aparentemente legítima esta inferência, também é verdade que, por vezes, sob o fundo mais visível de gastos aparentemente supérfluos, uma campanha eleitoral pode constituir-se como uma decisiva alavanca de crescimento económico.
A quem tal asserção lhe parece despropositada e mesmo ridícula, aconselha-se uma visita por estes dias à capital da Beira Alta, Viseu.
Na senda de acompanhar o forte ritmo de jogo imprimido pelo candidato socialista à câmara local, em termos propagandísticos, o actual presidente da edilidade, Fernando Ruas, e candidato a mais um mandato, decidiu responder ao pontapé de saída socialista e avançou com a colocação de cartazes em todo o concelho, sob o slogan “Respondo pelo que Faço!”.
Naturalmente, o dever da disseminação deste slogan por uma miríade de rotundas construídas ao longo dos mandatos pelo candidato fez subir imediatamente as resmas de papel produzido pela Portucel, e os consequentes lucros desta empresa, traduzíveis no aumento imediato da sua cotação em Bolsa.
Deu ainda um impulso fundamental à industria metalomecânica local para o fabrico de barras metálicas de suporte aos mesmos cartazes e conseguiu, simultaneamente, reduzir os números do desemprego, ao presidir à contratação de 12 trabalhadores locais, os quais divididos por dois turnos de 8h tentam assegurar com a maior brevidade possível a cobertura de todas as rotundas com pelo menos um cartaz afixado em redor. Prevê-se que até final do mês de Agosto os seus esforços sejam coroados de êxito.

segunda-feira, agosto 15, 2005

Escoteiros

Está tudo doido. Uma greve de uma empresa de refeições no aeroporto de Heathrow. Alguns voos foram atrasados. Uma comitiva de escoteiros portugueses. Devido à situação, os escoteiros tiveram que dormir no aeroporto e regressar no outro dia de camioneta. A RTP fez várias reportagens sobre o sucedido e foi ainda esperar a camioneta à fronteira. Lá estava também a mãe de um escoteiro. A jornalista perguntou-lhe pelas horas de angústia e sofrimento e a senhora com um ar pesaroso confirmou. O chefe dos escoteiros também disse que havia uma pessoa que precisou de ser medicada. Lá se viu o plano de um mocetão com um ar saudável a tomar comprimidos. Há pachorra para isto? Sofrimento é dormir na rua e levar com um tijolo na cabeça. Angústia é continuar à espera do ponta-de-lança. Os escoteiros deviam estar mas é a fazer sandes de queijo para as pessoas no aeroporto; aposto que nas imediações estavam várias velhas a querer passar uma estrada provavelmente perigosa. Os escoteiros são um pouco como as tunas, não se percebem para que é que servem.

segunda-feira, agosto 08, 2005

Marco e os outros

É verdade que Marco Chagas é um excelente comentador. A apreciação às suas qualidades é mais do que justa. Há uma volta à França com Marco Chagas e outra volta à França sem o Marco Chagas. Refira-se ainda que a RTP sempre teve um excelente naipe de comentadores desportivos, com a óbvia excepção do futebol. No vólei o Fiúza Fraga, no basket o João Coutinho, o da selecção da Jugosnávia, e o mais discutível Carlos Barroca, com o seu estilo NBA, no andebol o João Barata e outro indivíduo de que não me lembro o nome, no rugby o incomparável Cordeiro do Vale sempre em directo de Murrayfield ou de Twickenham, no atletismo o Jorge Lopes e o excelente Luís Lopes (podemos ouvi-los na RTP e Eurosport, respectivamente, na cobertura dos mundiais de atletismo que se realizam em Helsínquia) no hipismo o coronel Jorge Mathias e, apesar de não me lembrar outra vez dos nomes, recordo-me dos bons comentários do ténis (Moura Diniz, será?) e da ginástica desportiva. Estes comentadores têm quase todos uma característica: sabem do que estão a falar. Porventura uns serão mais especializados do que os outros, mas todos conseguem estabelecer a preciosa ligação entre um conhecimento especializado e o espectador leigo. Curiosa e tristemente nunca tal coisa sucedeu com o futebol. O desporto-rei continua entregue a curiosos, jornalistas pouco competentes para a função, personalidades mediáticas e outros membros de uma fauna que raramente conseguem ligar duas frases seguidas. Alguns executam o trabalho positivamente, mas sempre sem o brilho dos comentadores das modalidades que a RTP nos habituou a ouvir.

quarta-feira, agosto 03, 2005

A página arrancada do antigamente

Continua no jornal Público a novela relativamente ridícula das páginas arrancadas e dos livros queimados. Qualquer dia, seguindo este politicamente correcto cozinhado numa calma dos trinta anos depois, ainda alguém sugere excitado que se deveria ter preservado, para pesquisa histórica, o próprio regime.

A espera

E o ponta-de-lança senhores, o ponta-de-lança? Quantas manhãs mais os seis milhões vão ter que acordar numa expectativa eternamente defraudada?

sexta-feira, julho 29, 2005

Partidos e Media

Com a aproximação das eleições autárquicas, tem sido possível constatar o aumento de frenesim na actividade dos vários candidatos e partidos, primeiro na disputa do melhor “boneco” para os cartazes, depois na divulgação das mensagens nos espaços de antena que as televisões concedem e em breve nos decisivos debates televisivos entre candidatos, nomeadamente das duas principais cidades.
Para os eleitores indecisos de Lisboa e Porto, será essencialmente na ágora televisiva que se irão dissipar as dúvidas quanto ao sentido de voto no candidato a escolher. Representante maior dos media, a televisão, simultaneamente, é o principal instrumento difusor de informações das nossas sociedades e o campo de batalha principal pelo poder.
Quem está fora dos media, apenas reside num limbo político. Sem os media, e principalmente a televisão, não é possível adquirir ou exercer poder, daí estes se terem vindo a tornar nas últimas décadas o espaço privilegiado da luta política.
Graças ao efeito convergente da crise dos sistemas políticos tradicionais e do acréscimo do grau de penetrabilidade dos media, a informação e a comunicação políticas têm sido crescentemente dirigidas aos destinatários através dos media, daqui sucedendo que sendo o acontecimento político um processo aberto, a sua organização esteja enquadrada pela lógica pelos media.
Em virtude dos media privilegiarem a comunicação simplificada, o efeito desta convergência traduz-se inevitavelmente na personalização das opções políticas e partidárias, dificultando acesso dos partidos aos media. Os partidos deixam de ser a principal fonte de influência de opinião dos cidadãos, em prol de fontes externas ao sistema político, como os media, e, consequentemente, o fosso entre partidos e cidadãos aumenta.
Com o aprofundamento desta distância, é tanto o exercício de cidadania quanto a vivência democrática que ficam seriamente abaladas.

quarta-feira, julho 20, 2005

A Justiça bicéfala

Numa excelente peça jornalística, Sofia Pinto Coelho, na SIC, procurou perceber se existia, ou não, uma justiça bicéfala, que trata ricos e pobres de forma diferente. Falou com um cidadão que foi condenado a seis anos de prisão por um desfalque de 600 mil euros (ou coisa parecida). Comparou, depois, o caso deste homem com os mediáticos processos da Universidade Moderna e de Vale e Azevedo. Concluiu que embora os montantes dos desfalques nestes últimos casos tenham sido muito maiores do que na situação precedente, as penas foram mais leves. Mesmo crime, penas diferentes. A diferença, claro, passa por um bom aconselhamento jurídico, pago a peso de ouro. O homem que desviou os 600 mil euros afirmou à jornalista que, se soubesse, tinha roubado muito mais, poderia assim pagar a um bom advogado e ainda ficar com uma simpática reforma ao fim de três ou quatro anos.

Dois artigos e uma leitura

1- André Freire, no Público (15/7), analisou as desigualdades na distribuição dos sacrifícios que estão a ser feitos para domesticar o défice público. O primeiro grande instrumento de combate ao défice foi o aumento do IVA: toca a todos. Aumentou também o imposto sobre o tabaco e sobre os combustíveis. Depois houve um esforço para reduzir alguns benefícios sociais, nomeadamente na função pública. Seguiu-se o aumento da idade de reforma. Freire nota, porém, que alguns grupos de interesse dentro do funcionalismo público, essencialmente alguns altos quadros de empresas públicas e algumas corporações mais fortes, saíram quase intocados por este esforço colectivo. Mais escandaloso é o modo como o governo remete ao factor trabalho a tarefa solitária do equilíbrio do défice. O PS chumbou, refere Freire, no dia 2/6/2005, uma proposta de lei que limitava o sígilo bancário, arma fundamental da administração fiscal. Os benefícios fiscais para as grandes empresas continuam a pulular impunemente, o que implica cortes drásticos nas receitas do IRC. Portugal tem, no quadro europeu, a maior diferença entre as taxas nominais e as reais no que respeita à cobrança do IRC. Isto é, o factor capital foi grandemente poupado nos esforços para equilibrar o défice. Isto leva-me a outro artigo.

2 - António Barreto, também no Público (17/7/2005), escreveu, em resposta a considerações feitas por Vasco Pulido Valente, um artigo sobre as elites nacionais. Para Barreto as elites são grupos dirigentes do país que podem assumir várias formas: "Há elites cultas e incultas; autónomas e dependentes do Estado; democráticas ou autocráticas; esclarecidas ou predadoras; activas ou parasitárias; e de esquerda ou de direita." Acrescenta que as elites não se confundem com as classes altas mas normalmente provêm delas. Continua Barreto: "Com a excepção de grande parte dos intelectuais e artistas, assim como de uma porção de políticos, as elites portuguesas são geralmente de direita. E muito dependentes. Precisam do Estado, não da população. Fizeram fortuna, têm negócios, compram e vendem, aprendem e exprimem-se graças ao Estado, não à população ou a si próprios." Barreto não poupa também o que chama de elites de esquerda, embora, pela sua posição social, lhes atribua menos responsabilidades.

Claro que podemos contestar a linha de divisão entre esquerda e direita proposta por Barreto. Concordemos, porém, que é o capital económico que genericamente domina a elite de um país com uma economia liberalizada.
É este capital económico, vastamente ignorante, 500 vezes mais parisitário e nocivo do que qualquer funcionalismo público pretensamente preguiçoso, capital incompetente (no sentido das próprias leis de mercado e da concorrência), que escapa praticamente incólume ao sacrifício do défice. Temos uma classe política autónoma, minimamente independente do poder económico? Não. Como se costuma utilizar na gíria do futebol, estamos sempre a beneficiar o infractor.

segunda-feira, julho 11, 2005

olhó comboio

No segundo canal, no programa Clube de Jornalistas, Luís Osório acabou de afirmar que é um tormento horrososo andar de comboio na linha de Sintra. Vou mudar para a Fátima Campos Ferreira.

A alma lusitana descodificada

No fim da primeira parte do décimo-nono "Prós e Contras" dedicado ao estado da nação, Fátima Campos Ferreira anunciou que na segunda parte, daqui a poucos minutos, vamos chegar à essência do ser português. Estou com alguma esperança de que não haja segunda parte, mas infelizmente tudo indica que o disparate vai continuar.

sexta-feira, julho 08, 2005

Golfe

Há por vezes situações em que os sintomas manifestados são de molde a fazer qualquer comum mortal baixar os braços. Este aqui , então, é demasiado pungente!
Quando se lê que o Golfe é a modalidade desportiva que denuncia a maior percentagem de casos postivos de doping (1,67% de casos positivos), conquanto possua um baixo índice de controlos efectuados, superando as violações dos regulamentos anti-doping do Atletismo, Ciclismo e Halteriofilismo, o espanto assola-nos de imediato o espírito sobre os caminhos da verdade desportiva na contemporaneidade!
Por que carga de água se dopam os golfistas? Para darem as tacadas com mais força? Para andarem pelos greens mais depressa? Para saltarem mais alto as vedações dos campos para irem buscar a bola quando esta excede os limites do campo?
Como alguém costuma dizer, enfim, só coisas que me atormentam!

quarta-feira, julho 06, 2005

O arrastão do cimento

O jornalista Alexandre Vale publicou, na última edição do Notícias da Amadora, uma excelente análise sobre as movimentações imobiliárias no concelho amadorense durante a regência do socialista Joaquim Raposo. Com 175.872 habitantes, contas de 2001, a Amadora tem a maior densidade populacional do conjunto dos oito concelhos da Grande Lisboa, com 7.586,6 indivíduos por km2. (Segue-se Lisboa, com 6.496,5 habitantes por km2). Apesar desta situação, a Câmara da Amadora já aprovou projectos que, nos próximos anos, vão trazer para o concelho mais 60 000 pessoas. Nalgumas regiões começam a existir problemas de poluição. Em quase todas as freguesias já não há espaço para um jardim, apesar das juntas socialistas chamarem de "espaço verde" qualquer rectângulo de erva com 3m2. A imaginação poderosa do nosso construtor civil, com o aval camarário, transforma qualquer espaço exíguo em terreno urbanizável: em cima de estradas, cortando jardins, fazendo subir prédios encavalitados sobre prédios, etc. A última da Câmara da Amadora é anuir a construção de mais alguns fogos no espaço que hoje é ocupado pelo Estádio do Estrela. Alexandre Vale destrinça todos os negócios e avança com o nome dos construtores civis. Estima ainda que o lucro destes negócios possa atingir os 100 milhões de contos. Claro que a discussão nas próximas eleições vai-se centrar nos roubos por esticão, no furto do telemóvel, na ameça proveniente dos bairros problemáticos. O habitual.

segunda-feira, julho 04, 2005

A internacionalização do político português

Depois do taxista, do pedreiro, das auxiliares de limpeza (como agora se diz), do assalariado agrícola e do futebolista, o país começou a exportar políticos. A coisa corre mal por duas razões. Primeiro, nós precisamos é de importar políticos: se sobrar alguém na Suécia, ou na Dinamarca, mandem cá para baixo para o rectângulo. Imaginem um sueco à frente de Marco de Canavezes ou de Felgueiras. Segundo, a performance do político português tem sido decepcionante. Do caso Barroso todos sabemos. Mais recentemente há o Guterres nos refugiados. Alguém consegue explicar quais são as credenciais de Guterres para estar à frente de uma Comissão que trata dos problemas dos refugiados. Só Deus e os seus representantes na terra podem explicar tão estranha nomeação. Os jornalistas internacionais estão espantados com a fluência verbal do novo alto comissário. Os refugiados devem andar preocupados.

Monteiro superstar

Tiago Monteiro lá terminou brilhantemente o Grande Prémio de França no 13.º lugar. Note-se que, se tivesse sucedido nesta corrida algo parecido com o que se passou na corrida anterior, isto é, se 14 carros tivessem desistido, Tiago teria ficado em -1, o que seria inédito e verdadeiramente extraordinário. Mais uma prova que somos um povo de eleitos.

Índice de asneira

"Se houvesse um índice que medisse a quantidade de asneiras que saem nos jornais, não havia quem batesse os jornais desportivos."

Há que considerar o Expresso.

domingo, julho 03, 2005

Os liberais

O Congresso dos EUA demonstrou o seu desagrado pela tentativa de compra, por parte de uma empresa estatal chinesa, da empresa petrolífera americana Unical. Consideraram os congressitas que a proposta do oriente constituía um perigo para a soberania dos EUA. Um olhar mais cuidado sobre a economia americana é suficiente para perceber que este caso não é único. Um sem número de medidas proteccionistas favorece as empresas americanas e o agente destas políticas é o Estado americano. Apesar da propaganda liberal, os EUA crescem à custa da intervenção estatal. É seguro apregoar o liberalismo quando as vantagens nas trocas estão protegidas. É por isso que o governo brasileiro pede a liberalização das trocas de produtos agrícolas. A intervenção do Estado americano está longe de ser apenas económica. Repare-se nos processos políticos recentes em algumas repúblicas da antiga URSS, repare-se, mais nitidamente, nos processos militares no Médio Oriente. É o Estado que abre o caminho aos desejos insaciáveis da economia. Liberal, mas não tanto.

quinta-feira, junho 30, 2005

O Adeus de mais um Resistente

«A liberdade nasce com a aurora da Humanidade, é uma necessidade intrínseca do progresso e caminha a par da dignidade humana. Sem dignidade não há liberdade e por isso as ditaduras não se sustentam a não ser pela força».
Emídio Guerreiro

A aquisição

Sem a arte do sorvete caseiro criado pela mão do artífice, o novo corneto manga/cenoura da Olá é uma aposta segura da indústria dos gelados para este ano. Esperemos que se aguente para a próxima temporada, não prosseguindo na senda do triste calvário do Fizz Limão.

quarta-feira, junho 22, 2005

Football Club United of Manchester

A recente criação de um novo clube por parte de um grupo de adeptos dissidentes do Manchester United, em sinal de desagrado provocado pela compra da maioria do capital do famoso clube das Midlands pelo magnata norte-americano Malcolm Glazer, surge, indiscutivelmente, como um grito de alerta e revolta para o perigo de desvirtuação da identidade clubística e de valores do jogo que ameaça corroer algumas agremiações futebolísticas espalhadas por essa Europa fora.
Tornado o clube mais rico do planeta na década de 90, e historicamente expoente máximo da globalização da indústria futebolística, o United tornou-se recentemente alvo de atracção por parte daquele multimilionário norte-americano, o que não sendo uma novidade nos dias de hoje, distancia-se ainda assim de casos semelhantes, como o Chelsea, por ter sido accionado por parte de um indivíduo garantidamente sem qualquer vínculo emocional ao jogo ou ao clube. Creio ter sido a partir daqui que boa parte da revolta se instalou entre os adeptos dissidentes.
Ao invés do que sucedeu com o Chelsea de Abrahamovic, por exemplo, um clube de bairro, habitualmente arredado de feitos de relevo alcançados nos relvados, que não desperta grande fervor na velha Albion, o United é um clube com expressão por toda a ilha, recheado de proezas futebolísticas ao longo do seu tempo de vida e detentor de um rico historial de atletas célebres, alguns deles a quem a vida foi tragicamente ceifada nos céus de Munique.
A sua eclosão primordial deve-se à vontade de um grupo de trabalhadores dos caminhos de ferro, operários ferroviários, que no século 19 viam no jogo uma forma não violenta de enfrentar de igual para igual a agremiação das elites locais, o City. A marca genética do clube em termos do perfil social dos seus adeptos de base manteve-se com o correr dos anos, não obstante as necessárias nuances introduzidas pela crescente popularidade nacional e internacional do mesmo.
Sabiam os adeptos que o clube era comandado por dirigentes que, apesar da pretensão de progressiva mercantilização da marca e obtenção de lucros, o United continuava a ter à sua frente indivíduos, se não todos, pelo menos alguns, que além de deterem uma visão estratégica do clube como instrumento de receitas globais, possuíam simultaneamente uma adesão emocional incondicional ao clube.
A circunstância de Glazer ser originário de um país que não possui uma tradição histórica no jogo, de nunca ter partilhado a memória colectiva de vitórias, derrotas e tragédias que formatou muitos dos fãs do United, e de provavelmente subestimar esse passado em prol exclusivamente da rentabilidade financeira do seu investimento, terá sido uma gota de água muito grande para a imagem dos ideais de agremiação clubística que seriam intocáveis aos 2600 antigos adeptos do United.
A ver vamos se em breve serão seguidos por outros adeptos, numa tentativa de recuperação da pureza perdida do jogo.

terça-feira, junho 14, 2005

Sobre Álvaro Cunhal

Nos discursos produzidos acerca de Álvaro Cunhal nestas horas após a sua morte nos e pelos media, principalmente por figuras políticas mais ou menos relevantes e pelos agentes dos media, continuam a ser visíveis as marcas da discórdia que a figura de Cunhal foi despertando ao longo dos anos.
Personalidade controversa, não imune a muitas críticas sobre determinados posicionamentos políticos, que, do meu ponto de vista são justas e precisas, entendo que não deve ser na sua morte que se deve vedar a capacidade crítica dos outros se pronunciarem sobre a sua pessoa.
Mas a condição individual de se poder exercer o direito à palavra, em frente a um microfone, num ecrã televisivo ou nas páginas de um jornal, para se apontar o dedo a alguém, atribuindo-lhe acções nefastas e perversas para um determinado processo, deveria pressupor duas obrigações éticas:
- a primeira, pressupõe que cada indivíduo, antes de verberar outro indivíduo, fizesse um juízo pessoal de auto-consciência acerca do seu papel pessoal na situação que critica;
- a segunda, que se tivesse presente na memória toda a cronologia desse alguém, de molde a erradicar selectivivades temporais e comportamentais.
São estes dois preceitos que algumas pessoas não têm tido presente quando se abalançam a tecer comentários acintosos sobre a figura de Álvaro Cunhal. Quando elas invocam unicamente a predisposição do histórico líder comunista no período do PREC para a abolição dos direitos, liberdades e garantias do povo português, devem elas julgar-se a si próprias sobre o comportamento por que se pautaram no passado, porque muitas delas já eram bem crescidinhas no Antigo Regime, e portanto conheciam a "massa" de que este era feito.
Se há julgamento maniqueísta que pode ser feito com à vontade, certamente que deve ser sobre a posição, a atitude e o comportamento individual exercido durante a mais longa ditadura da história nas sociedades ocidentais.
Aí, Cunhal, tem as costas muito largas, como muitos anónimos neste país. Lutou e combateu incansavelmente um regime predador, como nenhum outro na história deste país, dos tais direitos, liberdades e garantias. Arriscou a vida inúmeras vezes e pagou um preço muito caro durante mais de uma década, em que esteve aprisionado.
Ao invés, a História não reconhece aos Ribeiros e Castros e às Marias Josés Nogueira Pintos, a miníma atitude contestária ao regime fascista português. Se a ele se opuseram alguma vez, fizeram-no sentados de poltrona, certamente...
A análise histórica dos acontecimentos, dos factos ou das pessoas postula uma observação diacrónica e total, para não ferir de morte a legitimidade de quem a produz. Relevar no passado apenas aquilo que mais nos convém, ao sabor das conveniências pessoais, além de intelectualmente desonesto, contraria o velho ditado de atribuir a "César o que é de César". E a Álvaro Cunhal não devem ser colados apenas os aspectos mais justamente criticáveis, mas igualmente o papel ímpar e incontornável para que hoje os indispensáveis direitos, liberdades e garantias, estejam constitucionalmente consignados em Portugal.
Felizmente, a maioria dos portugueses, sendo comunista ou não, reconhece justiça a quem a merece.

quinta-feira, junho 09, 2005

Da ofensa

A condicao de ofendido ja serviu melhor a humanidade. Tempos houve em que se ficava ofendido pela iniquidade de regimes politicos, pelas mas condicoes de trabalho, pelo aumento de impostos, pela privatizacao da seguranca social, pela injustica das guerras , pela permanencia das fomes, pela divisao de herancas familiares, pela honra de alguma dama. Mas hoje nao, ha quem se sinta ofendido por causa dos onze rapazes que correm atras de uma bola. E legitimo. Mas qual e a causa da ofensa, se me permitem ser mais especifico? A agremiacao desportiva que apoio, os rapazes de vermelho que apesar de nao jogarem pevide la ganharam o campeonato, foi acusada neste blogue, entre outras coisas, de corrupcao, trafico de influencias, de conluio com regimes fascistas, branqueamento das politicas do novo governo, roubo de patentes (todas com origem no MIT portugues de Alvalade, onde, alias, tambem se inventou a roda), de ser apoiada pelo povo ignaro e alienado e de ser a vergonha de Portugal (como se o Benfica tivesse por obrigacao representar alguem alem dos seus adeptos e associados). Perante este rol digno dos Julgamentos de Nuremberga, a que falta porventura alguma ligacao a Al-Qaeda, eu apenas afirmei, metaforicamente, que os adeptos do Sporting se parecem com melancias, alias um fruto com o qual simpatizo. Convinhamos que nao e assim tao contundente. Claro que a afirmacao peca por generalizacao. Ha adeptos do Sporting que gostam de futebol, que gostam do futebol da sua equipa e que nao definem a sua identidade social por odiarem o outro. As minhas desculpas a essa minoria.

quarta-feira, junho 08, 2005

Chega!

De psicologia e de escrever neste blog. A partir do momento em que se entra no campo das ofensas pessoais - e eu considero ter sido insultado - não faz mais sentido andar por aqui. Cumprimentos.

terça-feira, junho 07, 2005

A Psicologia da Segunda Circular III

Assim de repente, so me interessa falar do Sporting em relacao a um aspecto : o brilhante futebol que o clube do Leao praticou na ultima epoca. Ora ai esta algo que nao me importava fosse imitado no outro lado da Segunda Circular. Curiosamente, nao ouvi a um sportinguista uma palavra, ou li uma linha de texto, sobre este assunto, que, porventura, por raiva ou ignorancia, devem considerar menor. Nas suas cabecas, que se assemelham a melancias, ostenta-se o verde, mas por dentro so se ve o vermelho. Um caso psiquiatrico a que so posso desejar melhoras rapidas.

A psicologia da Segunda Circular II

Emulação...

Quem decidiu primeiro constituir uma Sociedade Anónima Desportiva para o futebol do seu clube? Quem o imitou?

Quem decidiu primeiro construir um novo estádio, ainda antes de se saber que haveria um Campeonato da Europa em Portugal? Quem o imitou?

Quem decidiu primeiro construir um Centro de Estágio para a equipa principal e para as camadas jovens do seu clube? Quem o imitou? (Esta premissa até está a mais, visto que uma 1ª pedra não pode rivalizar com uma obra já construída e inaugurada há três anos. As minhas desculpas.)

Após onze anos de míngua, quiçá já perdido num recanto obscuro da memória o local onde se comemoravam os títulos, onde se comemorou o título 2004/05? No local de comemoração por excelência do clube rival. Sob o olhar do majestoso leão do Marquês.

Conclusão: Afinal parece não ser tão inimaginável assim que também para os lados do Colombo, se perca até mais do que um minuto em considerações sobre o que se faz do outro lado da rua...

segunda-feira, junho 06, 2005

A psicologia da Segunda Circular

No outro dia, uma apresentadora de radio inglesa anunciava com alguma emocao que uma sondagem sobre a opiniao que os europeus tinham dos franceses indicava que estes eram considerados arrogantes, chauvinistas, malcriados etc, etc. Descendo na escala da sondagem, a locutora passou a enunciar aquilo que os ingleses achavam dos franceses. Os adjectivos tornaram-se mais carregados. De seguida, perguntou a uma representante da embaixada francesa em Londres o que achava da dita sondagem. A senhora, num ingles com sotaque vincado, sorriu, e agradeceu espantada a dedicacao que os ingleses prestavam ao seu povo, garantindo ainda que em Franca era inimaginavel que se perdesse um minuto em consideracoes sobre os ingleses.

sexta-feira, junho 03, 2005

Já à venda... numa loja perto de si.

A colectividade à qual foi entregue o título de campeão nacional de futebol já colocou à venda os equipamentos para a próxima temporada. Estão disponíveis as indumentárias de jogador de campo, guarda-redes, árbitro e fiscal-de-linha. Os dois últimos não têm chuteiras incluídas.

quinta-feira, junho 02, 2005

Dias Mundiais

Desengane-se quem pensou que a proposta de criação do "Dia mundial da criança por nascer", foi a única novidade dada a conhecer pelo CDS-PP, ontem em conferência de imprensa.
Inspirado pelo suplemento satírico "Inimigo Público", este partido pretende implementar doravante a comemoração institucional de mais algumas efemérides, que "se não aconteceram podiam perfeitamente ter acontecido". São elas:
- o dia da vitória da equipa de ciclismo do Sporting, no dia 14 de Abril de 1947, na clássica do ciclismo nacional, Alenquer-Mafra;
- o dia da descoberta de Penicilina, pelos irmãos Correia, residentes no Sabúgal, no dia 19 de Novembro de 1928;
- o dia da derrota das forças malignas comandada por Darth Vader, na Batalha de Melgaço, em 8 de Janeiro de1989;
- e por fim, o dia da fundação do CDS, no dia 19 de Julho de 1974, por Basílio Horta.

quarta-feira, junho 01, 2005

Sô Nicolau

Desde há longos anos é uma aparição nocturna habitual na Estrada Nacional 337/1. Não é um vulto estranho naquele período, pois que a sua actividade profissional exige que ele se faça à estrada durante a noite. Padeiro há muito anos, o Sô Nicolau pedala diariamente, pelas bordas do alcatrão, uns bons quilómetros na sua eterna e inconfundível bicicleta amarela, desde a aldeia de Tondelinha até Viseu, ainda que perigosamente o faça sem iluminação no seu veículo...
É um percurso relativamente sinuoso, com um subida considerável quando se vai em direcção a Viseu, mas quando a força para pedalar esmorece o Sô Nicolau continua sempre, caminhando e levando a bicicleta à mão, à chuva, ao frio ou ao calor. Se há algo que não se pode acusar o Sô Nicolau é de fazer gazeta aos seus compromissos profissionais.
Para sempre marcado por uma doença que em criança o atacou (consta que terá sido a meningite) e que nele deixou sequelas permanentes, o Sô Nicolau precocemente viu morrer o seu pai, ficando a cargo da mãe até à falecimento desta. Com o desaparecimento da progenitora, o Sô Nicolau ficou entregue a si próprio numa época em que o apoio e a assistência médica e material eram um privilégio ao qual a sua condição social não permitia aspirar.
Alguém que acreditou na sua capacidade, não obstante a perda de faculdades mentais que assolou o Sô Nicolau após a doença, empregou-o como padeiro. Até hoje, continua a abraçar a mesma profissão que o ocupa na maior parte do tempo, seja na actividade propriamente dita, seja nos tempos de deslocação para o local de trabalho. O resto do seu tempo é passado em confraternização com os seus conterrâneos e cumprindo rigorosamente dois rituais, que, passe o pleonasmo, são o pão de muitos dos seus dia-a-dias:
Marcar presença em todos os funerais de da freguesia, ainda que o faça, por vezes, com alguns minutos de atraso, que o obrigam a acelerar vertiginosamente a velocidade com que se desloca, proporcionando a execução de manobras na bicicleta somente ao alcance de poucos, cabriolando por entre magotes de pessoas e fazendo rápidos piões para saltar da bicicleta em movimento e assim mais rapidamente chegar à Igreja, e vestir o seu fato domingueiro no respectivo dia.

segunda-feira, maio 30, 2005

Ontem houve uma... dobradinha!

Mas esta não merece parangonas nos periódicos ou abertura de telejornais. O Sporting Clube de Portugal conquistou pela terceira vez consecutiva a Taça de Portugal em Andebol, ao bater o Francisco de Holanda por 27-26, em Tondela. Junta assim a Taça de Portugal ao título de Campeão Nacional conquistado há duas semanas atrás, cimentando o seu palmarés na modalidade.

domingo, maio 29, 2005

Panem et Circenses

Não demorei muito a compreender a função social da encomenda do título nacional ao SLB. Surpreendentemente (ou talvez não) dois telejornais das 20h00m, no dia 23 de Maio abriram com os 6,83% do déficit, em vez de mostrarem a festa dos 14 milhões de adeptos da "instituição", isto de acordo com um estudo recente, rigoroso e científico, onde fiquei a saber que existem 100.000 benfiquistas na Indochina.

O povão está feliz e contente e, por essa razão, Sócrates pode sentir-se à vontade para pedir os maiores sacrifícios às bolsas dos portugueses que não vão dar muito por isso. Afinal de contas, o "enfique" é campeão. Panem et Cirsenses. Nem os Romanos o fariam melhor.

PS - O penalty que dá o 1-0 ao SLB na final do Jamor é mais um para juntar ao rol das "encomendas expresso". No tempo de Salazar ainda se tentava disfarçar um bocadinho... Viva o "enfique"!!

sexta-feira, maio 27, 2005

Cidadania Local

Aqui há uns dias atrás os canteiros situados na rua Visconde de Santarém, junto ao Arco do Cego, em Lisboa, de um dia para o outro transfiguraram-se em termos do seu aspecto. Para alacridade de quem por lá muito perto diariamente se colocava para apanhar os transportes públicos, os canteiros anteriormente inundados de lixo e dejectos de animais transformaram-se, quase por passe de mágica, em espaços relvados e desprovidos de imundice.
Estranhei, mas entranhei positivamente, a súbita alteração da “paisagem”. Desconhecia, contudo, era que a nova cara dos canteiros tivesse contornos que quase se perdiam de antanho...
De acordo com a revista Única do fim de semana passado do jornal Espesso, a transfiguração ocorrida havia já sido solicitada pelos moradores por diversas vezes para ser embandeirada pelos serviços competentes da CM Lisboa. A resposta da Câmara aos apelos populares, todavia, foi um silêncio persistente.
Entretanto, preparava-se para se instalar neste mês um cartório notarial naquele local, e a sua proprietária, assustada com o panorama circundante, seguiu o exemplo dos moradores na busca de uma solução para a limpeza do espaço em redor. Segundo a versão narrada pela jornalista, a CM Lisboa pautou novamente a sua conduta pelo mutismo.
Cansada de silêncios persistentes e arrastados, a proprietária meteu mãos à obra e contratou uma empresa para ajardinar o espaço, empreitada pela qual pagou 2000 euros, a que acresce o preço da rega diária do mesmo que a funcionária do cartório leva a cabo logo pela manhã.
Confrontada pela jornalista com a resolução popular daquele imbróglio paisagístico, a vereadora que detém o pelouro do Urbanismo declarou que a CM de Lisboa encarava a solução adoptada com “tolerância simpatizante”...
Melhor do que a condescência forçada pelas evidências, ficaria melhor à senhora vereadora a interiorização da ideia de que se a paralisia funcional das instituições não fosse tão marcante, certamente as iniciativas populares desviantes da lógica de procedimentos burocrático-formais não tivessem de ser accionadas com tanta acuidade...
Neste caso, para quem conheceu o espaço até há bem pouco tempo e agora relança sobre ele novamente os olhos, só pode concluir que a cidadania local é uma qualidade que a todos deve assistir, é um direito inalienável de sensibilização e pressão sobre as instituições responsáveis pelo zelo e administração dos bens comuns e para terem esmero e rapidez no cumprimento das suas atribuições.

terça-feira, maio 24, 2005

Pequeno filme

Passem por esta pagina www.futebolwebtv.pt , no canto inferior direito, ha um link que nos oferece as imagens do golo de Luisao contra o Sporting. Ha uma primeira imagem num plano alargado, a que se segue uma imagem filmada atras da baliza. Vejam esta imagem e depois ajuizem.

Muito me vou eu rir...

Com o SLB a disputar a próxima Liga dos Campeões. Quando o campeão português - ainda me soa estranho escrever isto - chegar à Europa do futebol e perceber que:

- Mário Mendes, Bruno Paixão, Hélio Santos, António Costa e Paulo Paraty não vão poder apitar nenhum jogo da "instituição";

- Os árbitros europeus escolhidos para os seus jogos não se vão esquecer das suas chuteiras;

- Os adversários irão recusar jogar os seus jogos caseiros no Estádio Faro/Loulé.

Prevejo um score final de seis jogos, seis derrotas e algum Portugal muito envergonhado. Afinal de contas, não deixa de ser sintomático que o campeão português foi já colocado pela Uefa no pote 4 para o sorteio da fase de grupos. O pote das fracotas...

segunda-feira, maio 16, 2005

Da verdade

Pelo futebol jogado o Benfica nao merece ganhar o campeonato, embora nitidamente tenha merecido ganhar o jogo ao Sporting. Quanto a ter sido beneficiado, nao o foi nem mais nem menos do que os outros grandes. Todos os clubes tem o seu naipe de queixas. O do Benfica e extenso, e comeca pelo golo de Petit ao Porto na primeira volta. Alguem se lembra? De recordar ainda que, ate ver, o Benfica nao foi investigado por casos de corrupcao, ao contrario de alguns clubes da primeira-divisao: Porto, Boavista, Leiria, Maritimo. Todos inocentes, claro, ate provado o contrario. Mas da suspeita nao se livram. Se o Benfica for culpado de algo que seja condenado, que desca de divisao ou coisa que o valhe. Nao se pode e estar sempre a justificar os resultados por questoes externas ao jogo.

quinta-feira, maio 12, 2005

Novo Slogan BES

- Olha, preciso de abater 2000 sobreiros.
- Já falaste com o teu banco?
- Não, falei com o teu!

quarta-feira, maio 11, 2005

Quem merece ganhar o campeonato

A reposta mais imediata é ... ninguém. Nenhum dos três grandes realizou uma época regular e sólida. Braga, Boavista, Guimarães, Rio Ave, Marítimo fizeram bons campeonatos mas não o suficiente para alcançarem o título. Descartados os critérios da solidez e da regularidade, o eleito terá que ser encontrado pela forma como o seu futebol serviu, ou não, o jogo. Neste sentido o campeão só pode ser um: o Sporting. É me bastante mais simples tecer loas ao futebol Sporting no sossego londrino, longe da excitação da lagartada. Assim, parece-me evidente que José Peseiro foi a grande conquista do futebol português nesta época. O sistema do Sporting não está ainda afinado e às vezes é ambíguo. No entanto, nos jogos a que pude assistir, a equipa jogou um futebol de pé para pé, onde a troca de bola é o esteio do jogo e a forma de controlar o adversário. O jogador tipo deste futebol está primeiramente preocupado com o controlo da bola, com a recepção, com o olhar rápido, a desmarcação, o passo certeiro, as bases de um jogo colectivo envolvente, que retiram ao adversário a posse de bola. Peseiro apostou em artífices do jogo – Barbosa, Viana, Rochemback, Martins, Moutinho - enquanto outros reduzem os criativos a atletas robotizados. A equipa ainda não é sólida, tem momentos em que não funciona e que podem ser fatais, mas Peseiro resolveu arriscar num futebol positivo e, felizmente para o jogo, tem ganho. Lamentavelmente parece que muitos adeptos, seguindo uma onda verde de ingratidão que atingiu homens como Augusto Inácio, ainda não perceberam isto. Se José António Camacho não for o próximo treinador do Benfica, não me importava que Peseiro o fosse, servindo assim o clube do seu coração.

quinta-feira, maio 05, 2005

Espelho meu, espelho meu

Há um sketch do Gato Fedorento, em que um polícia manda parar o condutor de um veículo automóvel para ele se submeter ao teste da Bazófia, consistindo este teste num indivíduo percorrer uma pequena distância de alguns metros em linha recta. No sketch, assim que começa a andar logo o condutor começa a dar uns passos com uns trejeitos muito peculiares, típicos de um “pintas”, inconfundivelmente gabarolas.
Face a esta evidência, o polícia informa o condutor que não poderá seguir viagem devido a ter acusado elevados valores de Bazófia, sendo que por tal motivo não é aconselhável que prossiga em direcção ao seu destino ao volante de um automóvel naquele estado de jactância.
Vem isto a propósito da conferência de imprensa de José que se seguiu ao Liverpool vs. Chelsea desta semana. Instado a corroborar, ou não, uma pronúncia jornalística dubitativa de José ser um treinador especial, José prontamente ripostou e reafirmou novamente o seu dom exclusivo e inigualável para a orientação técnica de equipas de futebol, verberando depois o jornalista e convidando-o a prosseguir uma carreira profissional tão recheada de conquistas como a que ele possui.
A azia britânica de boa parte do mundo jornalístico contra o emigrante português José é por demais notória e vai sendo cuidadosamente exibida após os filmes em que os mesmos jornalistas mais gostam de ver José actuar, mas se o José depois daquela conferência de imprensa fosse fazer o teste da Bazófia, também ficava de certeza com a carta de condução imediatamente apreendida.

terça-feira, maio 03, 2005

Eleições a nível local

Temos sido brindados cá por casa por uma torrente de folhetos partidários que apela ao voto para os órgãos locais. Os Liberais-Democratas venceram as últimas eleições e são o único partido dos grandes que ainda não nos veio bater à porta. O Partido Trabalhista tem sido o mais esforçado. A sua candidata, a anafada Kirsty McNeil, enverga o mesmo sorriso forçado em todos os folhetos do partido. O seu slogan é claro: Lib-Dems soft on crime. O Partido Trabalhista, transformado numa espécie de Partido Justiçeiro, acusa os actuais autarcas no poder de, entre outras coisas, se terem oposto a leis contra o comportamento anti-social, de permitirem que jovens com 16 anos possam comprar revistas pornográficas e álcool, de se oporem a leis anti-grafiti, de não atribuírem penas de prisão por posse de droga, de não concordarem que se enviem criminosos adolescentes para a prisão, etc. A campanha do Labour é pouco mais do que isto. Perante este cenário de guerra, David Branch, o jovem candidato do Partido Conservador, não tem muito espaço para brilhar. Claro que ainda consegue juntar à lista do Labour mais algumas farpas contra a política laxista dos Liberais-Democratas: que poupam da prisão os ladrões que assaltam pela primeira vez, que introduzem educação sexual compulsória para crianças de sete anos, que querem retirar da Grã-Bretanha, para oferecer à Europa, os mecanismos de controlo da emigração, etc. Uns malvados estes Liberais-Democratas. David Branch, que aparece nos folhetos de camisa branca imaculada ao lado do facho que simboliza o seu partido, defende ainda a “livre iniciativa”, a “ambição e a coragem”, mostrando-se contra a intrusão do Estado no quotidiano dos cidadãos, com a excepção, claro, dos 40 000 polícias que os Conservadores querem atirar para as ruas do país. Restam os folhetos dos partidos mais pequenos. A Aliança dos Povos Cristãos aposta em Simi Lawanson, africana, mulher da comunidade. O movimento ganha na questão estética. O folheto transforma-se em poster onde está representada uma árvore onde estão inscritos os valores do movimento. No chão, jazem algumas maçãs podres: a guerra, as mentiras, os impostos altos, a ganância. Por detrás da árvore o cenário é idílico, um rio, umas montanhas, o sol, um céu azul pontuado por algumas nuvens. O desenho é tão simples que podia ter sido eu fazê-lo. Claro que teria que acrescentar aqui a ali, umas vacas, e quem sabe uns peixes no rio e uma montanha com um alpinista que podia ser o João Garcia. Os cristãos têm a vantagem de afirmar que acham que há uma profunda relação entre o crime, o abuso de drogas, o absentismo escolar e o desemprego. São ainda contra a guerra e a pobreza. Mas claro, na onda do bom moralismo britânico, criticam os Lib-Dems pelas suas políticas a favor da legalização da prostituição, da legalização de drogas, da abertura de sex-shops e outras artimanhas do demo. Apesar de tudo podia ser pior. Por fim os Verdes. Storm Poorun é o candidato Verde. Jovem, cabelo comprido, colar de missangas ao peito, está algures entre o jogador de futebol da segunda divisão B e o jovem executivo. Os Verdes apresentam um folheto repleto de fotografias de pradarias, do mar, de searas, maçãs e outros motivos típicos dum espaço urbano como este onde vivemos. As suas políticas são boas, embora relativamente ambiciosas. Depois de afirmar que o seu partido é a verdadeira alternativa ao capitalismo, Storm defende a construção de vias para bicicletas entre outras políticas de esquerda. Apenas os Verdes se escusam à ganga moralista o que os torna relativamente mais suportáveis.

sexta-feira, abril 29, 2005

A terra das oportunidades

O velho Edward Shills lá dizia que as sociedades mais justas não eram aquelas efectivamente mais justas mas as que conseguiam passar com maior eficácia a ideia de que o eram. Neste sentido, segundo ele, os Estados Unidos era a sociedade menos desigual porque conseguiu criar a crença generalizada de que era possível vencer. Esta crença é conhecida pelo sonho americano e faz parte de qualquer agenda ideológica liberal e neo-liberal. Um estudo sobre mobilidade social em países ocidentais publicado pela London School of Economics indica que os Estados Unidos, seguido pela Inglaterra, é o país ocidental em que a mobilidade social é mais baixa. Os investigadores dizem mesmo que nos Estados Unidos a mobilidade é quase estática. Sugerem ainda que o sistema de educação é o grande instrumento de manutenção das desigualdades, já que, como canal fundamental de mobilidade, pune aqueles económica e culturalmente mais fracos, protegendo os mais fortes. Isto é, citando um clássico da sociologia, o sistema de ensino actua como um instrumento de reprodução da estrutura social. Não surpreendentemente são os países que ainda mantêm serviços públicos relativamente fortes que apresentam taxas de mobilidade mais altas: Noruega, Suécia, Dinamarca e Canadá.

terça-feira, abril 26, 2005

Fórmula 1

Porventura devido ao entusiasmo criado pela adesão recente às corridas de Karts, consegui visionar este fim de semana, mais de 10 anos depois, uma corrida de Fórmula 1, do princípio ao fim.
Desde os tempos em que Senna e Prost finalizaram os confrontos nos circuitos, que os grandes prémios foram perdendo para mim boa parte do encanto a que até então tinham estado associados.
Com a memória pessoal esticando-se ao início da década de oitenta, quando pontificavam o louco finlandês, Keke Rosberg, o falecido Gilles Villeneuve, Patrick Tambay, Nelson Piquet, Andrea de Cesaris, Michele Alboreto, Nigel Mansel, Thierry Boutsen, além dos citados Senna e Prost, ao volante de Ferraris, Mc Larens e do meu carro preferido, o Lotus, patrocinado pela John Players Special, em todas as quinzenas aquelas duas horas de Grande Prémio em frente do televisor eram praticamente sagradas.
Eram tempos em que as garantias de segurança que os carros ofereciam primavam por uma certa precaridade, fazendo os pilotos do risco e da audácia constantes consortes traiçoeiros da integridade física.
Mudaram os tempos, apareceram novos pilotos, novos circuitos, novas regras de segurança, e o entusiasmo refreou-se. Os laços afectivos com os ídolos de sempre extinguiram-se com o seu desaparecimento, os palcos de aceleração situavam-se nos mais insuspeitos e indiferentes locais (Malásia, Bahrein, Turquia), enquanto que outros eram apagados do mapa (Estoril), novas regras de segurança diluíram a margem de erro dos pilotos, e, sobretudo, surgiu Schumacher.
Tornado por mérito próprio a maior figura da disciplina automobilística, cerceou toda a concorrência durante anos a fio e provocou com a sua indesmentível superioridade o bocejo permanente sobre a incerteza quanto ao vencedor.
Até que este ano, ao que parece, a F1 volta novamente às grandes emoções, graças a um piloto espanhol, Alonso, que neste G.P de San Marino susteve o primeiro lugar acossado ininterruptamente pela maior lenda vida da F1, Schumacher, durante as últimas 15 voltas. Sem vacilar, sem se desconcentrar um centésimo, ganhou a corrida e fez com que os comentadores televisivos dissessem que há muito que não se via uma corrida assim.
Depois de tantos anos de afastamento, acho que escolhi o dia certo para ver novamente um Grande Prémio.

domingo, abril 24, 2005

Do livro e da venda

Ando a perguntar-me por que raio as pessoas se desfazem de livros. Por necessidade primária, claro. É preciso dinheiro, e toca a vender os pertences. E como as casas portuguesas estão cheias de livros e por aí que se começa. É no que dá a abundância. Mas há quem os ache um estorvo, como os jornais, desarrumam a casa, uma chatice. É no entanto evidente que uma casa fica bem desarrumada com livros e outras papeladas. É lindíssimo, a livralhada junta a combater as perseverantes mentalidades domésticas. As casas são pequenas, dirão alguns com razão. É certo, mas enquanto houver espaço para o serviço de casamento deixado pela bisavó, os inenarráveis bibelots da tia, a colecção de revistas Motor do pai, o enxoval da madrinha, os bares ao canto da sala, o cão de loiça e o urso de peluche do Benfica, haverá também lugar para os livros. E se quiserem comerciar, já que o país está carente de empreendedores, deixem os livros para penúltimo lugar, antes, naturalmente, de se livrarem do urso do Benfica - que aliás só deve ser alienado em caso de catástrofe nuclear, e mesmo assim só depois de vendermos a avó em leasing para a apanha do tomate na Estremadura espanhola. Já agora, em vez de venderem livros, podiam oferecê-los, ou deixá-los num café ou num banco de jardim, era mais fofo.

sexta-feira, abril 22, 2005

Prémio Carreira

Não sabia que também havia disto no Vaticano!

Bento 16 e o Patriarcalismo

Na matéria que se reporta à eleição do novo Papa, e independentemente da mais ou menos vetusta ambição do Papa Bento 16, este é reconhecido como tendo sido mais o mais influente mentor da doutrina perfilhada pelo papado anterior, aquele que morigerava as posições morais da Igreja Católica a respeito de diversos temas “fracturantes” das sociedades contemporâneas.
Não sendo portanto surpreendente a sua nomeação, considero que é mais honesto que a figura ideológica dominante do Vaticano há longos anos, saia finalmente dos bastidores e dê a cara no papel de principal actor do Vaticano.
Dos diversos temas controversos sobre os quais tomou conhecidas posições no passado , gostaria de opinar sobre uma questão que penso ser particularmente sintomática de um desfasamento obstinado da realidade social, adoptado pelas elites católicas dominantes, incluindo Ratzinger, ou seja, o patriarcalismo, enquanto sistema caracterizado pela autoridade, imposta institucionalmente, do homem sobre mulher e filhos no âmbito familiar, e que se enraiza na estrutura familiar e na reprodução socio-biológica da espécie.
A frontal e veemente oposição à ordenação das mulheres para as funções sacerdotais, que tem sido transmitida nas prédicas de Ratzinger, denota uma clara resistência às reivindicações para a concessão de um estatuto de igualdade às mulheres no seio da Igreja Católica.
Estas reivindicações cobrem-se de antanho mas acentuaram-se nas últimas décadas em paridade com um conjunto simultâneo de transformações sociais, tecnológicas e culturais que vão desde;
- o aumento da autonomia reprodutiva feminina através dos avanços tecnológicos na medicina reprodutiva e na farmacologia;
- o surgimento de uma grande variedade de estruturas domésticas, visíveis através da proliferação de lares de solteiros e habitados por apenas um dos pais;
- a crescente taxa de divórcios, que por sua vez se associa a outras tendências importantes: o adiamento da formação de casais e a formação de relacionamentos sem casamento.
- a incorporação massiva das mulheres no mercado de trabalho remunerado, traduzida quase sempre numa contribuição financeira decisiva para o orçamento doméstico;
- por fim, relacionado com os factores acima invocados, o aumento da influência social, política e cultural dos diversos movimentos feministas numa economia informacional global. Tais movimentos, não obstante a diversidade de objectivos e adversários, perfilam uma ideia comum: a abolição do patriarcalismo.
Negar estas evidências, enterrando a cabeça na areia, ou fazer de conta de que elas ocorrem numa qualquer superestrutura metafísica erigida por indívíduos que se inserem uma faixa populacional numericamente muito restrita, e portanto irrelevante, é um sintoma de intenso atavismo de que a Igreja Católica se faz valer publicamente e que prenuncia mais um afastamento incompreensível a medio prazo da comunidade de crentes.

quinta-feira, abril 21, 2005

Ecos de Weimar

A emigração tornou-se, por iniciativa do partido conservador, o grande tema das próximas eleições inglesas do dia 5 de Maio. A táctica é a do medo e da ignorância e o resultado é o incremento do racismo. Os conservadores, que utilizam a emigração porque perderam o centro político para Blair, subiram nas sondagens e estão perto dos trabalhistas. A utilização do fantasma da emigração é uma estratégia sem qualquer suporte factual, já que todos os números provam que o número de emigrantes a entrar em Inglaterra nos últimos anos tem vindo a decrescer. O país goza de uma considerável saúde financeira e o desemprego, apesar de recentes casos com o da Rover, mantém-se baixo e estável. É precisamente devido a este cenário que a eficácia da táctica do medo se torna mais impressionante. Imaginemos então uma situação de crise do sistema capitalista semelhante à que ocorreu em 1929, falências, inflação, aumento do desemprego. Em que é que se transformará esta retórica primária?

sexta-feira, abril 15, 2005

Aeroporto II

Chegada a Londres e uns senhores fardados revistavam malas no aeroporto, seleccionando as pessoas através de um mais que evidente critério étnico. O meu castanho semi-escuro devia estar na fronteira do suspeito e não me safei. A revista foi acompanhada com um inquérito mal disposto que se foi suavizando depois do senhor perceber que eu era estudante. Ainda pensei adoptar uma postura à Mourinho, mas fui interrompido pela curiosidade do caucasiano nos dois pães alentejanos que transportei para a ilha. Olhou, rodou-os e passou-os por aquela máquina que tira radiografias a malas e outras bagagens. Nenhuma arma de destruição maciça. De certa forma achei aquilo um elogio ao Alentejo e ao padeiro que os confeccionou, que o zeloso guarda inglês quis promover a membro da célula da Al-Qaeda na Amareleja. Mas há que ser compreensivo, o pobre homem come pão-de-forma desde que nasceu e isso não é saudável.

Aeroporto I

Os aeroportos estão em rápido processo de democratização. Claro que nem todos os portugueses viajam por avião, mas é evidente que muitos que não o faziam, fazem-no agora, tornando mais interclassista o espaço do aeroporto. Para isto terão contribuído decisivamente as viagens para a América do Sul e Caraíbas. Brasileiros e Caribenhos recebem os portugueses como nós recebemos no Algarve grupos de classes baixas e médias baixas provenientes da Inglaterra e da Alemanha. Para estes novos turistas portugueses, o Brasil dos resorts onde pululam palmeiras e lagostas são uma espécie de sonho de vida em saldo. Nestes espaços fabricados para turistas, protegidos do mundo perigoso dos “indígenas” e das suas vidas reais, ensaia-se uma vida de luxo que nunca se teve, gerida cuidadosamente pelas agências de viagem e pelos fabricantes do “very typical”. O bronze é capitalizado depois no regresso à pátria, durante o abusivo horário de trabalho e nas filas de trânsito.

terça-feira, abril 12, 2005

Jardim de Infância de Moselos

O Jardim de Infância de Moselos, uma aldeia do concelho de Viseu, deu ontem início a uma feira onde estão à venda artigos feitos pelas crianças daquele estabelecimento e recolhidos junto dos encarregados de educação.
O objectivo da feira consiste em angariar fundos para a aquisição de material didáctico, como jogos e livros e, eventualmente, um computador para o estabelecimento, já que, segundo a organizadora da iniciativa, “os apoios que vêem do Ministério da Educação não dão para quase nada”.
O Ministério da Educação, a quem compete a tutela pedagógica da instituição, devia, certamente, conhecer o perfil social da maioria das crianças que frequentam aquele estabelecimento de educação e as carências por que passam grande parte das famílias daquelas 49 crianças em termos de bens culturais que possam colocar ao dispor das aprendizagens e do desenvolvimento daquelas crianças desde tenra idade, à semelhança do que acontece com aquelas que nascem em lares economicamente mais bafejados.
Seria de elementar justiça num Estado que se quer redistribuidor de riquezas e oportunidades, que crianças tão novas não tivessem que estar envolvidas tão precocemente em estratégias mercantilistas para a dotação material do estabelecimento pré-escolar que frequentam e assim poderem usufruir de actividades educativas na justa medida de igualdade com as demais.
Se o grau de desenvolvimento civilizacional de um país se deve também medir pela existência de um rede tendencialmente gratuita de estabelecimentos de educação pré-escolar, territorialmente abrangente e financeiramente bem dotada, o exemplo que o jardim de infância de Moselos corporiza por estes dias não será propriamente o melhor indicador a este respeito.

terça-feira, abril 05, 2005

Shares

Para azar dos azares o Papa João Paulo II morreu à hora do Boavista-Sporting que iria ser transmitido em directo na TVI. A antiga televisão da igreja enfrentou o dilema e decidiu-se pelo futebol. No intervalo do jogo, quem esperasse alguma notícia sobre o Papa, para além dos infindáveis rodapés, ficou desapontado, já que tivemos 15 minutinhos de anúncios. Pois é. O share da TVI foi de 42,5%. Nada mau, para um país católico. Já ontem, a RTP, adiou um grande programa de informação sobre segunrança já que a Fátima Campos Ferreira estava no Vaticano a fazer reportagem. As reportagens que têm sido feitas do Vaticano, especialmente as que implicam entrevistas de rua, estão bastante próximas do ridículo absoluto. Toda a gente gostava do Papa, mas ninguém consegue explicar porquê, além claro, de referirem que o Papa era um homem muito bom e defendia os pobres. Claro que ninguém pergunta como é que o senhor defendia os pobres. A fé é uma crença, e se os católicos gostam de criar deuses na terra estão no seu direito. Parece claro, porém, que deviam estudar um pouco a história da Igreja e o modo como, em grande parte, a mensagem e a acção cristãs têm sido subvertidas. João Paulo II, instrumento do cardeal Ratzinger, o homem que controla realmente na Igreja, foi o Papa da contra-reforma, que pôs em causa os avanços conseguidos pelo Concílio Vaticano Segundo, que perseguiu católicos como os seguidores da Teologia da Libertação, que, em termos sociais, pugnou por um conservadorismo reaccionário, que condenava o capitalismo mas ao mesmo tempo favorecia a Opus Dei, braço económico da Igreja. Que o próximo Papa seja melhor do que o último.

segunda-feira, abril 04, 2005

Público on-line pago

Na senda do que alguns media escritos já tinham também feito o site do jornal Público passou a disponibilizar, a partir de hoje, os conteúdos da Edição Impressa on-line somente aos seus assinantes.
Continuo a achar muito discutível que as publicações que optam pelo condicionamento monetário da informação on-line retirem daí proveitos, actuais e futuros, significativos.
Desde logo, porque a lógica de fechar a sete chaves a informação vai completamente ao arrepio da cultura primordial da tecnologia de informação que é a Internet, ou seja, a cultura da livre distribuição e partilha da informação, como forma de democratizar o seu acesso. E porque essa continua ser a cultura dominante, a batalha pela elitização dos acessos não será facilmente vencida, principalmente quando à excepção dos artigos de opinião, todos os outros temas dos jornais são alvo de tratamento noticioso por parte de uma miríade de media e publicações on-line, nacionais e internacionais, isentos de assinaturas.
Depois, porque concentrando-se os adoptantes principais da prática da Internet nas faixas mais jovens, restringir o acesso aos conteúdos virtuais do jornal não será concerteza a melhor forma de atrair e cativar futuros leitores para o jornal.
Por outro lado, para quem não aderir à assinatura, será expectável um menor tempo de permanência no site, logo também um menor tempo de exposição a mensagens publicitárias, sendo portanto provável que ocorra um abaixamento do preço que as marcas pagam pela publicidade, dando azo ao famoso mecanismo de auto-regulação de mercado, tão prezado pelo Director do Público.
Ainda neste capítulo, os efeitos da diminuição de acessos e do menor tempo de permanência on-line não se farão sentir simplesmente na publicidade externa. Também o impacto da publicidade interna acerca da imensa panóplia de publicações apêndice que os próprios jornais de há algum tempo a esta parte tem vindo a aderir, e que segundo consta, são responsáveis por uma fatia considerável das receitas dos mesmos, será reduzido.
É por isso que para o apuramento final do saldo desta opção não bastará somar os créditos das assinaturas conseguidas. Terá que haver uma contabilidade bem mais abrangente.

sexta-feira, abril 01, 2005

Afinal temos um bom ministro

Alguns tiques de certas cliques portuguesas cintilam na crónica que Prado Coelho assina hoje no Público. Homem de cultura, Prado Coelho avalia o mundo e os indivíduos pela posse de competências culturais, situadas, está bem de ver, no mundo da arte dominante. Assim, Manuel Pinho, Ministro da Economia, porque é coleccionador de arte, alcançou o zénite da escala prado-coelhana. Cavaco, por seu turno, trocando Thomas Mann por Tomas Morus, e não sabendo quantos cantos tinham os Lusíadas - escândalo nacional - já não servia, por esses factos, para primeiro-ministro. Se são bons ou maus economistas, se partilham modelos de intervenção ou têm pensamentos diferentes, não interessa. A casaca cultural é que avalia os seus méritos. Talvez não fosse mau que estas metralhadoras de referências artísticas, para equilibrar, demonstrassem conhecimento noutras áreas socialmente menos charmosas: um pouco de física, umas noções de química, concepções básicas de engenharia, matemática, e talvez mesmo algum saber prático, em marcenaria, agronomia e metalúrgica. Mas não, continuamos a fazer loas à aparente excelência do nosso provincianismo.

quarta-feira, março 30, 2005

Demasiado Humano

O Cardeal Patriarca anda preocupado com as interpretações demasiado humanas da vida de Jesus Cristo. Para a igreja, Cristo vale enquanto símbolo do divino cuja verdade exemplar vence por estar acima do Homem, por inspirar reverência e mesmo um certo temor. Ora isto não interessa ao menino Jesus. É precisamente pelo lado humano que o exemplo de Cristo pode ter algum valor, não pelas histórias da carochinha que explicam o real pelo metafísico. Se a Igreja tivesse mais preocupações com o humano da vida, poupava-nos à exibição cruel da via sacra a que o seu líder é sujeito diariamente. Mas para a Igreja, e também para os activistas anti-aborto, a vida não é mais que um acto mecânico de inspiração divina: o período entre a concepção e a morte já não interessa para nada.

Greenpeace vs Vicaima

A acção que ontem a Greenpeace liderou junto da empresa Vicaima, alertando para a necessidade de combater o comércio ilegal resultante do abate destrutivo de espécies arbóreas na Amazónia brasileira, e que esteve na origem da “libertação de energia braçal” por parte do sénior que administra a empresa contra o operador de câmara da SIC, descarga essa que os complacentes agentes da GNR declararam não terem presenciado “em flagrante” - depois do episódio Avelino Ferreira Torres, alguns elementos da GNR, pelos vistos, continuam a gostar de fazer figuras reverentes e tristes para Portugal ver..., insere-se no “modus operandi” habitual deste movimento ambientalista, ao qual o temperamental administrador da Vicaima, não só em sentido estrito, mas também simbólico, deu um valente empurrão para o sucesso da operação.
Esse “modus operandi” dos “guerreiros do arco-íris” da Greenpeace deriva do seu perfil altamente distintivo como movimento ambientalista.
A partir da identificação das principais questões através de informações e técnicas de investigação em todo o planeta, da organização de campanhas específicas em torno de metas palpáveis, o movimento ambientalista internacional leva ao conhecimento do grande público uma determinada questão, através de acções espectaculares com o fito de atrair a atenção dos media, visando forçar empresas, governos ou instituições a tomarem medidas credíveis ou então a terem de enfrentar uma futura publicidade negativa.
Soubesse tal o bravio administrador da Vicaima, - um exemplo de que nem sempre a idade traz sapiência nem juízo - e a acção contestatária poderia ter-se desenrolado com bastante mais urbanidade.

segunda-feira, março 28, 2005

O PS e as Presidenciais

Ao anunciar solicitamente o apoio do Governo Português para a nomeação de Guterres para o cargo de alto comissário da ONU para os refugiados, Sócrates conjuga duas intenções de natureza distinta: uma dum plano mais idealista (o apoio e a solidariedade ao ex-líder), outra dum plano pragmático (a machadada final ao anteriormente dado como adquirido pelo partido).
Essas duas intenções ambivalentes resultam do imbróglio que a maioria dos dirigentes do PS, incluindo o próprio Sócrates, criou com a vetusta litania de que Guterres seria o candidato natural e mais adequado à Presidência da República por parte do PS.
Alertado para as dificuldades praticamente insolúveis da imposição popular da candidatura de Guterres, não tanto na área de influência política do PS, mas no espectro partidário mais vasto de esquerda, das quais o próprio Guterres também tem noção, ao adiar quase ad eternum uma pronúncia pessoal a confirmar ou refutar a candidatura, e consciente de que para enfrentar Cavaco o partido terá que apresentar um candidato que acolha opiniões mais favoráveis do eleitores do PCP e do Bloco, pois que estes poderão ser decisivos na refrega presidencial, Sócrates, com a publicitação deste apoio, subtilmente manifestou já a sua pretensão de revogar a preferência inicial.
Com Guterres atirado para fora de jogo ainda no período de aquecimento por falta de atributos eleitorais, quem avançar pelo PS, para além dos votos dos eleitores do PS, terá de ser um candidato que congregue uma forte adesão de todo o espectro partidário de esquerda e que não provoque uma fragmentação excessiva do voto dos eleitores que com a mesma se identificam.
Nesta altura, a única personalidade que pode aspirar a tal chama-se Ferro Rodrigues.

terça-feira, março 22, 2005

Lisboa para os lisboetas?

Mandar os emigrantes e os negros - mesmo os que já têm passaporte português - para a terra deles é quase tão estúpido como dizer que Lisboa deve ser para os lisboetas.
Imaginem a lógica: não é admissível que existam lisboetas desempregados em Lisboa quando há pessoas de outros regiões do país a ocuparem o seu lugar. Vão para a vossa terra e para a vossa cultura, voltem para a terra dos vossos pais, voltem para as Beiras, para o Alentejo, para a Madeira, para o Norte, para o Minho, para Trás-os-Montes, vão e deixem Lisboa para os lisboetas. Rua. Pirem-se da capital.

Amadora

A Amadora passa neste momento por ser o concelho mais perigoso do país onde em cada esquina há um criminoso, normalmente emigrante, negro ou cigano. Estou para saber se as estatísticas confirmam o que os media nos têm dito nos últimos dias.
Era bom, no entanto, que os media e a população portuguesa se preocupassem com outros crimes e criminosos.
Notariam, então, que em sítios resguardados dos meliantes mencionados em cima, onde não há velhinhas assaltadas por esticão, e se vive numa paz de classe média, muitas vezes protegida pela cancela do condomínio fechado, existem cidadãos brancos e portugueses, com frota automóvel vasta, casas na praia e no campo, carteira de acções recheada, quiçá mesmo um helicopterozinho ou um barquito de recreio, que declaram às Finanças o bom do ordenado mínimo. A estes não podemos nós mandá-los para a terra deles.

A emigração outra vez

O cozinhado é conhecido. De forma um pouco simplista sabemos que o desemprego gera criminalidade e que os emigrantes são responsabilizados pelas duas coisas. O arrepiante nisto tudo é que o discurso racista anti-emigrante não vem de cima, da superestrutura política. Em Portugal, mesmo os partidos mais à direita não se aproximam do tipo de discurso que ouço diariamente em Inglaterra. O problema vem de baixo, tem origem na ignorância e começa a ser alimentado, por alguns jornais populares. É fácil culpar o emigrante, produzir generalizações idiotas, tomar o indivíduo pelo grupo, não compreender que os emigrantes, na sua grande parte, são explorados e não exploradores.
Alguém devia procurar explicar aos portugueses que foram e são eles, sobretudo os que estão perto do poder económico, político e cultural, os responsáveis pelo país que temos. Em suma, Portugal não peca por excesso de emigrantes, mas tem com certeza alguns portugueses a mais.

quinta-feira, março 17, 2005

Lubbock

Lubbock é uma cidade do Texas que detém o recorde de igrejas por m2 nos EUA. Para além das igrejas, há também um dos maiores centros comerciais do país e um campo de mini-golfe. Quanto a equipamentos aptos para proporcionarem momentos colectivos, fica-se por aqui.
Foi alvo de destaque do Odisseia pelo apelo que as três instituições mais importantes da comunidade (família, igreja e escola) têm vindo a fazer desde há algum tempo sobre os jovens para a abstinência sexual até ao casamento.
Os pais incitam e confiam na carestia dos rebentos até ao altar, pois só assim os futuros esposos e esposas dos seus filhos lhes agradecerão a dádiva que os castos filhos lhes irão proporcionar na noite do casamento (a assinatura conjunta de pais e filhos de um contrato-promessa, sob patrocínio do senhor padre que atesta esta manifestação de vontade, reforça-lhes a crença).
A igreja doutrina os adolescentes para o valor supremo da abstinência sexual, incorporado e valorizado pelos ensinamentos bíblicos, sob a pena de em cima deles cair uma maldição que os condene para toda a eternidade ao limbo. Para isso oferece-lhes sessões de evangelização tendo em vista a rectidão moral das condutas que estes devem adoptar. O auge atinge-se quando o pregador apresenta aos adolescentes o exemplo da escova de dentes. Tal como a escova de dentes, que não deve ser partilhada porque não se sabe quem a usou, quantas vezes e onde, a experiência sexual deve restringir-se ao cônjuge.
A escola transmite aos jovens o nome das doenças sexuais mais vulgares, dá-lhes a conhecer quais as consequências que para eles advirão se não adoptarem uma conduta abstémia. Quanto à “educação sexual” o limite é este. Os jovens locais mais afoitos chamam-lhe “fear education”.
Os jovens esforçam-se por contrariar os impulsos, arranjam estratagemas para sublimar os apetites, como os concertos de “rock cristão” todas as sextas-feiras no auditório, mas as hormonas ditam leis e os jovens lá acabam por prevaricar...
Com isso dão origem a interessantes fenómenos, não do Entroncamento, mas de Lubbock. Os mais vulgares chamam-se “Virgens Técnicas” e “Virgens Espirituais” (este último é o meu preferido).
A acompanhar estas designações campeãs da originalidade que utilizam para se definir, os adolescentes de Lubbock ocupam também um lugar cimeiro nas estatísticas americanas de dois indicadores: a percentagem de gravidezes juvenis e de doenças sexualmente transmissíveis em menores de idade.
A comunidade de Lubbock não consegue perceber estes indicadores com o afã que põe na pureza e na castidade sexual. Realmente, vá lá imaginar-se como é que as estatísticas revelam aqueles indicadores...

quarta-feira, março 16, 2005

Entre artes

Gosto desta troca de ideias entre poetas e jogadores de futebol. Simão também devia opiniar sobre a poesia de Alegre. Quem sabe se a moda pega e ainda temos o Jorge Costa a escrever prefácios para o Herberto Helder.

segunda-feira, março 14, 2005

CAF

Assistir na “Superior” a um jogo local do Académico de Viseu, ainda hoje, permite uma experiência de regresso ao passado. Revêem-se muitas caras de antanho e reconhecem-se bastantes palavras de ordem de apoio à equipa de um público fiel, cujo perfil social, essencialmente, se enquadra em classes sociais mais desfavorecidas em termos económicos.
Para além dos afectos que os ligam ao clube há décadas, outros motivos conduzem à sua presença quinzenal no Estádio do Fontelo. A possibilidade de accionarem mecanismos de catarse das rotinas de um dia-dia envolvido em tarefas profissionais desgastantes e mal remuneradas e o encontro e convívio com os amigos de longa data, são razões a não menosprezar na “romaria” que empreendem duas vezes por mês ao Estádio.
Ontem, com o cartaz a colocar frente a frente Académico de Viseu e Sanjoanense, lá estavam eles quase todos juntos na mesma bancada. Chegando aos pares, dão facilmente conta dos comparsas no locais que têm para si cativos desde longa data. Depois dos cumprimentos iniciais, a conversa começa por girar em torno das competições futebolistas do principal escalão e à alusão aos deslizes dos “grandes”. Ontem foi dia de um simpatizante benfiquista andar a distribuir bolachas Maria da fábrica Nacional aos parceiros portistas. O mais famoso simpatizante local do FCP, o Barba Ruiva, lá as aceitou, não sem antes indagar junto do adepto benfiquista se o adversário que iria competir com o Benfica na jornada europeia da próxima semana se confirmava ser o Carvalhais.
Iniciado o jogo, logo um dos clássicos adeptos academistas, de pilhinhas ao ouvido, desceu dos degraus de topo da bancada para se situar mais próximo do relvado e assim fazer chegar ao árbitro aquilo que tinha para lhe dizer sempre que a ocasião a tal obrigava. Finda a pronúncia, invariavelmente virava-se para os amigos que haviam ficado no topo da bancada e esboçava um sorriso trocista, tentando medir e avaliar junto deles a qualidade do impropério debitado ao árbitro. A esposa, essa, optou por continuar no cimo da bancada a fazer o seu crochet.
Ao mesmo tempo, outro fervoroso adepto local mantinha a tradição pessoal de bradar um sonoro “Acadéééémico”, qual grito de alerta, no instante imediato ao esférico invadir o meio-campo defensivo da equipa local.
Ao intervalo, o espectador que estava ao meu lado, e que durante a primeira parte até tinha elogiado a isenção da equipa de arbitragem, ouvia os comentários dos jornalistas de uma das rádios locais que cobria o jogo. Dizia o jornalista que o árbitro estava a apitar por tudo e por nada e assim estava a quebrar o ritmo de jogo da partida.
No reinicio da partida, à primeira infracção assinalada pelo árbitro logo o meu vizinho opinava para os demais adeptos que o árbitro estava sempre a apitar por tudo e por nada. À segunda infracção, uma falta à entrada da área da Sanjoanense a beneficiar o infractor, pois tinha inviabilizado que o avançado da equipa local ficasse isolado perante o guarda-redes, de pronto fez ecoar para o árbitro de que teria sido melhor para todos que o juiz de campo tivesse seguido a profissão de maquinista da CP se tanto adorava apitar. Acaso dos acasos, a marcação certeira do livre proporciou o segundo golo da tarde ao Académico, o que levou a que o citado adepto tivesse considerado que a decisão do árbitro talvez não tivesse sido tão infeliz quanto isso...
Até ao fim do jogo, com o jogo claramente dominado pela equipa da casa e com o marcador favorável, os adeptos locais ainda discutiram a pretensão do novo Governo de autorizar a venda de medicamentos não sujeitos a receita médica fora das farmácias, a indigitação de Freitas do Amaral para MNE e as próximas eleições autárquicas...